Dias de Cachorro Louco

Dias de Cachorro Louco Edney Silvestre




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Henrique Fendrich 04/09/2019

Edney Silvestre e suas crônicas de Nova York
Antes mesmo do Jornal Hoje ter um quadro com este nome, Edney Silvestre já fazia o que se pode chamar de “Crônicas de Nova York”. Morava há alguns poucos anos em Manhattan quando recebeu um convite do O Globo para se tornar colaborador. O ano era 1991, tempo ainda de Collor no Brasil, e de um World Trade Center ainda intocável em Nova York, a ponto de aparecer junto com Silvestre na contra-capa de sua coletânea “Dias de cachorro louco – Trinta histórias de Nova York”.

É sabido que nem a alardeada globalização tem sido capaz de vencer a maioria dos nossos estereótipos culturais. Textos de cronistas brasileiros que vivem no exterior ajudam a manter um tipo de diálogo que, ao mesmo tempo em que desperta a nossa curiosidade, tende a diminuir certas distorções no modo como enxergamos cidades, países e culturas diversas da nossa. E as crônicas de Edney facilitam a visão de alguns aspectos não apenas de Nova Tork, mas da cultura norte-americana.

Quantos imaginariam, por exemplo, que a simples ida à lavanderia em Nova York fosse praticamente um happening, um lugar para conversar, e principalmente para paquerar, um lugar onde se pode fazer um bom lanche e eventualmente até mesmo lavar as roupas? Da mesma forma, quantos brasileiros conhecem a especial refeição de domingo dos americanos chamada Sunday Brunch? E como é uma praia americana? A neve é realmente tão desejável assim quando se tem que conviver com ela?

São questões abordadas diretamente por Silvestre, que destaca ainda as pontuais mudanças de comportamento do nova-yorkino de acordo com as estações e suas respectivas temperaturas, a avalanche dos catálogos de consumo, a grande oferta de invencionices tecnológicas, e ao mesmo tempo as verdadeiras riquezas oferecidas a preço de banana em grande parte das lojas locais.

Como sempre, também acontecem os choques do outro lado, como quando Silvestre levou um amigo holandês para comer feijoada em um restaurante brasileiro. O cronista também não deixou de observar a imensa quantidade de encomendas buscadas pelos brasileiros quando vão a Nova York.

Mesmo com os méritos e os bons momentos deste diálogo cultural, o livro de Silvestre não deslancha, seja pela excessiva quantidade de referências locais (ficamos sabendo, por exemplo, os andares em que se encontram todos os banheiros das lojas de departamento de Nova York, além dos endereços de todas as estrelas que moram na cidade, conforme um guia local) ou pela própria construção da narrativa, a escolha do vocabulário e o desencadeamento de ideias.

Existem algumas crônicas que são realmente histórias, e que oferecem algo a mais do que a simples descrição e comparação da cidade, com resultado até satisfatório. Mas, analisando o conjunto, este certamente não é um livro excepcional, ainda que valha a leitura entre um livro e outro.
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