Andre.Crespo 26/08/2010
Tchechov: um contista de primeira
Antes de "O Assassinato e outras histórias", só havia lido uma peça do russo Anton Tchekhov. Confesso que achei-a boa, apesar de simplista. Por tal razão, não o tinha em mente para ler. Mas eis que um amigo me atentou ao fato de estar saindo esse livro - que é raro -numa coleção da Abril. Após relutar um pouco, decidi comprá-lo e ler assim que fosse possível.
"O Assassinato e outras histórias" é uma compilação de seis contos. O primeiro, intitulado "O professor de letras", fala da vida de um professor, que após se casar, percebe como sua vida se torna futil e enfadonha; o segundo, "O Assassinato", conta a vida de um padre numa cidadezinha perdida no meio do nada. Sua relação com o primo e a esposa do último não é muito boa, o que não gerará bons frutos; "Os mujiques" é o terceiro conto do livro e relata sobre uma aldeia miserável, de gente miserável, que é obrigada a conviver com a miséria e as dívidas as quais não conseguem pagar; o quarto, de nome "Ionitch", fala de um médico distrital que, após se apaxionar por uma moça, pedi-la em casamento e ter tal pedido rejeitado, se torna um "imprestável", aceitando a vida mesquinha e avarenta que passa a ter; o penúltimo, "Em Serviço", narra a aventura de um médico e um suplente de juiz de instrução e sua estadia em uma cidadezinha distante, aonde vão desvendar um suposto sucídio; o último, e talvez o melhor conto, se chama "No fundo do barranco", que conta a história da família Tsubúkin, na qual todos são marcados pela trapaça. Mesmo trapaçeadores e ricos, eles não escaparão das desgraças da vida costumeira.
Um ponto importante a se notar em Anton consiste no fato de que seus contos são feitos, ao mesmo tempo, com uma simplicidade fascinante e uma bela descritividade dos fatos e pessoas, e, antes de tudo, seca; direta. Tchekhov é daqueles autores que não usa de "firulas" e se demoram nas descrições. Pelo contrário, elas são breves, e mesmo assim, nos fazem mentalizar perfeitamente o que ele quis mostrar. É até engraçado como que, para Tchekhov, é fácil descrever! Acaba parecendo fazer para nós também! Apesar de sua simplicidade, Anton dá cores perfeitas às suas histórias.
Outro ponto a se ressaltar é a forma pessimista - ou seria realista? -que Tchekhov escreve seus contos. Sem tirar o humor debochado, é claro. Com tal mistura de drama e comédia, ele constrói uma "comédia-dramática", em que se pode muito bem rir em uma página e chorar logo na próxima.
"O Assassinato e outras histórias" mostra a miséria tanto em seu sentido geral como no individual - o de "miséria intelectual". Tchekhov mostra como as pessoas, com o tempo, acabam se tornando ou ridículas ou passivas, aceitando que a vida as leve de qualquer maneira. Ler Anton Tchekhov pode causar depressão, pois nos mostra "realisticamente" como a vida é triste e cheia de sofrimentos.