Helder 28/02/2020Um livro mornoMar de Segredos de Catherine Steadman é a grande aposta da Editora Record para ser “O Thriller do Semestre”.
Mas precisamos ter cuidado com as expectativas trazidas pelo Marketing.
O livro tem como marketing principal ter feito parte do Clube de Leitura de Reese Witherspoon, algo que se tornou um selo de qualidade no mundo literário após bons lançamentos que tem chegado ao mercado brasileiro.
Mas será que tudo o que passa por este clube é realmente um “achado”?
Este é o primeiro livro de Catherine Steadman e encontramos aqui diversos defeitos de um primeiro livro, já que perde muito tempo em descrições que acabam não agregando nada a historia (Para que, além de morrer de inveja, precisamos saber em um thriller como funciona a 1ª classe de um avião?) e o pior de tudo: demora muito tempo preparando o terreno para aquilo que realmente desejava contar.
E nisso a autora acabou me perdendo um pouco como leitor.
O primeiro capitulo do livro é sensacional, mas infelizmente a autora não consegue manter o pique no restante da história.
No livro conhecemos um casal apaixonado, Erin e Mark, que estão prestes a se casar.
Ela estudou cinema e está dirigindo um documentário onde acompanha a vida de três pessoas prestes a sair da prisão.
Ele trabalha no mercado financeiro há anos, até que justamente na véspera do casamento é demitido por justa causa.
O casamento já estava marcado, com festa chique e lua de mel em Bora Bora. Mas ao perder o emprego, Mark passa a mostrar uma insegurança que Erin ainda não tinha conhecido, e ai já começaram meus problemas com o livro.
Erin me passou uma imagem muito fútil, pois era obvia a preocupação de Mark em querer reduzir custos, já que foi demitido sem direitos e estava com problemas para se recolocar no mercado, mas Erin parecia não ligar muito para isso. “Vamos em frente e depois a gente vê o que rola”. Péssimo exemplo para uma mocinha cuja autora deseja passar a imagem de uma mulher resolvida e destemida.
Mark até consegue diminuir alguns custos, mas acabam seguindo para a lua de mel em Bora Bora.
O Marketing do livro me vendeu um thriller emocionante, mas até a pagina 100 me senti lendo quase um chick lit, onde a mocinha nos leva para escolher seu buffet de casamento e até seu vestido de noiva. Depois nos descreve toda a 1ª classe do British Airways e nos ensina a mergulhar.
Mas cadê aquela mala da sinopse?
Quando ela aparece, a história dá uma melhorada.
O que encontram na mala pode resolver todos os seus poucos problemas de vida (Mais um ponto negativo para mim foi acreditar que um inglês no padrão dos personagens deste livro precise de dinheiro), mas vamos lá, dinheiro é dinheiro, certo? E uma grande quantidade de dinheiro pode alterar o nível de honestidade de qualquer ser humano.
Mas como lidar com tudo aquilo?
Com certeza o conteúdo daquela mala é criminoso, mas eles não são criminosos, certo?
Então como ficar com o que encontraram de uma maneira segura?
O livro é todo narrado por Erin, então passamos a ver por seu ponto de vista o que eles fazem para tentar legalizar tudo o que encontraram.
Alguns momentos trazem um pouco de tensão, mas muitas vezes as coisas se resolvem fácil demais, mesmo que algumas atitudes sejam completamente estupidas.
No fim temos uma historia morna, com um final previsível ( Aliás, o primeiro capitulo é ótimo para despertar nossa curiosidade, mas acaba sendo um spoiler para leitores de thrillers com um pouco de experiência).
O livro, como um drama de um casal não é ruim. Como thriller, precisava de um pouco mais de estofo.
Mas pelo menos hoje sei como me sentiria na primeira classe de um avião, como usar uma arma Glock sem dar um tiro no pé e como lavar dinheiro na Suíça, pois a autora foi bem didática em suas descrições.
Assim como Erin, Catherine Steadman sabe como usar o Google.