Howie 31/05/2024
Esse livro ser considerado um clássico francês só prova que para fazer história você não precisa ser extraordinário, só precisa ser um europeu no século XX.
“O Bosque das Ilusões Perdidas” é o nome perfeito para esse romance pois você, definitivamente, vai perder todas as suas no momento em que perceber que você não estava obtendo nenhum resultado em sua tentativa de gostar muito dele. Mas tudo bem, eu posso estar sendo muito dura com a obra de Alain-Fournier, afinal, parece que todas as pessoas que leram, amaram — menos eu, e eu não consigo deixar de pensar que fui eu quem o li errado (honestamente). Algo muito relatado pelos que adoraram essa história foi a oniricidade, a forma poética na qual tudo é escrito e, assim, admito que o texto é deveras belo de ser contemplado, porém eu não consegui transparecer, no enredo em si, a mesma magia que estava nas palavras e tal aspecto tornou minha experiência “menos boa”, menos proveitosa. Pelo título da tradução mesmo, o leitor (eu, no caso) espera acontecimento diferentes do que houveram , o que torna tudo… decepcionante. Sabem, como já disse, não consigo NÃO CRER que o problema estava, sim, em mim.
Por falar construção que nomeia o querido, “O Bosque das Ilusões Perdidas” está longe de ser o título original — ou sua tradução. No francês, este é “Le Grand Meaulnes” (O Grande Meaulnes) e aí eu deixo um pequeno gracejo à versão brasileira, pois seria chato e nada chamativo caso traduzido ao pé da letra. Apesar de que a designação do romance tenha me ludibriado um pouco, ela combina com a devaneante narrativa e torna-se condizente com a mentalidade de um dos personagens em determinado ponto da narrativa. Este é o aclamável, quando coisas apresentadas no primeiro olhar a uma obra são comprovadas de grande sentido em seu meio, pena que é mérito do Brasil, não do autor.
No entanto, isso não retira todos os acontecimentos marcantes da obra. Vejam bem, acho que a atenção durante a leitura precisa de ser muita e constante, pois realmente temos diversas reviravoltas e trechos marcantes, mas eles irão passar batido se você não ler cada letrinha estando imerso — acredite, eu li boa parte 2 vezes por não ter conseguido absorver de primeira. Acho que tal característica torna a história uma fusão entre o maçante e o frenético, e isso que manteve a minha impressão relativamente boa, senão eu estaria xingando aqui a torto e a direito. Eu, em minha cabeça, tornei o livro uma grande fofoca super babadeira e isso fez com que tudo ficasse mais interessante — mais uma vez, não é mérito de Alain-Fournier e essa experiência que fiz definitivamente não ocorrerá com todos. Mas fica a dica caso vocês façam a leitura: pensem nos eventos de “O Bosque das Ilusões Perdidas” como de sua própria vida, que é provavelmente bem normal, porém volta e meia acontece algo surpreendentemente interessante.
Aliás, tenho 2 considerações bem específicas sobre o enredo. 1) Conhecem aquela peça do teatro musical de Legally Blonde, “Gay or European? / It’s hard to guarantee / Is he gay or European?”? É batizada como “There! Right There!”, mas ninguém chama assim. O François me passa literalmente esse sentimento. O olhar dele sobre o amigo Meaulnes é demasiado açucarado e a consideração que há ali, é catastrófica — no mal e no bom sentido. Essa é uma história de amor, afinal, porque a aventura só começa quando Augustin Meaulnes se encanta por Yvonne de Galais, e continua sendo uma história de amor por todas as montanhas que o protagonista (François) moveu por Augustin. Vi certa resenha, que não saberei creditar agora, apontando François Seurel como a pessoa mais machucada entre todas durante o a trama — machucada, vale constar, pelo amigo; pois este é o 2) Augustin Meaulnes é um grande babaca, que promete e não cumpre, que abandona, que ignora, que brinca com os sentimentos daqueles que o admiram, e Seurel foi o único, dentre estes, que permaneceu até o fim. Aí retomamos algo muito importante: a melancolia que acompanha nossa leitura. Esse é um livro pacato, entretanto tristíssimo, com uma tristeza real e cotidiana que sujeitos do nosso mundo passam.
Também hei de citar a contraposição de atitudes vindas dos personagens, pois a maioria esmagadora dos jovens do internato onde a história se passa são tímidos, quietos, reclusos, e Augustin chega para abalar toda essa estrutura; ele é uma revolução, coisa que acho bem divertida. Os personagens, no geral, passam por grandes mudanças nesse romance chamado por tantos de uma “ode à juventude”, o que é bastante irônico.
Por fim, eu achei “O Bosque das Ilusões Perdidas” difícil de ser lido, às vezes até chato, mas que melhora com o passar do tempo em que se pensa sobre ele. Isso é fácil de ser notado quando se compara a primeira frase dessa resenha com todo o seu restante — eu a escrevi em dois dias seguidos e minha opinião já se mostra um tanto mudada.