Diário de  Motocicleta

Diário de Motocicleta Ernesto Che Guevara




Resenhas - Diário de Motocicleta


1 encontrados | exibindo 1 a 1


je chimatti 09/07/2018

Prólogo de Aleida Guevara March
Quando li essas notas pela primeira vez, elas não tinham formato de livro e eu não sabia quem as havia escrito. Eu era muito mais jovem e imediatamente me identifiquei com a pessoa que havia narrado com tanta espontaneidade sua aventura. Claro que ao decorrer da leitura tive uma ideia de quem era esse personagem e me senti muito feliz de ser sua filha.
Não pretendo contar-lhes nada do que devem descobrir nessa leitura, mas sim dúvidas para que, quando terminarem queiram voltar a desfrutar de algumas paisagens, pela beleza que descrevem e pelos sentimentos intensos que despertam.
Houve momentos em que eu literalmente tirei Granado [amigo que viaja com Che] de seu lugar na moto e me apertei com força às costas de papai, viajei junto com ele pelas montanhas e lagos; percebi que o deixei sozinho em alguns momentos, sobretudo quando foi capaz de descrever as coisas que fez tão graficamente, que eu não contaria nunca, mas que ao fazê-lo demonstra mais uma vez até que ponto pode ir um homem honesto e pouco convencional.
Se tenho que ser sincera, tenho que dizer que fui me apaixonando pelo garoto que meu pai havia sido.
Não sei se compartilharão essas sensações comigo, mas ao longo da leitura fui conhecendo melhor o jovem Ernesto, aquele que parte da Argentina com desejo por aventuras e sonhos de talentos pessoais e que, ao ir descobrindo a realidade de nosso continente vai amadurecendo como ser humano e vai se desenvolvendo enquanto ser social.
Pouco a pouco vamos percebendo como vão mudando os sonhos e as ambições; vai captando a dor e as preocupações de outros muitos e permite que tudo isso comece a entrar dentro dele.
O jovem que no início nos faz rir com seus disparates e loucuras vai nos sensibilizando ao narrar o complexo mundo do indígena latino-americano, a pobreza em que vivem, a exploração a que são submetidos. Apesar de tudo não abandona o humor que leva sempre consigo, mas aqui é diferente, é sutil, mais fino.
Meu pai, “esse que fui” nos mostra a América Latina que poucos conhecem, descreve as paisagens com as palavras que colorem a imagem que chega a nossos sentidos, vamos vendo as coisas que ficaram em suas retinas.
Sua prosa é fresca, usa palavras que nos permite ouvir sons que jamais escutamos, consegue se misturar com o meio, esse que atinge com sua beleza e rigidez o ser romântico, que sem perder a ternura vai fortalecendo seu anseio revolucionário e consolidando a consciência de que, o que os homens mais necessitam não são seus conhecimentos científicos como médico, mas sim suas forças e persistência para provocar a mudança social tal que lhes permita viver com a dignidade que lhes foi roubada e manchada durante séculos.
Esse jovem aventureiro, com ânsia de conhecimento e uma grande capacidade de amar nos mostra como a realidade bem interpretada pode permear um ser humano a ponto de mudar sua maneira de pensar.
Leiam essas notas que foram escritas com tanto amor, fluência e sinceridade, que fizeram eu me sentir mais perto de meu pai. Espero que aproveitem e desejo que possam viajar junto a ele.
Se alguma vez tiverem a oportunidade de seguir realmente seus passos, descobrirão com tristeza que muitas coisas continuam iguais ou piores. Isso significa um desafio a todos que, como esse jovem , que anos depois foi Che, se sensibilizarem com a realidade que afeta aos mais despossuídos e que nos comprometemos com a necessidade de ajudar a construir um mundo mais justo.
Deixo-lhes com o homem que conheci e que amo intensamente por essa força e ternura que demonstrou ao viver.

Boa leitura! Hasta siempre!
Aleida Guevara March
je chimatti 09/07/2018minha estante
Esse textinho é uma tradução livre feita por mim, com alguns problemas porque não domino o idioma. Trata-se do prólogo que sua filha Aleida escreveu para o livro.




1 encontrados | exibindo 1 a 1