Lodir 30/12/2010Excelente estréia de jovem escritor brasileiro Ao lado de Eduardo Spohr (autor de "A Batalha do Apocalipse"), Fabio Brust está entre as revelações da literatura nacional desse ano. Esse livro é excelente, e vale muito a pena ser lido. Comprei pela curiosidade que a história me deu, e não me arrependi. Quando vi o livro na estante da livraria, o que me chamou a atenção foi o título. Depois, gostei da sinopse na contra-capa. Parecia ser realmente uma história que boa. Quando vi que o autor era brasileiro, de apenas 18 anos e gaúcho, não tive dúvidas: levei para a casa. Para meu conforto, me deparei com um ótimo romance que é um bom exemplo de como a nova literatura nacional é competente, e como jovens podem escrever livros dignos.
A história mostrada na sinopse já vale a pena: o livro se passa em um futuro não muito distante, onde a humanidade causou a sua própria destruição e a do planeta também. As cidades estão desabitadas. Os animais e a vegetação foram quase extintos. Os poucos humanos sobreviventes lutaram contra a falta de comida e principalmente água. Com um mundo vivendo na sede, o líquido se tornou o bem mais valioso, onde todos lutam para obtê-lo.
Esse enredo, por sí só, já torna o livro interessante. Agora acrescente entre os personagens principais um imortal e um clone.
A narração, feita em primeira pessoa pelo personagem imortal, conta a jornada desse grupo de sobreviventes na busca por água e outros humanos. Ele, no entanto, está na contramão: além de não precisar de água ou comida, ele não deseja lutar pela sobrevivência. Muito pelo contrário: ele está há séculos buscando a morte. É tudo o que ele mais deseja.
Ao longo da história, viajamos com o imortal ao longo dos tempos, desde a época antes de Cristo (quando ele se tornou imortal, numa descrição memorável) até os dias atuais. Passamos por pontos importantes de sua história, como seu primeiro grande amor. Descobrimos, entre os diversos flashbacks, como os personagens se conheceram. Acompanhamos um romance entre o imortal e uma clone.
Alguns flashbacks são desnecessariamente longos e um pouco cansativos (como a parte sobre a fazenda e os escravos), mas nada que comprometa a trama ou o desempenho da leitura. Com um pouco de paciência do leitor para esses tantos detalhes, a trama flui bem. Outra coisa é que a trama quase se passa apenas em outros países. Algumas partes do livro (principalmente o início) poderia se passar no Brasil, o que tornaria a trama mais "palpável" ao brasileiros, assim como fez Eduardo Spohr na sua fantasia "A Batalha do Apocalipse".
Além da boa criatividade ao bolar essa história, Fabio Brust tem o dom da narração: ela é impecável, utilizando uma boa linguagem que, ao mesmo tempo é culta, mas ágil e de forma que não torna a leitura cansativa. É um livro bem escrito, mas fácil de ler, e eu não conseguia largá-lo. Eu só o fazia quando o sono tomava conta, já tarde da noite. Tanto é que mais da metade do livro eu devorei em um único dia.
O livro me trouxe algumas surpresas. A morte de uma importante personagem foi algo que eu não imaginava de jeito nenhum. Parecia impossível continuar mais da metade do livro sem ele, mas o autor conseguir fazer a história andar muito bem. Gostei das discussões sobre religiões entre os personagens, com diálogos filosóficos que certamente me fizeram refletir e me identificar muitas vezes, pensando como é verdade o que eles diziam. O final do livro (que não revelarei aqui) era o que eu esperava, mas isso não é ruim. Eu gostei e ele foi conduzido muito bem. Na verdade, eu não imaginaria de outra forma.
O autor está planejando outro livro, dessa vez sobre religião, e eu certamente vou querer lê-lo. O pouco abordado sobre esse tema (que tanto gosto) nesse livro foi feito de uma ótima maneira, então imagino que o novo (ou novos) livros dele também deverão seguir com o mesmo cuidado que o tema ambiental teve nesse.
Espero que a editora abrigue os futuros livros do escritor e dessa vez invista mais na divulgação, já que tem um grande talento em mãos. Eu descobri esse livro por mero acaso, mas certamente teria comprado antes de tivesse sido vitima de um bom marketing. Se uma grande editora publicasse esse livro e trabalhasse em sua divulgação, certamente ele estaria agora entrando na lista dos mais vendidos. Há muito público para esse livro.