Helder 14/06/2023Mantendo as lembrançasUm anúncio de jornal diferente: “Procura-se alguém que saiba turco. Pagamento satisfatório. Experiência não é importante. Dá-se preferência a não fumante”.
Rosela é uma senhora idosa e solitária. Vive numa cidade (imagino que seja Paris) com sua gata e Zelda, uma empregada quase muda, que lhe serve há 30 anos.
A senhora está doente e sente que seu tempo está acabando. Ela vive nesta cidade europeia há 60 anos. Todos seus amigos e familiares estão mortos, e para ela o que resta na vida agora é lembrar. E suas melhores lembranças são do período que viver em Istambul, e seu medo maior é esquecer a língua, e assim esquecer seu passado. Razão para o anúncio no jornal.
E quem responde ao anúncio é a jovem Pelin, que veio morar neste país após brigar com o pai, e que busca uma maneira se tornar independente deste que mesmo a distância a segue controlando.
No começo Pelin estranha aquele anúncio, no primeiro encontro elas não sabem como se portar, a diferença de idade entre as duas é grande, portanto, a Istambul que ambas conhecem também é diferente, mas aos poucos a confiança entre elas vai se formando, e ambas percebem que podem se ajudar bastante.
Pelin é uma garota extremamente solitária que não confia em relacionamentos, já que sua mãe trocou sua família por um outro homem e seu pai acabou arrumando uma namorada bem mais jovem.
Já a velha Rosela tem bastante história para contar, pois é judia, nascida na Alemanha, de onde conseguiu sair com a ajuda do marido no início do nazismo, indo para Istambul, onde passou a conviver com a família do marido, mas onde acabou conhecendo um outro amor.
Em um livro formado 100% por diálogos, vamos acompanhar o encontro destas duas personagens singulares e perceber que aquilo que parece extremamente cruel na juventude, pode ser um simples tremor para aqueles que já viveram muito mais tempo. E que nem sempre podemos julgar as atitudes dos outros, principalmente quando envolvem amor.
E que a solidão, como consequência da vida ou por escolha, não é boa, e mesmo que cada uma tenha suas crenças, as preces são imutáveis, pois as pessoas sempre buscam o mesmo conforto.