Sandra de Oliveira 05/05/2011
O norueguês Jostein Gaarder sempre será associado, pelo menos para mim, à um dos meu livros favoritos, lido ainda quando eu começava a conhecer o mundo literário. O Mundo de Sofia, obra repleta de reflexões filosóficas diversas, já dava as cartas de como era seu autor: sensível e complexo.
O Castelo nos Pirineus é o segundo livro de Gaarder que leio, e confesso, estava cheia de expectativas acerca de algo semelhante a O Mundo de Sofia.
O que encontrei foi bem diferente, embora toda a complexidade e reflexões acerca da vida e existência estejam presentes em cada página do livro.
Seu título, por sinal, reflete bem esse estilo: O Castelo nos Pirineus é uma referência ao quadro do artista René Magritte, Le Chatêau des Pyrénées, que tem um grande rochedo pairando no ar, com um castelo em seu topo.
Numa estrutura totalmente diferenciada, a história de amor e separação entre Steinn e Solrun é contada através de emails. Sim, tudo o que sabemos a respeito do casal e de seus 30 anos de separação até o reencontro é visto por meio das mensagens eletrônicas que trocam constantemente (leia-se on line praticamente 24 horas por dia, literalmente).
A ideia de desenvolver a narrativa dessa forma é muito interessante no começo, mas, com o decorrer da história, começa a dar ares de cansaço.
É bom ressaltar que um pouco disso deve-se também ao fato das divagações intermináveis do personagem Steinn, um homem cético e ligado à ciência, que mantém vivo em si suas convicções mais racionais sobre mundo e vida e que tem em cada email um discurso científico que beira uma defesa de tese.
Solrun por sua vez vê com os olhos da emoção. E da religião. Seus emails são os mais fáceis de se apreciar, talvez pela identificação que se cria com alguém mais coração e sentimentos, e menos dados científicos, como Steinn.
Acompanhamos nos emails trocados pelo casal uma história que aos poucos vai sendo revelada e que dá forma à toda trama cheia de mistérios, espiritualidade, razão, emoção e segredos que perseguem dois seres tão díspares e ao mesmo tempo tão próximos pela certeza de suas convicções.
Não foi uma leitura fácil, pela complexa reflexão que Gaarder faz, tornando o livro muitas vezes cansativo. O desfecho, um tanto brusco também contribuiu para tornar o livro mais pesado e diferente do que eu havia imaginado.
Contudo, é uma leitura interessante acerca da vida e dos mistérios que ela esconde. E cada um, a partir dessa visão, pode escolher em que acreditar ou não!