crixtine 10/05/2024
Apesar de ter sido inebriada pela atmosfera e trama sombrias do livro, o que mais me chamou a atenção e rendeu diversas anotações foi a “troca” de narradores. Digo troca entre aspas porque, exceto por Lockwood, nenhuma outra personagem narra por si mesma.
Durante grande parte do livro, o que temos é a narrativa de Nelly (que também empresta sua voz a outros narradores) reproduzida por meio de Lockwood. No fim, todos falam através do julgamento e da memória dele, e isso coloca em questão a confiabilidade dos narradores durante todo o texto. Especialmente porque seus compassos morais estão em jogo o tempo todo e ninguém parece ser de todo bom.
Sobre a construção e disposição de personagens, no começo eu tive que desenhar uma árvore genealógica para entender a repetição de nomes mas, à medida em que as personagens foram de fato apresentadas, ficou mais do que claro. A despeito dessa disposição cíclica, onde temos duas gerações de Catherines, Earnshaws e Heathcliffs, todas essas 6 personagens são bem construídas, esféricas, com suas nuances e personalidades. Ainda, apesar dos traços que têm em comum (o que dá um tom assombroso a esse ciclo), os novos personagens têm suas distinções que rompem com a geração anterior - pro bem ou pro mal. A primeira Catherine, em especial, é uma personagem viciante, intrigante e não há como se afastar dela. É tudo que eu esperava da Christine de O Fantasma da Ópera.
Ainda, sobre o estilo e escrita de Emily Brontë, eu amei que ela não se conforma à “pureza” de sua época. Ela não tem nenhuma timidez ao incluir os palavrões, as maldições, a violência, o feio, um deboche à religiosidade e até, eu diria, uma demonização do fanatismo religioso. Também gostei das escolhas dela de não dar uma redenção (pelo menos não completa) a Heathcliff e não cair no clichê de deixar o deixar o forasteiro “salvar” a mocinha, se casando com ela.
Só não dei 5 estrelas porque não poderia me importar menos com Lockwood e a narração do ponto de vista direto dele.