fernandaugusta 21/04/2022Criança 44 - @sabe.aquele.livroLiev Demidov é um importante agente do MGB (as forças especiais russas), na URSS stalinista. A lealdade ao sistema deve ser inquestionável, afinal, qualquer coisa pode ser imputada como espionagem internacional no regime comunista - o que leva a centenas de prisões diárias. A maioria das pessoas vive na pobreza e com medo das prisões, das execuções e dos gulags russos. Autoridade deste sistema, Liev se depara com um caso em que prende uma pessoa injustamente. Em conjunto com esta operação, teve que colocar panos quentes na morte de uma criança, filho de um colega do MGB. A família acredita que a criança tenha sido assassinada. Mas não existem assassinatos e nem violência no sistema russo. Crimes são varridos para baixo do tapete, como propaganda ocidental, a culpa sendo colocada em situações que não manchem a perfeição da sociedade russa, onde todos tem trabalho e condições de vida iguais.
O problema é que, após vários acontecimentos, Liev começa a questionar este sistema. Perseguido por um colega ambicioso, que deseja uma vingança pessoal contra ele, Liev vê sua estável situação se deteriorar rapidamente. Ao defender sua esposa contra uma acusação de espionagem, ele se vê demitido do MGB, rebaixado ao cargo mais baixo da milícia russa, longe de Moscou. E é em sua nova cidade que encontra o corpo de mais duas crianças, mortas em condições muito semelhantes ao filho de seu ex-colega de MGB. Liev então começa uma cruzada pessoal contra um assassino que pode estar fazendo vítimas pelo país, acobertado pelas falhas do sistema de polícia russos, e colocando a própria vida e a de seus familiares em risco por alta traição, investigando algo que não deve ser investigado.
Bom... quando li a sinopse deste livro, acreditei que seria um thriller com foco na perseguição de um serial killer, afinal, a obra foi baseada nos crimes cometidos por Andrei Chikatilo, o infame carniceiro de Rostov. Mas... essa caçada a um assassino só começa mesmo com 50% da leitura concluída (é sério!).
Todo o início do livro é dedicado a contextualizar a situação de Liev. E o conflito de Liev com o sistema, sendo perseguido e quase morto "n" vezes vai até o fim do livro e toma muito do destaque do que, a meu ver, seria o foco principal da história - os assassinatos misteriosos. Me senti tapeada pela sinopse.
A partir do momento que esse detalhamento histórico do regime comunista russo nos anos 50 é encerrado, Liev é apresentado e a história começa a tomar forma, ela anda muito bem. A escrita do autor é dinâmica, e em vários momentos, as descrições dos crimes cometidos, das situações extremas vividas pelos personagens e pelas pessoas comuns são bastante perturbadoras. Nada é o que parece ser e o livro se enreda em uma paranoia constante, onde todos estão por um fio. Um errinho e todo mundo já era.
Tinha uma expectativa grande com esta leitura, afinal, é muito bem avaliada. Mas eu realmente acreditei que o destaque seria o suspense investigativo em torno de um assassino, e não a história de um agente em perigo, com um repentino drama de consciência. Não consegui me conectar com os personagens. Achei o final bom, mas o plot já estava claro bem antes do fim, então não fiquei surpresa.
Não posso dizer que não gostei do livro ou que tenha achado ruim. Acredito só que eu esperava uma coisa e li outra e a surpresa não me fisgou.