Dessa 25/02/2015
RESENHA: Sexo com Reis
Se você está lendo a resenha pensando que esse é um livro de contos eróticos, vou ter que te decepcionar. Na verdade a autora Eleanor, que é jornalista, está mais focada em retratar um papel social do que era, digamos, um item obrigatório para os reis da Idade Moderna: uma amante. Ser amante naquela época era mais do que um simples caso extraconjugal, era um título. Um monarca poderia ter várias amantes, mas uma delas sempre era "a oficial" e recebia um maîtresse-en-titre. De acordo com cada época, isso poderia significar desde a influência política, artística e diplomática até alguns benefício$$ e títulos de ducado e marquesado.
A prática era tão comum, como uma herança histórica, que chegava a ser tolerada e incentivada pela Igreja. O casamento real era visto apenas como uma maneira de gerar herdeiros legítimos e manter a nobreza do sangue; a rainha, por sua vez, era limitada à sua fertilidade, além de ser educada para a frigidez. Esse conjunto de fatores, embora possa parecer motivo suficiente para justificar a presença da amante, contava com absurdos: havia reis que odiavam suas amantes, mas as tinham por convenção. Vai entender.
O livro dá exemplos não só da Inglaterra, mas também da França, Alemanha, Bávaria, Rússia e outros países europeus. E, após a leitura, fica quase impossível não ter uma listinha de amantes preferidas. Eu, por exemplo, gostei do caráter destemido da Gabrielle d'Estrées (amante de Henrique IV da França), da obstinação de Madame Pompadour (amante de Luís XV da França) e também da irreverência de Nell Gwyn (amante de Carlos II da Inglaterra).
Um livro essencialmente histórico, com gotas de sagacidade e observações pontuais. Se você gosta de ler sobre a monarquia e conhecer o lado mais humano do que o nobre, esse é o livro. Particularmente, meu interesse pela realeza não vem de Lady Di, mas sim de Henrique VIII, e pensei que me deliciaria com revelações bombásticas em relação à Ana Bolena. Maaaaas não foi bem assim. O livro traz poucas passagens sobre os dois (se não me engano, apenas duas ou três), no entanto o conteúdo é suficientemente instigante.
A autora utiliza-se de uma escrita sem pudores: munida de seu amplo conhecimento da época, revela escândalos polêmicos, reduz a corte da época ao seu caráter fétido e promove uma reflexão sobre posições sociais adquiridas. Um livro que informa ao mesmo tempo que diverte. Recomendado.
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