Yasmin675 24/04/2020
Não achei que ia ser tão bom.
Burnett me impressionou de forma positiva. Como eu já tinha visto o filme, e adorado a adaptação, fiquei com expectativas muito altas em relação a esse livro, e não me decepcionei. O Jardim Secreto é um clássico inglês bastante conhecido e aclamado, escrito para crianças mas com muitas lições que podem servir para adultos também.
Começamos a viagem conhecendo a protagonista Mary Lennox, uma garotinha inglesa arrogante e enfezada que acha que todas as pessoas a seu redor tem um único propósito de vida: serví-la. Mary é tão mimada que sequer consegue se vestir sozinha. Sendo filha de um militar, Mary tem pai ausente e uma mãe que não dá a mínima para ela. Acostumada a ser esquecida em casa, Mary não se surpreende muito quando percebe que está sozinha após o surto de cólera que atingiu sua casa na Índia. Sem muita escolha, Mary é forçada a se mudar para a Inglaterra para viver com seu novo tutor.
E então a narrativa começa a andar. Um mundo novo, totalmente diferente do que Mary conhecia, e ela não tem alternativa a não ser explorá-lo, como a boa curiosa que é. E quando finalmente chega a Yorkshire, se depara com uma mansão bastante peculiar com muitos segredos a esconder. Mary é instruída a ficar fora do caminho de seu tio e permanecer dentro do quarto a todo custo, mas como a boa criança que é, a garotinha é vencida pela sua curiosidade e sai para explorar, não somente a mansão como os arredores da propriedade.
Durante suas andanças, Mary Lennox faz amizade com Ben, o jardineiro (cujo temperamento é bastante parecido com o dela) e um pisco. Mary descobre a história do jardim graças aos funcionários da casa, que a advertem que não há nada a encontrar, já que o patrão fechou o lugar quando a esposa faleceu e já se passaram 10 anos desde o acontecido, mas a garotinha não se convence e segue sua busca pelo lugar, tornando-se até uma obsessão da menina. Ela sonha e imagina o jardim crescendo, enquanto procura descobrir mais coisas sobre a dinâmica da casa e da vida em Yorkshire através de conversas com Martha.
Mary finalmente encontra o jardim (graças a ajuda de seu amigo pisco) e decide que vai renovar o lugar. Se utilizando da ajuda de Dickon, Mary percebe que está fazendo um bom trabalho e melhorando seu temperamento e saúde por estar em contato com o campo. Então descobre a existência de Colin e resolve ajudá-lo, fazendo com que saia do estado em que se encontre e se torne uma criança de verdade.
Burnett escreve uma narrativa onde crianças com comportamentos reprováveis (histeria, arrogância, prepotência e senso de grandeza) se tornam melhores ao encontrar atividades que os agradam. A autora entrega uma fórmula pedagógica bastante simples, que nos dias de hoje tem uma serventia inestimável. Sou graduanda em pedagogia e fiquei apaixonada pela evolução de Mary e Colin, especialmente de Colin que acaba se tornando um "menino de verdade" ao final do livro.
Em relação a construção dos personagens, achei tudo bastante impecável, é possível notar uma evolução gradativa no decorrer da narrativa. Devo destacar Dickon, que se apresenta praticamente como um espírito etéreo da natureza, um verdadeiro encantador de bichos (e talvez até de pessoas também), cuja amizade ajudou Mary e Colin a crescerem e se tornarem pessoas melhores apesar das condições em que viviam.
Depois da leitura, fiquei matutando algumas questões na minha cabeça (contexto histórico, racismo, visão sobre criança, saúde e muitos outros), mas é o que os bons livros fazem, eles te provocam a refletir sobre coisas que sequer tinham passado pela sua cabeça. Me apaixonei mais uma vez por essa história e seus personagens e pretendo ler mais livros da autora.