Coruja 27/11/2016Descobri esse livro numa lista publicada no Randomicidades de livros sobre livros e leitores - que é o tipo de referência que adoro encontrar nas minhas leituras, seja em ficção ou não ficção. Eu saí colocando um monte dos títulos no meu Skoob, e depois olhei o que tinha para troca e Uma Real Leitora era um dos que aparecia por lá… E gente, sério, a sistema de trocas do Skoob é uma das melhores coisas do mundo… Enfim, solicitei, chegou rapidinho, no dia seguinte comecei a ler e devorei em pouco mais de uma hora: a história tem 111 páginas e flui fácil, fácil, é uma gostosura de ler.
Engraçado que quando vi a sinopse, pensei que Alan Bennett tinha escrito uma fanfic - há uma tag bastante comum em sites do gênero, RPF (real person fiction), que é só para usar personagens reais nas suas histórias imaginadas. E, de fato, a protagonista aqui é a atual rainha da Inglaterra, Elizabeth II, e muitos dos personagens com quem ela interage são bastante reais. Mas Bete é um gancho e poderia ter sido substituída por uma monarca completamente ficcional - o verdadeiro foco do livro é o ato de ler e a forma como a sociedade enxerga os leitores.
Tudo começa quando a rainha se depara com a biblioteca itinerante de Westminster estacionada em um pátio próximo a cozinha. Por uma questão de educação e protocolo, Bete pega emprestado um livro, e depois outro e mais outro, e quando se dá conta, está apaixonada pela leitura, por esse mundo infinitamente vibrante e tão diferente do rígido protocolo diário com que está acostumada. O problema é que o novo hobby da soberana afeta seus deveres públicos - ela começa a fazer perguntas inesperadas e embaraçosas a seus assistentes, a questionar certas regras, a sair completamente da agenda.
O fato de a rainha não estar dando a performance esperada em suas exibições para a platéia de súditos que tem de entreter, exaspera seus camaristas, que passam a conspirar para livrar a monarca desse novo hábito pernicioso. Afinal, eles não precisam de uma rainha capaz de pensar por si e de fato interessada no que acontece ao seu redor, mas de alguém que siga o protocolo e balance a mãozinha e nunca passe do superficial em suas conversas.
A questão é que o ato de ler é egoísta. É uma tarefa solitária, que isola o leitor daqueles que estão ao seu redor - ou, pelo menos, isso é o que argumentam os opositores dos novos hábitos de tia Bete (estou ficando cada vez mais íntima a cada parágrafo dessa resenha…). Não concordo com essa afirmação e tampouco o faz a rainha. Ler, afinal, fez com que ela saísse de sua zona de conforto, fez com que ela descobrisse Norman, o auxiliar de cozinha que ela conhece na biblioteca itinerante, a quem faz seu secretário particular e com quem discute muitas de suas leituras. Ler fez com que ela se interessasse mais, não menos, pelas pessoas ao seu redor.
A leitura nos ensina empatia. Isso é algo que Bete, como leitora, percebe várias vezes ao longo do livro. Ela se identifica com personagens, com autores - e em mais de um momento ela se entristece por ter começado tão tarde, por ter conhecido tantos daqueles escritores em seus anos de trono e não ter explorado aquelas mentes maravilhosas, não ter aproveitado essas oportunidades.
Uma Real Leitora é divertido, subversivo e também bastante incisivo em muitas de suas observações. É um livrinho delicioso, leve, sem ser bobo. E na medida certa para terminar em um único dia.
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http://owlsroof.blogspot.com.br/2016/11/quando-menina-uma-de-suas-maiores.html