Marco Antônio 20/11/2009
E o Curinga cantou...
Em uma fábula que demorou cerca de bilhões de 'linhas' para ser escrita, vivia esse nosso personagem. O Curinga. O Curinga não era um personagem triste, nem muito menos, como muitos pensam, um bobo da corte que faz suas peripécias para alegrar os outros. Ele era apenas mais um personagem da grande história, a história da vida, sem grandes poderes, sem grandes habilidades ou vantagens sobre seus companheiros.
Como qualquer um, nosso personagem vivia... tinha seu corpo e sua alma (se é que ele acreditava que ela existia). Acordava cedo como os Valetes de Paus para alimentar seu cachorro. Discutia com seus amigos como a Dama de Espadas, trabalhava como o Rei de Ouros e amava alguem como a Às de Copas, mas ele era Curinga.
A cada passo seus guiços o lembrava que ele era Curinga, e nada mudaria isso. Não era de Copas, nem de Ouros, nem de Paus e nem de Espadas. Era Curinga.
E como Curinga se perguntava o por que de ser tão colorido, enquanto o resto a sua volta usavam roupas padrões. Não aceitava que ele por ser Curinga não tinha seu naipe, e nunca teria, pois era, como sempre soube, apenas Curinga, e como Curinga, era como tal que deveria viver.
Enquanto Dama de Paus, senhora da sociedade, vivia a caminhar pelo baralho, posuda, esbanjando o glamour e as riquezas ganhas pelo Rei de seu naipe, o Curinga apenas se contentava em caminhar pelo baralho, sem a popozidade de um naipe de Paus, ele apenas caminhava pelo baralho.
Enquanto Oito de Ouros trabalhava sem cessar para deixar seu Rei orguhoso com seu esforço e dedicação. O Curinga, por ser Curinga, se contentava em trabalhar para viver, sem se martirizar, não deixava de caminhar pelo baralho como a Dama de Paus, trabalhava sim, mesmo as vezes caminhando.
Enquanto Valete de Espadas, rapaz jovial, esbanjava sua gloria, iluminava cada salão do baralho que entrasse, vivia as noites, as festas a alegria de cada evento como se fosse o ultimo de sua vida, o Curinga, rapaz encantador sim, talvez não tanto quanto o Valete de Espadas, mas encantador, agradavel e bonito, se divertia, frequentava as festas da sociedade, mas trabalhava, e caminhava... e era Curinga.
Não que o Curinga fosse melhor que os outros, como a Dama era como devia ser, era assim que o Curinga era, nem pior nem melhor que os outros.
E como Curinga ele via o que os outros não viam, talvez uma maldição, uma punição o deixara como um Curinga, um ser que pensava. Não aceitava apenas olhar para seu corpo, um amontuado de carne, com pelos em lugares determinados, e dentes.
Pode ser que a Dama de Paus visse seus cabelos, afinal vivia penteando-os, mas nao como o Curinga os via.
Pode ser que o Valete de Espadas visse as estrelas e a lua acima de sua cabeça a cada festa que frequenta, mas não como o Curinga as via, e as sentia, em sua distância, em sua maravilhosa existência.
Talvez o Curinga tivesse vindo ao mundo com o defeito de ver as coisas demais e de ver todas elas em profundidade, pois enquanto o resto dos naipes estava se preocupando em viver como era de praxe cada carta se comportar, se preocupando em estudar, ir ao teatro, assistir um filme, trabalhar, comprar roupas com naipes mais bem desenhados o Curinga se dava conta do que os outros não se davam, talvez não com a mesma profundidade. Ele se dava conta de que vive.
Sim, o Curinga comprava guizos novos, trabalhava, ia ao teatro e assistia filme, mas ele não deixava de se fazer a pergunta mais básica e mais enigmática: "Mas de onde veio esse homem de borracha? Como tudo surgiu?" Mas faze-la do fundo de seu coração, não apenas se perguntar vaziamente.
E como Curinga ele aceitou viver.
8 motivos para ler "O Dia do Curinga":
1. "Deus está lá no céu e ri das pessoas que não acreditam nele."
2. "Sim, eu pareço ser o corpo do mundo."
3. "Existem cerca de cinco bilhões de pessoas neste planeta. Mas a gente acaba de apaixonando por uma pessoa determinada e não quer trocá-la por nenhuma outra."
4. "Quando a gente entende que não entende alguma coisa é que a gente está prestes a entender tudo."
5. "Quem quer entender o destino, tem de sobreviver a ele."
6. "Na Terra, a vida pulsa de forma desordenada, até que um belo dia nós somos modelados... com o mesmo e frágil material de nossos antepassados. O sopro do tempo nos perpassa, nos carrega e se incorpora a nós."
7. "Enquanto somos crianças, ainda possuímos a capacidade de experimentar intensamente o mundo à nossa volta. Com o passar do tempo, porém acabamos por nos acostumar com o mundo. Ser criança e se tornar adulto é como embebedar-se de sensações, de experiências sensoriais."
8. "Nem tudo o tempo reduz a pó. Sempre há um curinga no baralho, que atravessa os séculos fazendo seus malabarismos sem perder um dente de leite sequer."