Bruno.Dellatorre 23/07/2023Li pro meu coração num sábado, mas tudo bemMeu único arrependimento com relação à leitura desse livro foi ter feito a coitada toda em um dia. São 85 poemas, muitos instantes por conferir. Poemas, sobretudo os da Wislawa, nascem pra ser objeto de estudo. De nada vale você ler em trinta segundos só porque eles duram uma página e foi esse tempo que seus olhos levaram pra percorrê-la inteira. O mais justo (na minha cabeça): ler, depois voltar aos pedaços não captados, tentar juntar uma pecinha aqui, outra ali... se você só toma, vai lendo um atrás do outro, dá o que deu comigo: acabei tendo uma overdose (potencializada porque ontem mesmo terminei de ler outra coletânea dela).
De qualquer forma,
mesmo entorpecido foi impossível ignorar o que estava à minha frente.
Ela é cheia de sacadas geniais. Coisas que você não presta atenção, coisas nas quais nunca tinha pensado daquela forma - ela prestou, ela pensou. E agora te diz, com toda a ternura e o bom humor que lhe são característicos.
Meus destaques:
- Um contributo à estatística (talvez meu poema favorito dela dentre todos. Me dá vontade de chorar toda vez que chego ao fim. Lembro ainda o deslumbramento que foi a primeira leitura dele)
- Nada é dado (esse foi, por muito tempo, meu favorito. Até ler o de cima - eu, antes de ler o livro de cabo a rabo hoje, de vez em quando folheava, dava umas espiadas. E amava tudo que achava nessas frestas)
- Entrevista com Átropos (minha nossa, esse é muito ótimo. Não tava esperando nada pelo título e quando acabei era uma super porrada)
- A mão (esse é curtíssimo, engraçado e um socasso)
- Lista (o último parágrafo... é tão wislawa...)
E ainda:
- Todo o caso (um clássico dela)
- Reciprocidade (encerra muito bem a coletânea)
- Experimento (já tinha lido antes e o fim não tinha ficado claro... quando li e ficou... foi uma luz que acendeu)
- Sessão (lindinho)
- Társio (super crítica)
Uns acho que não entendi:
- Louvor do mau conceito de si
- Prospecto
- Reabilitação
- Sem título (o fim ficou meio...?)
- Dia 16 de maio de 1973 (a última linha ainda me confunde)
Uns são depressivos:
- Despedida a uma paisagem (provavelmente ela escreveu pensando no Kornel, companheiro dela, que tinha falecido na época. Fiquei triste)
- Monólogo de um cachorro enredado na história (é triste. Depois que acabei, fiquei mal, me sentindo meio incomodado de lembrar)
Mas tudo bem, porque ela também distribui umas pequenas graças, pra atenuar o peso entre um poema e outro:
- Das lembranças (uma historinha curiosa)
- Uma menininha puxa a toalha (pura fofura)
- No aeroporto (tão simples, tão bonitinho)
É uma seleta imperfeita, talvez longa demais (principalmente se você for um leitor guloso e estiver meio hipnotizado meio sem outra coisa pra fazer), mas que traz em seu corpo inúmeros presentes escondidos. Cada visita a ele é garantia de novos ganhos.
Essa foi minha primeira experiência lendo-o inteiro.
Vou fazer isso de novo daqui um bom tempo, mas fora de ordem, abrindo uma página ao acaso, dando tempo ao tempo, no desfrute (como acredito que ele mereça ser lido).