Marcos Ogre 23/04/2023
"Fue tan bello vivir cuando vivías!"
Reencontrando Neruda pelas palavras que precederam sua morte, que jeitinho simpático.
Últimos Poemas (ou O Mar e os Sinos, nome que eu prefiro bem mais), como bem diz o titulo, traz alguns versos escritos por Pablo Neruda no fim de sua vida. O tempo se faz perceber em cada texto aqui, com o peso que convém aos sentimentos que ele evoca.
Neste livro, o mar e os sinos fazem música para a saudade, a nostalgia, enfim, a memória. Os poemas, livres e sem uma linguagem pré-estabelecida (não uma que eu tenha percebido, pelo menos) falam sobre o amor romântico, resumido na imagem e na ideia de Matilde, esposa de Neruda; sobre o amor à terra e ao povo, no largo corpo do Chile; e também sobre o amor à natureza em geral, composta por suas belezas particulares e pelas pessoas que adicionam componentes a ela. É um livro muito bonito, para despedidas e descobertas finais.
Minha única ressalva foi com a tradução, que evitei porque achei bem ruinzinha. Mas, para quem prefere ler no original, elas servem como um apoio eventual.
Meus poemas favoritos foram "Cuando yo decidí", "Declaro cuatro perros", "Cada día Matilde", "Si cada día cae", "Nombres", "Esperemos", "Sangrienta fue", "Final" e, meu favorito, "Sucede", que reproduzo aqui:
Golpearon a mi puerta el 6 de Agosto:
ahí no había nadie
y nadie entró, se sentó en una silla
y transcurrió conmigo, nadie.
Nunca me olvidaré de aquella ausencia
que entraba como Pedro por su casa
y me satisfacía con no ser:
con un vacío abierto a todo.
Nadie me interrogó sin decir nada
y contesté sin ver y sin hablar.
Qué entrevista espaciosa e especial!