Jhoni 19/04/2024O melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão.Machado nos faz observar como as pessoas enxergam o mundo através da sua posição, logo, como o ser humano justifica a crueldade, a desumanização, por não estarem inseridas em um ambiente de vulnerabilidade. Naturaliza-se o sofrimento alheio. Ao vencedor, as batatas.
Através do personagem Quincas Borba, Machado traz uma crítica do Humanitismo, filosofia propagada pelo personagem ao decorrer da narrativa. Se você prestar bem atenção na leitura, verá que o personagem celebra a crueldade. Se essa filosofia visa a guerra como seleção para os mais "aptos", quem tem o poder no Brasil de Machado de Assis? O homem branco!
O autor já coloca em pauta o discurso de "meritocracia". Temos um Brasil onde a mão de obra escravizada garante o privilégio da classe dominadora.
Para o Quincas Borba, epidemias são benéficas, o personagem naturaliza tal catástrofe como uma forma de higienizar a sociedade. Os mais fortes sobrevivem. E nisso a gente cai na ideia
de positividade tóxica, no discurso de que "a catástrofe veio para nos ensinar alguma coisa". Se a gente pega a pandemia da COVID 19, por exemplo, nós que estamos vivos, nos tornamos Quincas Borba ao olhar as vítimas como bolhas transitórias, como propõe o personagem. A vida daquelas pessoas não é importante? Eram vidas para nos ensinar alguma coisa? E nós somos os vencedores? Nós ficamos com batatas?
Quincas Borba é muito atual. Me faz refletir como é importante a gente parar de encontrar questões que justificam a injustiça social de modo a normalizar isso.