Andre.Trovello 06/06/2024
Ganhei na Mega Sena e olha no que deu...
2 anos... 730 dias... 2 invernos... 6 verões (porque o aquecimento global não ta respeitando)... 3 álbuns da Taylor Swift (não darei opiniões)... ZERO álbuns do Kendrick Lamar (mas uma treta HISTÓRICA com o Drake, então não reclamarei)... 1 copa (que a Argentina ganhou, vamo ignorar)... 2 restaurantes japoneses (caros) abertos no meu bairro..... 4 lojas de RS1,99....... 2 postos de gasolina........ 1 UPA......... tudo isso aconteceu............................................................
e eu AINDA não me formei.
Pois é rapaziada, não ta fácil.
Mas isso aqui não é um atestado de incompetência acadêmica, ok??? Isso é sobre resenhas e sobre um hiato opinístico gigantesco.
Sim, eu sumi. Não, nada absurdo aconteceu. Sim, vou falar sobre livros de novo.
Então vamo lá.
Nessa semana, vamos falar de "Spin-offs".
Quando aquele personagem secundário da sua série/filme favorito esquece que a plot não é sobre ele, exala carisma por 5 minutos, gera empatia, amor e afeto... depois some e volta pro anonimato pelo resto do enredo.
"É só isso???" "Ela não vai voltar???" "Eles não vão mostrar a origem dela???" "A asiática que canta na rua no Homem Aranha 2 não vai ter sua históra contada?????"
Então você reclama, chora, esperneia... E CONSEGUE UMA SEQUÊNCIA.
Às vezes ela é tão boa quanto a obra original, tipo "Better Call Saul"; às vezes ela é só boa , tipo "Procurando Dory" e "Os Incríveis 2"; e às vezes você nem sabe que ela existiu, tipo "Joey", do Friends (eu não to inventando, pode olhar no google).
Mas, independente do resultado final, você conseguiu o que queria e pode finalmente ter a sensação de conclusão que tanto esperou desde a infância.
Esse livro é um desses casos. Em 1881, Machado de Assis publicou uma historinha chamada "Memórias Póstumas de Brás Cubas", dando um display dos personagens mais sórdidos, moralmente questionáveis e deploráveis que já existiram. Os leitores leram, releram, alguns fingiram que leram, e decidiram, em unanimidade, que pensar era sexy e que os filósofos mentalmente instáveis mereciam seu tão adiado reconhecimento. Eles então foram no X (naquela época ainda era Twitter), Machado viu e, em 1891, revelou ao mundo as 500 páginas (minha edição tem esse número, então vou assumir erroneamente que todas tem) de "Quincas Borba" e seu querido Humanitismo.
Antes de tudo, vamo esclarecer um negócio: 500 páginas é MUITA coisa. Especialmente quando você entende que esse livro foi primeiramente desenvolvido como um folhetim, ou seja, os capítulos dele eram periodicamente publicados em revistas ou jornais. Agora você pega isso, junta com a expectativa de vida daquela época de 3.5 dias úteis, soma, divide por dois, extrai a raiz quadrada, e chega à conclusão que um número considerável de gente não chegou nem sequer a ver como essa história terminava. Agora, os que não viraram camiseta de saudade, tiveram o prazer de acompanhar o maior esculacho à elite carioca já colocado em papel.
O livro conta a história de Rubião. Não, não é sobre o Quincas Borba, pelo menos não o que você ta pensando. Na história, ele só serve pra aparecer, cuspir toda aquela papagaiada lá de "Ao vencedor, as batatas!", depois falar "Por favor, cuida do meu totó" e morrer do jeito mais insalubre possível. Então, a herança do homem cai inteira no colo do nosso herói Rubinho, que, depois de amargar o salário de professor de escola pública por anos, finalmente tem a chance de forrar o bolso... se tomar conta do cãozinho do finado Quincas Borba, chamado, pasmem, QUINCAS BORBA (que é um nome muito melhor pra cachorro, diga-se de passagem).
Recebida a notícia, Rubião precisa agora vencer o peso na consciência de sugar do sucesso do seu melhor amigo, que ele literalmente supera na página 2, e se mudar para a capital Rio de Janeiro, onde terá que amargar os horrores e injustiças da difícil vida de burguês. Ele pega um trem pra nossa cidade maravilhosa e conhece o ca$al de afortunado$ Sofia e Cristiano Palha, formando assim uma linda e despretensiosa amizade.
Pronto, esse é o enredo. Tudo que vem depois são críticas e filosofia disfarçadas de jantares de rico e infidelidade. Porque só tem uma coisa que Machado gosta mais que falar da elite carioca: falar sobre traição na elite carioca.
Dessa vez, ele aposta novamente na fórmula do triângulo isósceles do amor, onde os dois personagens masculinos têm mais chance de terminarem juntos do que qualquer um deles tem de terminar com a garota; criando uma trama centrada em amor e aceitação social na qual Rubião precisa lutar mais por sua sanidade do que qualquer outra coisa.
É genial! Mas diferente das suas outras obras primas.
Primeiro porque os capítulos não têm mais título, te deixando órfão de coisas como "Olhos de Ressaca" e refém dos "CXXVIII" e outras baboseiras que se é possivel fazer com os algarismos romanos.
Segundo, porque esse livro é uma mistura.
Alguns diriam que ele é fruto da maturidade literária de Machado, mas acho difícil chamar de imatura a pessoa que criou a Capitu. Ele sempre foi à frente do tempo, esse livro é só um estilo diferente. É como se a cada duas páginas irônicas de Memórias Póstumas, você juntasse a seriedade e a descrição emocional/psicológica de Dom Casmurro.
O resultado é uma mensagem poderosa sobre as relações sociais com críticas muito sutis, porém extremamente poderosas e assertivas. Em outras palavras, é o "Esqueceram de mim 3" da literatura: genial e subvalorizado.
Leiam!
É isso queridos, sabe-se lá quando vou voltar a escrever aqui de novo, porém prometo, quando reaparecer, fazer unboxing do meu diploma aqui.
Abração.
Paz ??