Luís Carlos Sousa 21/08/2020De fã pra fãTive sentimentos muito mistos quanto ao trabalho de Chip Zdarsky em "Homem-Aranha: história de vida". Enquanto fã do aracnídeo (colecionei "Homem-Aranha" e "Teia do Aranha" dos 13 aos 20 anos, sobrevivendo de lançamentos mensais e visitas a sebos pra compensar o tempo em que ele era publicado e eu não nascido) li uma história que honra os fundamentos do personagem e apresenta uma gentil abordagem que, mesmo que não seja muito original, une bem os pontos de quase 60 anos de histórias numa linha temporal real e lógica, dando enfoques históricos a uma cronologia bagunçada e confusa (como acredito que deva ser todas as HQs serializadas de super gente) e apelando pra emoção dos fãs em vários momentos, acredito que facilmente marejando os olhos de quem tem o pequeno Peter no coração desde, pelo menos, os anos de 1980.
Por sua vez, saindo do hermetismo de fã, a HQ (principalmente nessa versão única, compilada) perde força narrativa, soando como um produto apressado e, por vezes, cansativo. Personagens relevantes ao herói, como May, Mary Jane, Gwen, Harry e Norman Osborn, Ben Reilly, são pouco exploradas, tendo suas histórias vinculadas a Peter e "úteis" quando parecem convenientes. Me pergunto se um leitor neófito no cabeça de teia realmente se importaria com tais personagens se lesse esse livro. Ao mesmo tempo, Zdarsky parece querer emular o estilo de JM Dematteis (escritor do Aranha durante muito tempo e que, acredito, deve ter sido uma forte influência), mas não chega a ter a mesma "classe" que o experiente roteirista - apesar de ter sim seus momentos inspirados.
Por fim, a escolha de Mark Bagley para os desenhos pareceu óbvia, mas nada bem administrada. O desenhista se mostra cansado em vários momentos, repetindo uma fórmula própria, o que não é condenável, mas a arte final não sustenta o traço, tendo momentos bons, mas não excelentes, e momentos tão preguiçosos que soam como um desrespeito ao lapista. Faltou cuidado ao editorial para um desenhista de 63 anos que precisa de uma equipe de apoio condizente à sua história com o personagem.
Por fim, "HA: História de Vida" não é um quadrinho ruim, pelo contrário, é aquele bom papo de fã pra fã, mas, infelizmente, descuidado, que recebeu mais elogios que deveria e menos atenção editorial que merecia.