Adriano 17/12/2022
Pretendendo iniciar a leitura de Sherlock Holmes, e já tendo lido muitos contos escritos por Edgar Allan Poe, resolvi finalmente dar uma chance à C. Auguste Dupin, considerado por muitos o primeiro detetive da literatura, e inspiração para o personagem de Arthur Conan Doyle.
Logo de início, ao buscar uma edição que contemplasse os três contos com a presença de Dupin, me deparei com avaliações sobre o quão enfadonho e pouco interessantes os contos eram, em especial o segundo. O que encontrei, não poderia ter sido mais diferente. Embora sim, haja muitos momentos "chatos" e cansativos no decorrer de tais contos, os mesmos funcionaram para mim, e acabei finalizando a leitura desta edição em um único dia.
- Em "Os assassinatos da rua Morgue" (o melhor dos três contos) conhecemos Dupin, e acompanhamos, junto à ele e ao narrador, sua perspicácia em um caso de assassinato de mãe e filha, em uma residência onde aparentemente ninguém poderia haver entrado ou saído, e onde as evidências apontam para o uso de força sobre-humana.
- O segundo conto, "O mistério de Marie Rogêt", é interessante por seu contexto. Poe se baseou no assassinato de uma jovem de nome Mary Rogers, amplamente noticiado na imprensa na época. Assim, mudando nomes e pequenos detalhes, Poe praticamente descreve todos os eventos relacionados ao assassinato real, e até mesmo propõe rumos para os quais a investigação deveria seguir. Uma vez que temos aqui um conto baseado em um crime real, cujos desdobramentos ainda ocorriam, a estrutura do texto se resume ao narrador e à Dupin analisando notícias de vários jornais da época sobre o crime. Particularmente, toda essa estrutura incomum me foi bem satisfatória e envolvente, ainda que aparentemente essa opinião não pareça ser muito popular entre os fãs de Poe.
- "A carta furtada", o terceiro conto (esse sim o mais fraco em minha opinião) e mais curto entre os três, traz Dupin e os narradores recebendo o pedido de ajuda de Monsieur G., chefe da polícia parisiense. Aparentemente uma carta de valor político inestimável teria sido roubada dos aposentos reais, e ainda que a identidade do ladrão seja conhecida, a polícia, que precisa agir discretamente, não consegue encontrar a correspondência, mesmo utilizando todo a equipe e material necessário para vasculhar cada centímetro da residência do indivíduo.
Ao final da leitura, saí satisfeito, percebendo que o medo inicial de encontrar contos enfadonhos era infundado. Por mais que em alguns momentos Poe divague muito, e o texto pareça rumar para locais sem muito sentido, tais momentos foram pouquíssimos diante de toda a obra. E tendo conhecido Dupin, agora buscarei conhecer outro detetive, desta vez o mais famoso da ficção.