Fefê 04/03/2021
Uma "Ilustre" leitura
Foi meu primeiro romance lido de Eça de Queirós, era uma dívida que eu tinha para com este grande escritor português, porém, quase me decepcionou. Quase, por que no começo da leitura, até quase a metade do livro, foi difícil prosseguir, sempre com verbetes esdrúxulos e desconhecidos, de um tempo antigo, de uma cultura diferente. Por sorte, continuei pacientemente, e pude perceber, do meio para o fim, a grandiosidade da obra, com um livro sendo escrito e narrado dentro da obra principal. Inclusive com diferença de linguagens, o que já tornaria esta obra grandiosa. Mas além disso, a própria caracterização do personagem principal, o "Fidalgo da Torre", Gonçalo Mendes Ramires, com seus medos e covardices, mas também com sua bondade e amor ao próximo, principalmente aos mais necessitados.
Realmente, fiquei fã do Gonçalo.
Com a decadência da família Ramires, e dos grandes fidalgos de Portugal, ele, apesar de ter seu sustento garantido pelos arrendamentos de suas propriedades ( o que não chegava a ser nenhuma fortuna), resolveu escrever um livro, uma novela que contasse um pouco das façanhas de seus antepassados Ramires, família tradicional e mais antiga que o próprio país Portugal, com o intuito de revitalizar o nome da Casa de Ramires, ao mesmo tempo que impulsionaria a sua entrada na vida política, através da eleição a um cargo de prestígio que sua região poderia lhe proporcionar. Desta feita, havia a atividade de Gonçalo Mendes Ramires escrevendo sua novela de modo a satisfazer seu editor, que constantemente o cobrava deste intento, e seu dia a dia em sua propriedade "A Torre dos Ramires" dentro de seu intento em avançar com o propósito de se eleger a deputado por sua região. São várias situações interessantes que contam um pouco de sua vida decadente de um mundo que não volta mais, como Fidalgo da Torre milenar que passou por grandes lutas durante esse tempo.
Eu avalio duas cenas principais deste livro, como a que, escondido, ele ouve sussurros de dois amantes, sua irmã Gracinha (casada com Barrolo) e seu amigo antigo André Cavaleiro, na mansão de sua irmã, e se preocupa muito, pois foi por sua culpa, ao reatar amizade com o governador civil André, que este pode retomar sua também antiga paixão em Gracinha, agora casada. E a outra cena marcante foi quando o Gonçalo, ao dar sua cavalgada de sempre pela região, encontra um terrível homem mau-caráter, que já o havia insultado em outra ocasião, junto de seu sobrinho e parceiro em maldades, e, em vez de fugir covardemente como seria normal de sua personalinade, resolve enfrentar o perigo e dá uma lição nos dois através de um chicote herdado de seus antepassados.
Há outras cenas fantásticas, como aquela última da novela que estava sendo escrita por Gonçalo, que é a morte do cavaleiro Lopo de Baião, o Bastardo, amarrado nú semi-emergido num lago repleto de sanguessugas. Esta foi a vingança do avô de Gonçalo Ramires, o velho Tructesindo Mendes Ramires, pela morte de seu neto querido Lourenço Ramires pelo próprio Lopo de Baião.
Realmente um grande livro este "A Ilustre Casa de Ramires", pouco conhecido, mas escrito por um grande escritor português em sua fase mais madura.