vasilisamorozko 04/04/2021
Aquele Medo Que Vira Sua Indicação Favorita
"Muitas vezes, ao longo de sua vida, estremeceu ao ver quanta desumanidade existe no homem, quanta grosseria selvagem esconde-se sob o refinamento, a cultura, as palavras elegantes e - meu Deus! - mesmo naqueles que a opinião geral reconhece como pessoas dignas e honradas."
#61 - Sabe quando você tem medo de ler um livro pois acha que vai ser muito difícil, e mais, que será um grande e monstruoso desafio? É assim para mim quando o assunto é literatura russa. Depois que tentei ler "A Morte de Ivan Ilitch" meio que me senti traumatizada e sempre enrolo sobre esses escritores.
Quando o Capote foi lançado nessa edição senti uma dor no peito por não ter coragem e nem forças pra encarar essa leitura, e foi assim que acabei enrolando, e só mais tarde, colocar ele oficialmente em uma tbr e seguir com ela em ordem numérica - fazer isso é mais difícil do que parecia inicialmente.
E quando a vez de "O Capote" finalmente chegou respirei fundo e fui lá encarar sem medo.
Minha gente, nem sei como dizer que estava enganada sobre esse conto, NADA do que eu achei que seria aconteceu na história.
Logo no começo quando li a frase "Hoje em dia, o indivíduo pensa que qualquer insulto dirigido à sua pessoas é uma ofensa contra a sociedade inteira" eu já sabia que ia gostar e dar cinco estrela, e não estava enganada. A história é sobre Akaki, um homem que não tem dinheiro para se dar ao luxo de comprar uma nova peça de roupa, no entanto, seu capote antigo está pior que pano de chão, assim, ele tem que dar seus pulinhos e se virar para não passar frio.
Akaki foi um personagem muito fácil de se apegar, e mais, se importar de primeira, quem é que não tem ou já teve um cofrinho e passou por um perrengue?
Depois que ele conseguiu sua nova peça de roupa tudo parecia ir bem até ele ser roubado. Nossa, nessa parte sofri com o Akaki, a felicidade dele durou o que, dois segundos? três? Que tipo de recorde ele está tentando quebrar? Melhor, o que o universo tem contra pessoas pobres sendo feliz?
Enfim, com nada mais a fazer ele resolve dar queixa à polícia, o que comprova que as pessoas desse planeta tem um problema sério com roupas e vítimas, e não importa a época, porque saca só:
"Um deles foi imediatamente chamar o chefe, que então escutou a estranha história do roubo do capote. Em vez de direcionar sua atenção aos detalhes principais, ele começou a interrogar Akaki Akakiévich. Por que estava voltando para casa tão tarde? Tinha o hábito de fazer isso, ou só estava em algum estabelecimento de pouco prestígio?"
Meu policial... O que????? Fiquei indignada nesse trecho de uma forma. E como se não estivesse ruim o suficiente ele ainda tenta falar com seus superiores para ver se consegue uma solução e é simplesmente humilhando.
Daqui para frente a história só fica melhor, não esperava que ela tomasse o rumo que tomou ou que ficaria muito surpresa ao ver que se tratava de uma história de Gasparzinho. Estou honestamente arrependida por não ter dado uma chance antes pois essa história foi fascinantemente agradável.
Trecho com spoiler:
“Um vigia da repartição foi enviado até a residência com a ordem para que Akaki Akakiévich se apresentasse imediatamente ao chefe da seção. Mas o mensageiro teve que voltar sozinho e informa que Akaki Akakievich não poderia ir, e quando perguntado por quê, respondeu "bem, porque ele está morto."
Olha só se não é Taylor Swift de 1842 hihi - sim, dei risada por um segundo e depois voltei a ficar com raiva pelo final de Akaki.
Sério, estou muito feliz por ter conhecido esse projeto da Wish, e muito mais feliz por ele ser repleto de histórias maravilhosas, recomendo todos os contos disponíveis (uns mais que os outros, claro!) pois todos eles são muito bons.