A doce canção de Caetana

A doce canção de Caetana Nélida Piñon




Resenhas - A doce canção de Caetana


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Carla 22/01/2013

Livro denso
Não sou de resenhas, mas como abandonei o livro me sinto na obrigação de escrever o porquê abandonei a leitura.

Preciso dizer que o livro é denso, e parece bom, mas é o tipo de livro que precisa de calma para ler, não dá para ler no trabalho ou no metrô.

Esse livro é aquele tipo para ser lido no descanso do lar e de coração aberto.

Certamente farei isso em breve.

Agora nas férias peguei e termnei de ler, o meu problema com esse livro é que não gosto dos personagens principais, um velho rico, uma atriz fracassada e um bando de baba ovos em volta.

Não curti, mas que gostar de ler um livro bem elaborado eis uma boa opção.
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Rosa Santana 17/10/2010

A Doce Canção de Caetana
Nélida Piñon

Até que enfim*, acabei de entoar com Nélida "A Doce Canção de Caetana"! Gostei muito. Na verdade a canção ecoada não é tão doce como sugere o título. Ou se o for, o é pela forma com que Nélida traça seus acordes, exímia construtora do texto narrativo que é.

O livro conta das andanças de Caetana, uma atriz e seu circo, por um país pobre e desprovido, onde a arte é tão pisoteada, tão desprestigiada e sem valor, sobretudo para o poder político-econômico... E isso tudo durante o período da ditadura militar, mas propriamente o governo de Emílio Garrastazu Medici. Poderia, então, ser essa uma cantiga doce?!

Há até uma parte em que a autora narra a passagem de Caetana e do circo pelas minhas paragens: por Goiás Velho/GO, onde o tio morreu (cidade que detém hoje o título de Patrimônio Cultural da Humanidade) e por Pirenópolis/GO, com a festa das cavalhadas, que agora se tornou Patrimônio Cultural da União (a festa dAs Cavalhadas!) Isso me fez sentir parte da "Canção", como se fosse umas das notas que a compuseram (e a compõem à medida em que o livro é lido!)

A par disso, Nélida nos conta de Trindade, uma cidadezinha do interior (de que estado mesmo?), onde Caetana morara e conhecera as personagens que também se dispõem a compor a orquestra, para a sinfonia. São elas que ficam à espera da atriz que se fora sem se despedir. Essa volta lhes possibilita o reencontro com elas mesmas, já que o tempo em que Caetana estava ausente, era, apenas, o de espera de um futuro (a chegada) que lhes repetisse o passado (vivido com a atriz), mas que nem mesmo elas têm certeza de que virá/ se repetirá! Desviam-se, assim, do próprio destino, em vista de um outro, de amanhã. Ah, essas pequenas mortes de cada dia...

Então, após vinte longos anos de espera e de distanciamento (porque ela nunca esteve ausente!), Caetana retorna, agora com sessenta anos. E traz consigo sua altivez e sua independência, sua galeria de personagens. Quem é, realmente, Caetana? Em que plano se situa? É essa posição oscilante que a atriz carrega e que “repassa” às personagens com quem convive, que mais me encantou no livro. Porque elas, ora se sabem “reais”, ora claramente se posicionam no plano da imaginação, da arte, da representação, da “mentira”, como elas mesmas dizem. O leitor também, mirando-se nesses “espelhos” se vê refletido nesse jogo.

Caetana chega à cidade com o intuito de preparar o “gran final”. E reúne, então, as pessoas que a ajudarão a compô-lo: Polidoro, seu sempre apaixonado ex-amante, um professor de História, um farmacêutico e as amigas, prostitutas, com quem morava, antes de se ir da cidade. Envoltos todos em uma atmosfera de mistério, já que, não sabendo os papéis que representariam, não se vêem devidamente preparados. E o espetáculo final, em que Caetana dublaria Maria Callas, se configura como um grande fiasco, já que a esposa de Polidoro, enciumada, se juntara ao delegado para frustrar a apresentação...
E a “doce” canção de Caetana se desentoa, porque a vitrola é desligada, sub-repticiamente por um “amouco” do delegado, que era comandado pelo poder político da cidade, ligado ao governo Médici, claro! E fica a amarga constatação: o que é a arte, diante da realidade em si? O que é arte diante de uma realidade tirana, opressiva e violenta como foi a do período da ditadura militar?

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*Quando digo isso é por que o livro ficou por muito tempo em minhas mãos, para leitura. Não por estar desgostando dos solfejos, mas por problemas outros, que me impediam de acelerá-los...

Recomendo!

Trechos que destaco:

“ – Por que levou tantos anos para me falar das visos de Vivina?
- Porque vc não teria acreditado. Como iria aceitar que as mulheres têm uma intuição extraordinária? E que foram sacerdotisas e membros das castas religiosas no início das civilizações? Talvez por isso lhes falte, ainda hoje, noção de limite entre os objetos domésticos e os outros, sagrados. Estão todos misturados na cozinha, na sala, na cama. Os deuses das mulheres participam do cotidiano da casa, até mesmo na hora em que elas temperam o feijão.” (página 28)

Caetana olhou a palma da mão direita. As diretrizes do destino estavam estampadas ali. As linhas regentes pareceram-lhe esfumadas. Além do mais, não herdara a habilidade do tio para interpretá-las. Vespasiano, porém, por conta do bom humor, inventava sempre um destino que fosse compatível com o sonho do interlocutor, tudo no empenho de fazê-lo feliz. A ilusão, segundo ele, devia vir junto com a claridade do dia e o primeiro gole de café. Convencido desses tesouros, acordava a sobrinha.. (...)” (página 102)

“- Até a vinda para Trindade, tive esperanças de retornar um dia ao Rio de Janeiro. Depois, porém, segui o tio até sua morte. Quando o enterramos, em Goiás Velho, aonde nunca mais voltei, elegi esses povoados feios como meu único palco. (Página 167)

“Não é verdade que os artistas disputam com os deuses o direito de representar as histórias dos homens? E querem usurpar à força o trono desses seres divinos? Ah, maldito ofício que me deixou pobre e sem teto, disse, enraivecida, sem se lembrar de Polidoro ao lado.” (página 168)

“Só a arte se opõe à mediocridade, murmurou para si mesma.” (página 335)

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