Stella F.. 28/03/2022
Uma beleza emocionante!
Um lugar bem longe daqui – Delia Owens – Intrínseca - 2018
A autora americana Delia Owens é cientista e escritora. Tem artigos e livros publicados por seu trabalho de 20 anos na Zâmbia, África. Este é seu primeiro romance, que já foi traduzido para 30 idiomas e o trailer da adaptação cinematográfica já está em circulação.
“Um brejo não é um pântano. Um brejo é um lugar de luz, onde a grama brota na água e a água escoa para dentro do céu.” (posição 103) Logo no início sabemos que um corpo foi encontrado no pântano “que o teria absorvido em silêncio, como parte da rotina.” (posição 109)
O livro intercala entre o passado (década de 1950 e 1960) e a atualidade da investigação da morte (1969-70). Vamos conhecendo a vida da menina Kya, seus irmãos, pais e o brejo e tudo que ele representa para essa família.
Ela é muito pequena, apenas com 6 anos quando sua mãe (Ma) abandona a todos e vai embora sem olhar para trás. Ficam então ela, seu irmão Jodie, a quem ela venera, e seu pai (Pa). Sua mãe foi embora por ser sempre espancada pelo marido que estava sempre bêbado. Ele é agressivo também com os filhos. Veio de uma boa família, mas após um tempo servindo no exército, voltou traumatizado, e sentindo-se culpado, e passa a beber para esquecer. Os outros irmãos da menina já não vivem com eles. Ela não sabe exatamente seus nomes e os chama pelos apelidos. Em breve, Jodie também irá embora, e ela vai ficar com o legado que ele deixou, todo o conhecimento sobre o brejo, seu funcionamento, seus pássaros, e o conhecimento das rotas pelo mar que ela utilizará em uma pequena canoa para conseguir o seu sustento, no início escondida do pai, e depois junto dele. Apesar de nunca ter se relacionado muito bem com o pai, por um tempo conseguem conviver melhor, mas o pai depois de um tempo a abandonará.
Kya vai aprender a se virar sozinha e sobreviver do brejo, e de tudo que ele pode trazer para ela e como é muito inteligente, apreende tudo que a natureza tem para mostrar para ela. Além disso vai fazer amizade com Pulinho, o dono de uma loja de abastecimento e sua esposa Mabel, que vai conseguir para ela roupas e ajudá-la em alguns momentos cruciais. Enquanto tenta sobreviver revê um amigo do irmão, Tate, que vai se tornar um grande amigo dela. Os dois têm em comum o amor pela natureza e pelo brejo. Começam a amizade com um jogo onde cada um deixa uma pena mais rara para o outro, e Tate acaba se disponibilizando a ensinar a Kya a ler e escrever. Ela possui em seu barraco, uma coleção de penas, conchas e vários outros artefatos. Ele fica admirado como ela cataloga tudo, sem saber ler nem escrever. O amor entre eles é puro e bonito, assim como as cenas em que passam no brejo, são descritas com uma gama de detalhes e com uma beleza emocionante. Mas ele também a deixa e ela sofre muito e diz para si mesma que nunca mais vai gostar de ninguém.
Kya é tida na sua comunidade como a Menina do Brejo, o lixo do brejo, porque nesse ambiente, há um histórico de que as pessoas que escolherem morar aí ou são fugitivas, ou são a escória. Kya não vai à cidade nunca, apenas quando é muito necessário. Ela é diferente, por isso é malvista e devido ao seu comportamento surgem muitas lendas e estereótipos a seu respeito. As pessoas não acreditam e não sabem da importância do brejo, acreditam que ele deveria ser aterrado, porque não serve para nada.
Os anos passam e ela se sente cada vez mais sozinha, e acaba se envolvendo com Chase, um rapaz bonito, cheio de amigos, mas que se aproxima dela por curiosidade. Ficam juntos por muitos anos e ela acredita que ele a vá assumir. Mas ele a engana e ela descobre isso sozinha. Se afasta dele, mas ele insiste, e essa relação não vai acabar bem.
Tate volta e ela depois de custar a perdoá-lo, retomam a amizade. Ele a ajuda a publicar livros envolvendo toda a coleção que ela possui catalogada e aquarelada. Fica famosa com os livros e os habitantes do lugar começam a vê-la um pouco diferente, e até a ver o brejo com outros olhos.
Mas, ela é acusada de assassinato e vai ser presa. Fica desesperada e ao final consegue sair da prisão por falta de provas. Os amigos estão lá para confortá-la. Vale ressaltar que havia segregação racial e os negros (Pulinho e Mabel) não podiam ficar no tribunal, somente do lado de fora. O assassinato não fica esclarecido e passam-se muitos anos. Ela e Tate vivem juntos.
O capítulo final começa devagar, e aos poucos nos surpreende por dois acontecimentos muito importantes e descobertas incríveis.
Livro muito bom, sensível, sofrido, belo, e que nos mostra mais uma vez que ser diferente do estabelecido é sempre muito difícil e que não sabemos do que o outro é capaz, principalmente quando está envolvida sua dignidade e respeito.