Luiz 02/07/2014
Antes que a Copa acabe… Pra gente
A poucas horas das férias, decidi vasculhar minhas prateleiras e reunir todos os livros que tratem de futebol.
Pretendo lê-los e relê-los, entre um jogo e outro, nesse breve tempo que vou ter de paz. Enquanto durar a Copa, é claro.
Me conheço . Sei que, se o Brasil perder, o desgosto vai fazer com que devolva todos pra estante.
Esse da foto é uma joia. Cuentos de Fútbol Argentino, de Roberto Fontanarrosa. Trouxe da Argentina, quando voltei de uma das inúmeras viagens solitárias que fiz por lá.
Trata-se de uma coletânea com autores argentinos, além do uruguaio Diogo Lucero, que nasceu jogando e escrevendo sobre futebol.
O livro começa com a dupla Borges/Casares. "Esse est percipi" que especula sobre um tempo quando a comunicação de massa suplantará a realidade. O narrador descobre tal tragédia, quando lhe contam que nem partidas de futebol seriam mais necessárias.
“No dejé de notar que venía faltando em su lugar de siempre el monumental estadio de River.
No lugar da realidade, tudo não passaria de gêneros dramáticos, forjados por atores e locutores e transmitidos na mídia. Nem partidas de futebol, nem inauguração de escolas, nem a conquista do espaço. Tudo patraña.
No final, o conto se bifurca. Não se sabe exatamente se os autores criticam a tecnologia da comunicação ou, na verdade, tecem loas aos gêneros dramáticos, cujas narrativas seriam a própria realidade das coisas.
É conhecido o desprezo que Borges dispensava ao futebol, que tampouco foi paixão de Casares na vida adulta.
Este criticava o esporte como espetáculo; aquele entendia a realidade como passível de ser armazenada dentro de uma biblioteca.
Taí a riqueza de se escrever um conto a quatro mãos. Aposto que nem eles mesmos tenham chegado a um acordo sobre qual caminho tomar.
Irônicos, encerram o conto, deixando o narrador tão intrigado como o leitor. E se divertem com ambos: “…então, o telefone tocou, ele levou o tubo ao ouvido e aproveitou a mão livre pra me indicar a porta de saída.”