Resenhas -

rayssadioli 30/12/2023

Uma das melhores leituras do ano, eu não poderia ter encerrado o ano de uma forma melhor. Mergulhar nos pensamentos de alguém tão ?indiferente a tudo? foi surpreendentemente interessante.

O livro é escrito através da perspectiva do protagonista, de modo que ele narra os acontecimentos como se fosse um diário. A escrita é sucinta, e a história te prende, ficando difícil interromper a leitura após começá-la.

Esse personagem principal, que se chama Meursault, causa estranheza à primeira vista, de fato ele se distingue bastante dos outros personagens (daí o motivo do nome do livro, ele é como se fosse alguém totalmente fora do padrão de normalidade da sociedade), de maneira que eles próprios enxergam isso, principalmente na segunda parte, que acontece o tribunal. Mas essa indiferença exacerbada é visível desde a primeira frase do livro, apesar de que eu não tenha achado isso tão explícito, já que não manifestar pesar também é uma forma de luto, porque cada um lida com a perda de uma forma. Contudo, essa forma de pensar tão distinta vai ficando cada vez mais nítida conforme o andamento da narrativa. Além disso, não é só ele que age de maneira incomum, mas muitas pessoas próximas a ele também, só que seu desinteresse a praticamente tudo se sobressai às ações dos demais.

Como já afirmei antes, acontece o tribunal na segunda parte. Esse processo de condenação ocorre devido ao crime que ele cometeu no fim da primeira parte, deu fim à vida de um homem.

O fato de ele não ligar pra nada me irritou bastante no início, mas, conforme o avanço da leitura, eu me sentia com pena de dele? O autor faz com que você mergulhe nos pensamentos do personagem, então fica fácil de sentir empatia pelo mesmo.

É apenas no final da história que notamos alguma ação emotiva de sua parte, já que, ao entrar em contato com o padre na prisão, ele se recusa a aceitar a religião do último, mostrando forte repulsa a isso. E, a partir disso, torna-se possível enxergar que, apesar de tudo que foi nos apresentado, ele tem suas opiniões e valores.

O ponto forte do livro são as reflexões sobre a existência que ele encaminha o leitor a fazer. O autor mostra o absurdo que é buscar um sentido para a vida, a qual não tem um significado, e ele faz isso através das distintas ações apáticas de Meursault.

O final foi a melhor parte pra mim, pois, quando o protagonista vê que a sua probabilidade de ser executado é alta, ele se amedronta diante disso, dando para sentir seu temor através dos seus escritos. E seus pensamentos, nessa parte, foram os que mais me fizeram interromper a leitura e ponderar sobre tudo.

Enfim, foi um livro que, mesmo sendo curto, me proporcionou uma experiência única, fazendo com que eu não tivesse outra alternativa senão o favoritar. Depois de ter me surpreendido positivamente com esse livro, estou ansiosa para ler os outros do autor.

lectervale_ 14/11/2021

estranho e interessante
"My mother died today. Or maybe yesterday, I don?t know."

Um livro que começa com ESSE quote promete MUITO. E 'The Outsider' ? ou 'The Stranger' dependendo da tradução ? entregou tudo e muito mais. Eu sabia mais ou menos o que esperar, e não fiquei desapontada. É uma narrativa filosófica, profunda e muito bem escrita, que levanta vários tópicos pra discussão; eu nunca li nada igual.
A primeira parte é um pouco desconexa, na minha opinião, e os outros personagens poderiam ter aparecido um pouquinho mais e serem melhores explorados. Mas a segunda parte é espetacular. E o final--- sem palavras. É MARAVILHOSO.
A conversa entre ele e o sacristão foi o momento que mais me prendeu na leitura. E por fim deixo esse quote que é o meu favorito desse livro:

"For the first time in a very long while, I thought about Mama. I believed I understood why at the end of her life she had taken a ?fiancé?, why she had taken the chance to start over again. [...] So close to death, Mama must have felt set free, ready to live once more. No one ? no one ? had the right to cry over her. And I as well, I too felt ready to start life all over again. As if this great release of anger had purged me of evil, emptied me of hope; and standing before this symbolic night bursting with stars, I opened myself for the first time to the tender indifference of the world."

Esse foi meu primeiro contato com uma obra de Albert Camus e não me arrependo nem um pouco, inclusive quero ler mais livros dele. Em suma, recomendo The Outsider pra quem quer ler algo diferente, reflexivo e (meio) mórbido.