Mariah 17/03/2022
Colocamos Fédon e um Neurocientista para conversar kkkkkk
Título alternativo da resenha: A academia de Crossfit de Fédon.
Bom, essa é uma obra conhecida pela "anima/alma/âme/psychí", já que a alma de Sócrates, nela, está em jogo. Naturalmente, ele produz diversas questões diante de sua relação com ela. Mas, não se trata da relação de Sócrates, enquanto Sócrates, com a sua alma. E, sim, a relação, supostamente, de um filósofo com ela.
O que deveria ser tal relação.
Isso é respondido e defendido por ele em seus diálogos. No entanto, vos adianto: A relação com a alma, de um filósofo, diante de sua morte, é positiva enquanto esperança. Essa, de finalmente poder ter contato real com a verdade, a qual não poderia ser atingida em vida. Logo, estando prestes a morrer, fala sobre sua aceitação não como Sócrates, mas como um filósofo.
A obra trás um episódio emblemático para toda tradição filosófica (tendo repercussões até na mística do martírio.) A morte de um filósofo em cárcere, a morte de Sócrates. Nesse contexto, eis o exercício de morte. O qual cabe ao título alternativo da resenha. Na voz do Professor Marcus Reis (UFF) isso seria "Fazer filosofia é exercitar-se na morte. Assim, Platão, pela boca do personagem Sócrates, define a filosofia no diálogo, em que Sócrates fenece."
Filosofia essa, do exercício. O Crossfit do Fédon é uma aula de Crossfit certamente interessante.
No quadro seria escrito:
Filosofia = 25x aprender a morrer.
15x viver visando a morte.
20x se identificar com a alma e não com o corpo.
10x não temer (já que a alma é imortal)
5x consolo post mortem.
60x fofocar (já que a fofoca é o inicio do livro e gerou respostas de Sócrates diante do que pensava a respeito de sua condenação.)
Enfim, Platão, por meio de Sócrates, acaba tratando de questões como: O que é a morte? O que vai acontecer quando formos morrer? É possível não ter medo da morte?". Alguns defendem ser um dos temas mais difíceis e controversos de toda a obra platônica. Eu, já discordo.
Adentrando na obra:
_______Argumentos de Sócrates para a origem + a revivescência.
Argumento 1: O dos contrários em giro/em círculo.
"Porque se um desses processos não fosse compensado pelo seu contrário, girando, por assim dizer, em círculo, mas sempre se fizesse a geração em linha reta, de um dos contrários para o seu oposto, sem nunca voltar desta para aquele, nem andar em sentido inverso: fica
sabendo que tudo acabaria numa forma única e ficaria num só estado, cessando,
por isso mesmo, a geração.
Como assim? Perguntou."
Argumento 2: Analogia do despertar.
"Não é difícil, continuou, compreender o sentido de minhas palavras. No caso,
por exemplo, de existir o sono, porém sem haver o correspondente despertar do
que estiver dormindo,
bem sabes que acabaria por transformar em banalidade a
fábula de Eudimião, a qual não seria percebida em parte alguma, porque tudo o
mais ficaria como ele, num sono universal."
Argumento 3: Analogia com a consequencial confusão geral de Anaxágoras.
"E se todas as coisas se misturassem, sem virem a separar-se, dentro de pouco tempo seria um fato aquilo de Anaxágaras: a confusão geral."
Argumento 4: Da "impossibilidade" de tudo desaparecer.
(Aka.' Argumento 4: O de que viver proveria de algo diferente da morte se nela tudo desaparecesse, o que não é possível já que ambos provém de mesma origem.)
(Aka." Argumento 4: Após a morte não há de não haver. Não teria como desaparecer na morte, pois nada mais viveria. Podendo ser resumido em: "Se o que é vivo provém de algo diferente da morte e acaba por morrer: como evitar que tudo acabe por desaparecer na morte?")
"A mesma coisa se daria, amigo Cebete, se viesse a perecer quanto participa da vida, e, depois de morto, se conservasse sempre no mesmo estado, sem nunca renascer; não seria inevitável vir tudo a ficar morto e nada mais viver? Se o que é vivo provém de algo diferente da morte e acaba por morrer: como evitar que tudo acabe por desaparecer na morte?
Não há meio, Sócrates, respondeu Cebete, segundo penso; quer parecer-me
que te assiste toda a razão."
_______O conhecido como "Argumento Ontológico" do Fédon: A alma é imortal porque o conceito de alma implica o conceito de vida. E, o conceito de vida exclui necessariamente a morte. A alma é definida pelo seu próprio conteúdo conceitual, ou seja, vida. Logo, linguisticamente, seu significado se faz latente, imortal.
_______Colocamos Fédon e um Neurocientista para conversar kkkkkk
_______Parte (da obra) de maior destaque pra mim:
(Em que Sócrates mostra o motivo dele, enquanto filósofo, aceitar a morte./ Embrace the death.)
"Ora, a alma pensa melhor quando não tem nada disso a perturbá-la, nem a
vista nem o ouvido, nem dor nem prazer de espécie alguma, e concentrada ao
máximo em si mesma, dispensa a companhia do corpo, evitando tanto quanto
possível qualquer comércio com ele, e esforça-se por apreender a verdade.
Certo.
E não é nesse estado que a alma do filósofo despreza o corpo e dele foge,
trabalhando por concentrar-se em si própria?
Evidentemente.
E com relação ao seguinte, Símias: afirmaremos ou não que o justo em si
mesmo seja alguma coisa?
Afirmaremos, sem dúvida, por Zeus.
E também o belo em si e o bem?
Também.
E algum dia já percebeste com os olhos qualquer deles?
Nunca, respondeu.
Ou por intermédio de outro sentido corpóreo? Refiro-me a tudo: grandeza,
saúde, força e o mais que for, numa palavra: à essência de tudo o que existe,
conforme a natureza de cada coisa.
É por intermédio do corpo que percebemos o
que neles há de verdadeiro, ou tudo se passará da seguinte maneira: quem de nós
ficar em melhores condições de pensar em si mesmo o mais exatamente
possível o que se propõe examinar, não é esse que estará mais perto do
conhecimento de cada coisa? Ou não?
Perfeitamente.
E não alcançará semelhante objetivo da maneira mais pura quem se
aproximar de cada coisa só com o pensamento, sem arrastar para a reflexão a
vista ou qualquer outro sentido, nem associá-los a seu raciocínio[...]"
(X - 65c, 65d, 65e, 66a)