Heavy Metal e Criminologia

Heavy Metal e Criminologia Gabriel Teixeira Santos...




Resenhas - Heavy Metal e Criminologia


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Paulo Silas 17/03/2021

De uma sugestão despretensiosa surgiu o presente livro. A partir de uma ideia lançada, meio que por acaso, no âmbito do fortuito, num diálogo entre os organizadores, a coisa foi tomando forma. Reuniões virtuais com o fito de estabelecer as diretrizes do projeto, elaboração do edital, divulgação da chamada e a aposta no êxito da empreitada. E não é que deu certo? O resultado é esse que o leitor tem agora em mãos.
Se aquela velha história de que drogas mais leves servem como porta de entrada para drogas mais pesadas é controversa, cabendo as discussões sobre a problematização dessa máxima do senso comum, no caso do Heavy Metal pode se dizer que esse jargão é aplicável em muitos casos. Particularmente, comecei com coisa leve: Ramones e Nirvana, uma banda punk e outra grunge, constituíram a minha porta de entrada para o cenário do Metal. Ainda adolescente, entrei em contato com a música por conta de novos amigos que fiz – má influência, como certamente muitos disseram e ainda diriam (tal como Pierre Souto Maior bem explica no posfácio do livro). De coisas mais leves, a coisa naturalmente evoluiu para sons mais pesados e brutos como costuma ser o processo do contato com o Heavy Metal. Da adolescência para cá muita coisa mudou, claro. Eu sequer imaginava que estudaria Direito, por exemplo. Mas também muita coisa permaneceu – como cada vez mais forte e marcante. Meus cabelos compridos continuam, assim como as minhas camisetas de bandas que estão sendo sempre usadas quando o terno está no guarda-roupas. A paixão pela música de igual modo: sigo escutando o bom e velho heavy metal, desde as bandas clássicas até as contemporâneas que seguem mantendo o estilo vivo. Os amigos do metal da época da adolescência seguem firmes, colecionando ainda algumas boas histórias entre encontros presenciais da nossa vivência nesse âmbito. Além disso tudo, a nossa banda segue ativa. Mad Seek, em que toco baixo, permanece fiel e operante com o nosso heavy e thrash metal. Provavelmente é por conta de toda essa história, dessa vivência no heavy metal – que conta com vários dos autores compartilhando de histórias semelhantes da relação com a música -, que a condução de todo esse projeto foi uma tremenda satisfação. A nossa alegria, organizadores e autores, é indisfarçável.
Seguindo a linha que propõe analisar os fenômenos estudados pela criminologia através da música, mais precisamente o heavy metal, a obra contempla o diálogo entre a criminologia e o heavy metal, buscando assim realizar uma abordagem ampla de interdisciplinaridade. O livro que o leitor possui em mãos tem como proposta a reunião de textos que analisam e abordam criticamente várias temáticas que estão envoltas em discussões recentes pela ótica da criminologia, contemplando conjuntamente o olhar da música, de modo que, pela obra, o conteúdo proposto é capaz de gerar um debate salutar acerca das temáticas nela presentes.
Contando com autores de diversas formações e diferentes titularidades acadêmicas - situados em diversos estados brasileiros, de modo que a obra conta com a participação de pessoas de todo o Brasil -, o livro reúne excelentes trabalhos que realizam com êxito a interseção proposta. As temáticas sobre as quais o olhar da música e da criminologia se debruçam são tantos e variados: questões de gênero, ressocialização, prisão processual, processo penal do espetáculo, política de reconhecimento facial, a questão das drogas, suicídio, fundamentalismo, mídia, prisão, punição, migração e muito mais. Os referenciais criminológicos também estão presentes em diferentes vertentes, ou melhor dizendo, são alguns os paradigmas da criminologia que foram utilizados como base para os estudos feitos – criminologia crítica, criminologia cultural, labelling approach, teoria da subcultura criminal e algumas outras bases epistemológicas. Além disso tudo, não menos importante, o cenário musical que preenche as páginas desse livro é bastante amplo, contemplando diferentes estilos dentro (mesmo quando com um pezinho indireto) do Heavy Metal. Assim sendo, o leitor pode contar nas páginas seguintes com a aparição de bandas como Iron Maiden, Judas Priest, Sepultura, Nervosa, Black Sabbath, Slayer, Metallica, Megadeth, Children of Bodom, Death, Brujeria e outras tantas que fomentam o espírito crítico que permeia essa obra.
Com Alexandre Morais da Rosa assinando o prefácio e Pierre Souto Maior fechando com o posfácio, duas grandes personalidades do direito brasileiro que representam aquilo que podemos chamar de um verdadeiro pensamento crítico-jurídico tão necessário nos tempos atuais de um pensar amorfo que assola o país, o projeto é entregue aos leitores (juristas, acadêmicos, pesquisadores, músicos, entusiastas...) com a certeza de que se tem aqui um algo exitoso que somente pode ser assim considerado por conta dos trabalhos sérios e muito bem escritos dos autores que compõem a obra.
Heavy Metal e Criminologia foi uma aposta que deu certo. Vingou. Como de certa forma profetizou Alexandre Morais da Rosa no prefácio, uma edição vindoura atestará que essa proposta em parceria com os grandes amigos Gabriel Teixeira e Matheus Belló renderá outros frutos. Para o momento, o convite para a imersão nas páginas que seguem. Vale!


(Paulo Silas Filho - apresentação)
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