RAFAPREIS 01/09/2024
A edição para coleção
Eu conhecia Mary Shelley apenas por ler citações de suas obras em outros livros da mesma época e posteriores, com a ideia de que sua forma de escrever criara o que ficou conhecido como ficção científica. Este livro já estava nas minhas listas, mas eu sempre o deixava para depois porque achava que sabia do que se tratava Frankenstein. No entanto, era puro preconceito devido à influência hollywoodiana à qual fui naturalmente exposto ao longo dos anos.
Ao finalmente tomar a atitude de lê-lo, pude tirar minhas próprias conclusões. Para quem diz que este é apenas mais um livro do gênero horror, engana-se profundamente.
Aqui temos um poço sem fundo tratando de relações interpessoais, suas atitudes, princípios e preconceitos. Esta é a percepção que tenho com base numa análise superficial no alto da minha ignorância e mediocridade literária.
Primeiramente, deixo aqui minha surpresa ao descobrir que Frankenstein não é o nome da criatura. Como assim? Em segundo lugar, eu não tinha até então uma opinião formada sobre as intenções de Victor ao conceber a ?besta?. Victor, que após estudar longe de sua cidade natal, iniciou uma busca incessante por conhecimento e acabou sendo cegado pelo que seria a origem da vida, uma atividade até então exclusiva das divindades.
Quando seus esforços tiveram sucesso e a fera acordou, Victor teve um vislumbre do que acabara de fazer: trouxe ao mundo um ser que, segundo sua visão, seria capaz das maiores atrocidades e que não poderia ser controlado.
Com isso em mente, temos certeza de que o monstro nada mais é do que um ser sem consciência, vagando pelo nosso mundo. E é aqui que vem a grande surpresa para mim. O "Prometeu Moderno", como a autora se refere, possui não só vida, mas também raciocínio, pensamento e sentimentos. Sendo abandonado no ?nascimento? por seu criador apavorado, ele precisou aprender e desenvolver em pouquíssimo tempo o que nós, seres humanos ?normais?, levamos anos para assimilar mesmo com a ajuda e acompanhamento de nossos pais, familiares e amigos.
Nesse ponto, me coloco no lugar da ?fera? e, sem um tutor que pudesse me instruir, tento justificar as atitudes que ocorreram ao longo da história em relação ao desenvolvimento de caráter do monstro. Victor se vê perseguido e observado o tempo todo por sua criação. Em determinado momento, a fera lhe faz uma proposta para que lhe dê uma companheira de porte e proporções semelhantes, que lhe faria companhia. Em contrapartida, o casal maldito se isolaria nos polos longínquos do planeta para nunca mais serem encontrados. A proposta é inicialmente aceita por seu criador, mesmo com muito receio. Victor começa a criação de uma segunda criatura, mas, já abalado psicologicamente, destrói o que havia feito até então, causando a ira da besta que o observava e aguardava ansiosamente.
Esse último acontecimento transforma o livro em algo que considerei praticamente um Game of Thrones, onde cada personagem apresentado e ligado a Victor começa a ser morto, até que reste apenas o protagonista e o vilão para o desdobramento final.
Após ler Frankenstein, tive acesso a alguns contos da autora que vieram juntos na edição da Darkside Books e não pude deixar de notar sua fascinação por temas como imortalidade, sobrenatural, morte e volta à vida. Considerando a época em que foram escritos, isso instigou minha curiosidade.
Temos ação, romance, drama e suspense nesta que é a obra-prima de Mary Shelley, uma autora que, beirando os 20 anos, trouxe à vida uma criatura capaz de dar calafrios em qualquer um, mesmo 200 anos após sua criação.