spoiler visualizarThais Lima 04/01/2022
Só passei raiva
Esse livro foi mais um livro de leitura coletiva do clube do livro Reino Literário, da corte Austenland. Esse é o segundo livro que lemos do autor Gui Ribeiro, e eu tinha altíssimas expectativas para com este livro, visto que Um Cupido Sem Coração foi minha melhor leitura de 2021. Mas infelizmente, a leitura desse livro não teve o efeito que eu esperava e não chegou nem perto. Mas pra entender por que eu não gostei desse livro, eu vou precisar me aprofundar na narrativa, o que pode resultar em alguns spoilers, mas farei o possível para não abrir demais a história do livro. De qualquer maneira, recado dado e caixinha de spoiler marcada.
O livro conta a história de Benjamin e Elisa, ambos com suas dores, traumas e medos, cada um de uma forma diferente. Benjamin perdeu filho e esposa no mesmo dia, quando Vanessa morre por complicações no parto e o bebê também não resistiu. Já Elisa era uma lady da aristocracia britânica, mas depois que seu irmão perdeu absolutamente tudo jogando e bebendo, Elisa acaba sendo um dos itens de aposta dele e acaba sendo perdida na mesa do jogo, resultando em um contrato de casamento pré-estabelecido que compromete a moça a se casar com um barão cruel. Para escapar do seu destino, ela escapa e se estabelece em Cheshire, o condado de Benjamin, e conseguindo um emprego como criada na casa dele. E aí a história começa.
Benjamin é um personagem que eu não gostei de cara. Apesar da backstory sofrida do nosso mocinho, ele não me provocou empatia porque eu achei que muitas vezes ele se comportou como um garotinho mimado e egoísta, e perder a esposa não justifica ele usar Elisa para confrontar sua mãe e a noiva escolhida por ela, colocando a garota numa situação complicada porque simplesmente decidiu aparecer com ela no baile de noivado SEM contar para ela que era um baile de noivado. Eu achei uma atitude péssima e de mal gosto, e era algo que poderia ter dado muito errado para Elisa já que estava cheio de jornalistas no baile e talvez ela pudesse até ser encontrada por seu algoz. Não foi o que aconteceu, mas poderia. Ele não pensou nas consequências disso na vida de Elisa, mas tudo bem, ela resolve dar continuidade ao teatro dele e eles noivam de verdade e se apaixonam. O que eu achei deveras forçado levando em consideração que o cara usou ela pra atacar a mãe sem se preocupar em como isso atingia ela, mas vida que segue. Ele não saber a história da Elisa não é justificativa para ele fazer as coisas do jeito dele sem avisar ela primeiro. Ele disse que era um baile, mas escondeu que ela se tornaria noiva dele.
Seguindo: é óbvio que a mãe dele não fica nada feliz. É óbvio que a velha decide que vai acabar com isso e colocar o filho na linha. O resultado disso é que ela encontra o homem que tem posse de Elisa e arma um plano para ela ser desmascarada. E eu não to aqui querendo passar pano pra velha não, essa mulher é o próprio demônio, mas olha só o que as atitudes do condezinho mimado resultaram: a Elise tava vivendo uma situação MUITO séria e precisava se esconder, e por causa desse homem fazendo pirraça, ela ficou em destaque e foi descoberta. E ele já suspeitava que ela era de origem nobre, não dava pra pelo menos suspeitar que algo muito estranho estava acontecendo pra ela estar assumindo um papel de criada? Acho que é muito óbvio que era pra se esconder, né?
Pois a velha começa a bancar a boa sogra até o dia do plano ser posto em prática, arma um jantar como se estivesse aceitando Elisa na família, o barão aparece no meio do jantar e conta sobre os dois estarem noivos e sobre ela ter fugido. Vale lembrar que o próprio diz que ganhou Elisa numa mesa de jogo (já que a palavra da mulher não vale merda nenhuma), aí vocês pensam: uau, o conde já tava apaixonado, ele defendeu a mulher que ele amava de uma injustiça desse tamanho. HAHAHAHAHAHA, pois se ENGANA! Eu também achei que o Benjamin fosse ser homem o suficiente pra colocar o outro macho pra fora de casa e dar um tiro na testa do desgraçado. Pois é, isso não acontece e eu fiquei FRUSTRADA na sala da espera da UBS querendo GRITAR o quanto o Benjamin era um covarde mimado e hipócrita, porque gostando ou não, aquela situação toda foi culpa dele. Começou pelo teatrinho dele. Aí ele, que arrastou a menina pra um baile de noivado SEM ELA SABER, acha que tem direito de ficar magoadinho e se sentindo usado e enganado? Para, né meu filho? Se enxerga!
A única personagem que eu aplaudo de pé nessa história é a Eleanor, que teve o bom senso de enxergar toda a situação do jeito que ela era, confrontar o barão (coisa que o macho covarde do irmão dela não fez, nem vendo a menina sendo arrastada como uma coisa) e protegeu a Elisa. Eleanor, eu te amo, você é a única dessa família que merece meu respeito e admiração. A única que levantou a voz, segurou a Elisa e bateu o pé dizendo que ela ia ficar, e não ser arrastada dali por aquele monstro.
Daí é uma sequência INSUPORTÁVEL de autopiedade do mocinho agindo como se o coitado da situação, que me fez revirar tanto os olhos que achei que nunca mais eles voltariam ao normal. Eu estava a ponto de esperar que ele fosse atropelado por alguma carruagem na rua, de tanto ódio que eu tava sentindo, mais ainda dessa sequência de pobre macho apaixonado enganado. Juro, eu não sei se a sequência de cenas do Benjamin era pra fazer o leitor se apiedar dele, mas eu tava com tanta raiva pensando no que a Elisa ia ter que passar porque ele foi egoísta e mimado demais pra enxergar além do próprio umbigo, que eu não consegui sentir nada além de ódio e vontade de socar a cara dele. Gente, o próprio barão falou que ela foi ganhada numa aposta, E MESMO ASSIM O CARA TAVA AGINDO COMO SE O COITADO FOSSE ELE! É sério, eu não sei como não joguei o Kindle pela janela!
Ele é tão patético que bebe mais do que um ser humano normal consegue aguentar e acaba dormindo na rua. Só depois de acordar nessa situação deplorável é que ele consegue colocar a mão na consciência e perceber que a Elisa era a maior vítima da situação e percebe o imbecil que ele foi. Mas eu já tava com tanto ódio que nem isso amoleceu meu coração, pra mim quanto mais adjetivos negativos ele usava pra si mesmo, mais eu revirava os olhos. Uma coisa que era pra ele ter feito ali na hora, na noite anterior, ele decide fazer depois de passar a noite toda bebendo. Mas claro que já é tarde, a menina já foi arrastada de lá e forçada a viver como uma coisa pro barão desgraçado. Daí mais um pouco de autopiedade pro nosso condezinho.
A Elisa não foi uma personagem que eu senti raiva, na verdade eu quis colocar ela dentro de um potinho e proteger ela desse mundo onde homens decidem o futuro de mulheres e ainda se acham no direito de se acharem vítimas numa situação onde ELA é a vítima (sim, to falando do conde mas to falando do barão de merda também). Eu esperava que ela fosse tentar escapar de novo, eu lendo a situação da coitada só consegui pensar que eu me mataria pra não ter que casar com aquele monstro, pra vocês terem noção da situação dela. Mas ela não tinha nem mais forças pra isso e eu fiquei frustrada, implorando pra ela o tempo todo pra ela não desistir, encontrar uma forma de escapar de novo, mas acho que ela já tava tão cansada que acabou decidindo se tornar “ninguém” (o que eu imagino fosse se desligar das próprias emoções e viver como se fosse uma casca vazia) pra conseguir aguentar essa vida.
Não me importa se o Benjamin depois foi bancar o príncipe no cavalo branco pra salvar a donzela. Não me importa se, depois de muita autopiedade, ele percebeu que amava ela demais pra deixar ela ir. Simplesmente não me importa. A história de Elisa, assim como a história de muitas outras mulheres, é sobre uma garota que teve sua vida inteira comandada por homens e teve sua vida decidida por eles. Por seu irmão. Pelo barão. E pelo próprio Benjamin, que arrastou ela para essa situação e a colocou em evidência quando ela só queria se esconder, puramente pra fazer birra pra mãe e a noiva escolhida por ela. É claro que o final é sobre um homem salvando uma mulher (mesmo depois de ter humilhado muito ela). Mas eu acho que o final seria muito melhor se fosse a Elisa salvando a si mesma, escapando pra muito longe, e refazendo a vida dela sozinha sem precisar de homem nenhum. Ela merecia muito mais do que alguém como o Benjamin.
Eu quero usar o final dessa resenha pra pedir desculpas ao autor Gui Ribeiro, caso eu tenha me excedido na resenha. Na minha última resenha você foi um amor comigo, super fofo, e eu me sinto mal de pensar que essa resenha pode te deixar chateado, mas eu achei melhor falar a verdade sobre como me senti lendo esse livro. É claro que eu não sou a dona da verdade, mas quis me expressar como me senti como leitora, e principalmente como mulher. Isso não é um ataque direto a você, e sim, eu pretendo continuar lendo seus livros (principalmente porque o próximo é da Eleonor e eu simplesmente me apaixonei por ela). Mas desculpa, esse livro em especial não foi pra mim. Esse mocinho não foi pra mim.