Helder 17/04/2020Um menino e sua missãoCarta ao Rei de Tonke Dragt foi lançado na Holanda em 1962 e tornou-se um clássico da literatura infanto-juvenil naquele país, mesmo sendo um livro infantil com muitas paginas. O livro foi eleito como o mais importante livro jovem holandês do século XX.
Tentei pesquisar na internet, pois me parece que Carta ao Rei chegou a ter continuação na Europa (The Secrets of the Wild Wood, em ingles, publicado em 1965), mas no Brasil o único titulo que encontrei publicado pela autora foi este.
Em 2009 foi lançado pela primeira vez no Brasil pela Editora Martins Fontes que agora acaba de lançar uma reedição caprichada devido à estreia da minissérie de mesmo nome na Netflix.
O livro é uma fantasia medieval infanto-juvenil que conta a estória de Tiuri, um adolescente de 16 anos, filho de um cavaleiro, que mora no reino de Dagonaut e está se preparando para ser nomeado, junto com seus amigos, como cavaleiro pelo rei.
A última atividade no treinamento pede que eles passem uma noite de vigília na capela da cidade, aguardando o processo de nomeação a ser realizado no dia seguinte.
Mas as regras são claras: Nesta vigília eles devem se concentrar em suas futuras atividades de cavaleiros, sem conversar e sem ter nenhum contato com o mundo exterior. Para garantir isso, eles são inclusive trancados na capela.
Tudo corria bem até uma pessoa bater a porta da capela pedindo ajuda.
Seria aquilo um teste para os futuros cavaleiros ou uma pessoa precisando de ajuda real?
Na duvida, Tiuri e seu bom coração, resolvem descobrir.
Começa ai uma jornada que vai mudar a vida deste rapaz.
Fora da capela ele encontra um ancião que lhe informa que atrás da capela existe um cavalo a sua espera e que ele precisa ir com urgência até uma estalagem entregar uma carta ao cavaleiro Negro do Escudo Branco, que irá leva-la ao Rei de Unauwen, uma terra vizinha, porém distante, que fica além das Grandes Montanhas.
Sem conseguir dizer não, Tiuri assume a missão, acreditando que conseguirá ir à estalagem e ainda voltar a tempo da nomeação.
Mas se fosse assim não teríamos um livro de 462 páginas, certo?
Ao chegar ao seu destino Tiuri presencia o assassinato deste cavaleiro, que lhe transfere a missão de levar aquela Carta ao Rei e lhe faz prometer que não deixará ninguém, além do rei, lê-la, pois a informação ali é muito secreta e pode mudar a historia do reino.
Tiuri, assustado, aceita a missão, e logo se vê sendo perseguido por diversos cavaleiros de outros exércitos, e parece que a todo lugar aonde ele chega, existe alguém a sua espera com a intenção de impedi-lo de concluir sua missão.
Aos poucos ele percebe que não pode confiar em ninguém, mas acaba encontrando pessoas pelo caminho que vão percebendo que ele precisa de ajuda e assim ele vai seguindo, de ameaça em ameaça, sendo salvo sempre por golpes de sorte.
Diferente de outras fantasias, aqui não temos heróis com poderes, seres místicos, dragões, bruxos ou feiticeiros.
A história é somente de Tiuri, um menino que assume uma missão aparentemente maior do que suas capacidades, mas não desiste de cumprir sua palavra.
No caminho ele conhece ladrões, um louco, um monge, um senhor de um castelo, os Cavaleiros Cinza, um ermitão e Piak, um menino-guia que o ajuda na travessia de uma perigosa montanha e que acaba virando seu melhor amigo.
Juntos, Piak e Tiuri passam por aventuras maiores ainda na segunda metade do livro, atravessando montanhas com neve, bosques floridos, rios caudalosos. Caindo em emboscadas e levando diversos sustos, até conseguirem levar a Carta até o Rei de Unawuen, o que deixa o livro bem legal.
A melhor parte do livro para mim é a parte da Ponte Do Arco Iris, onde as descrições realmente me deixaram nervoso por Tiuri e pelo adorável Piak.
Como livro infanto juvenil, Carta ao Rei cumpre a promessa de nos entreter, mas durante a leitura existe um “cheiro de livro antigo“, pois parece que hoje as fantasias são mais elaboradas, com problemas e perigos muito mais complexos e textos menos ingênuos.
Tiuri jurou não contar a ninguém sobre a carta, e em todo lugar que ele chega, tem que explicar do que foge e para onde vai, e sempre diz que tem um segredo que não pode revelar, e todos aceitam isso de boa, e resolvem ajuda-lo, deixando a solução de alguns problemas de uma maneira bem anti-climática.
Mas por um lado, o livro parece querer mostrar que a honestidade angaria mais ajuda do que a mentira.
Nos dias de hoje, pode parecer algo meio antiquado, mas nunca é tarde para lembrar que não existe nada mais especial no mundo do que uma pessoa de bom caráter.
Se você é adolescente e curte filmes de aventuras, pode embarcar nesta jornada de olhos fechados. Vai se sentir um escudeiro de seu cavaleiro.
Se você, assim como eu, já tem idade para ter filhos adolescentes, pode ser uma boa opção para relaxar um pouco nestes tempos de historias tão pesadas.
Vamos agora ver a série, que pelo trailer já dá para perceber que foi somente baseada no livro, pois parece contar uma estória bem diferente.
Vou lá ver e depois volto para contar.