Laura Helena 04/04/2021
Receita de bolo ou mais do mesmo?
Aproveitei que esse livro está marcado como ?série completa? pra fazer uma resenha geral dessa trilogia: Rendida pelo Ceo, Resistindo ao Ceo e Seduzido pela Ceo. Então senta que lá vem textão.
É claro que é muito difícil uma obra ter apenas aspectos negativos, e não foi diferente com essa. Vários momentos dei risada, fiquei emocionada e, no geral, posso dizer que a leitura foi rápida e fácil. O que não quer dizer que foi boa e proveitosa.
O grande problema pra mim, que vem desde o prólogo do primeiro livro, é a escrita. Não me desce. Eu acho que o tipo de escrita do Gabriel afasta o leitor, ao invés de envolvê-lo na história. Isso é uma opinião absolutamente pessoal, minha experiência, e pode ser que seja diferente para outros leitores. Mas comigo simplesmente não funcionou.
Além disso, todos os livros seguem a receita clássica e nada inovadora de um livro new adult: conflito, atração sexual, conflito, final feliz. Por mais que tenham momentos legais, não aconteceu nada de surpreendente e é muito chato ler uma história que você sabe como vai terminar.
Pra fechar com chave de ouro, ou com chave de merda, como a Renata diz no último livro, achei alguns acontecimentos EXTREMAMENTE problemáticos, claramente um livro escrito por um cara, que descreve tudo muito superficialmente, com pouquíssimo ou nenhum arco de desenvolvimento interessante dos personagens e que ainda por cima objetifica a mulher de uma ?forma velada?. E olha que eu leio new adult há anos, a questão não é nem as cenas de sexo propriamente ditas (apesar de que, sinceramente, teve coisa ali que meu pai amado!). Mas em vários momentos eu senti uma militância meio errada, uma tentativa de fazer as mulheres na história parecem empoderadas, mas ao mesmo tempo tudo muito superficial, um discurso meio batido. E isso porque mesmo que apresentadas como fortes, inteligentes e independentes, novamente Renata, Beatriz e Luiza foram pintadas como centro de reabilitação de macho escroto.
Os caras simplesmente tiveram carta branca para serem misóginos, agressivos, sem educação, escrotos, irresponsáveis, mas advinha? Problemas no passado. Trauma grave. Que não foi curado com terapia ou tratamento, não não, mas com o AMOR. Sinto informar, amigos, mas a romantização de relacionamentos assim está diretamente ligada ao aumento do feminicídio então VAMOS LÁ! Relacionamento não é centro de reabilitação e mulher não tem a cura pra todos os problemas dos homens pelo sexo e pelo amor. Acho que 2021 já deu pra entender que amor não é sinônimo de luta e sofrimento, né?
E, como se não bastasse, além da história sem aprofundamento, sem inovações e com alguns problemas narrativos GRAVES, tem a questão da incongruência. Seja ela temporal, seja na construção da psique dos personagens (personalidades não definidas, num livro Diego, por exemplo, é extremamente aberto e carismático, já no outro não, seguindo na mesma linha temporal subsequente, tendo atitudes nada a ver com o que tinha sido apresentado dele).
Então assim, eu não sou a pessoa que fica criticando gratuitamente as coisas, acho que por trás de cada obra tem um autor que, SURPRESA, é uma pessoa, e não estou aqui pra ofender ninguém. Estou falando da obra, não do artista. Mas essa trilogia pra mim, realmente, não rolou. Tinha todo o potencial, mas assim, desanimador.
Ultimamente tenho tido muitas decepções com livros desse gênero, não sei se porque já li muitos e percebi um padrão, mas tem sido bem triste pra mim perceber cada vez mais que as pessoas preferem seguir o que deu certo para outras, ao invés de criar, inovar, se aprofundar mesmo numa narrativa.
Sigo lendo e espero ter surpresas positivas futuramente, mas creio que não desse autor.