spoiler visualizarJalex 05/01/2022
LEVE E INTERESSANTE
Sinceramente, passei o livro inteiro pensando em Cyberpunk 2077. Pode ser resultado de uma ilusão de frequência(Efeito Baader-Meinhof), mas é sensacional o número de paralelos que podem ser traçados. Sinto ainda mais vontade de ler Neuromancer por causa disso.
Apesar da fonte ideológica do autor, esse livro combina dimensões tão distantes, aparentemente, que o choque torna a leitura incrivelmente instigante e leve, sentimento completamente diferente da leitura d'O Capital. Com isso, um tema pesado e apaixonado é levado com satisfação durante todo o livro.
Além disso, a divisão do livro acaba sendo bem interessante, conjugando a história do videogame com curiosidades sob a ótica dos pressupostos do marxismo. A leitura segue com relatos de familiares dos trabalhadores envolvidos na criação de jogos AAA, como a superestrutura sequestra suas almas, e como os Corpes tomam deles a criatividade e exploram sua força de trabalha através de uma alienação mais sutil.
Um dos momentos de maior catarse lendo esse livro foi quando ele cita o jogo "The Uber Game", e fala da exploração, também sutil, dos trabalhadores de aplicativo, que vivem sob subordinação material, mas a relação de emprego é travestida de empreendedorismo. Situação reconhecida pelo TST como vínculo empregatício aqui no Brasil, mas deve ser novamente analisado agora, em 2022. A mesma falsa noção que o autor alega ser a dos programadores e desenvolvedores de jogos para grandes corporações.
O livro evolui essa ideia até as noções de jogo explicitamente político, e aqueles desenvolvidos de forma a causar mudanças políticas. O autor sempre volta ao Assassin's Creed: Syndicate, mas, no meu caso, o Cyberpunk 2077, que foi lançado apenas 2 meses antes da publicação desse livro, e tem como personagem da trama principal Johnny Silverhand, um roqueiro anti-sistema, que deseja destruir uma corporação específica, mas isso fica embrulhado em argumentos socialistas, ainda que com uma postura bastante anarquista.
Legal mencionar como esse ódio à corporação começa. Basicamente, quando a corporação rapta uma "trilha-rede"(Uma mistura de hacker e programador) para explorar o conhecimento e a força de trabalho da personagem, isso num mundo inteiramente dominado por corporações, os "Corpes". Talvez esse um paralelo legal feito entre o jogo e o livro, se for entendido como uma metáfora, é claro.