A senhoria

A senhoria Fiódor Dostoiévski




Resenhas - A Senhoria


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@PumpkheaD 13/12/2017

A transição
Gostaria eu de ter iniciado as leituras de Dostoiévski em sua ordem cronologia para acompanhar essa sua evolução pessoal na escrita do realismo russo. E A Senhoria é um ponto de grande importância nesse sentido.

Apesar das críticas da sua época de lançamento e até mesmo dos tempos atuais, A Senhoria possui uma riqueza muito característica e de grande relevância para a transição da escrita do personagem romântico para o personagem realista.

O personagem romântico é um sonhador tem muita força de caráter e elevação de espírito e sempre era apresentado como inteiramente perfeito e acabado; isto é, ele era o que parecia ser. Aquilo que ele pensava de si mesmo coincidia exatamente com sua verdadeira natureza e com a opinião dos outros sobre ele.

E é aqui que chegamos a nuance incrível desta obra. Ordínov é apresentado como um destes sonhadores, um romântico que vê na ciência os meios para viver seus maiores sonhos. Chegando até a se afastar da sociedade por ter aquelas características que mais tarde seriam tão presentes nos personagens dostoievskieanos; os que fazem parte daquela minoria de homens cultos e moralmente sensíveis que, incapazes de encontrar um lugar na sociedade para desenvolver suas potencialidades, fecham-se em si mesmos, refugiando-se em fantasias e ilusões, ou no ceticismo e desespero. O herói cujo a desgraça é ter espírito. Tal elevação do personagem romântico se mostra, nesse tipo de personagem, sua mais completa fragilidade diante da realidade do mundo e dos outros, em contraposição ao romântico sonhador que tudo podia por meio de sua Vontade e dos seus ideais.

Imagine se não é de grande perspicácia, colocar um personagem que não via mais lugar na literatura russa (o sonhador) dentro de uma obra realista (A Senhoria) para assim mostrar o quão falho pode ser este indivíduo e o quanto de humanidade existe neste sonhador.

Concordo que a escrita tem suas dificuldades, no entanto, me parece válida ao querer mostrar a confusão deste personagem que passa de um espírito elevado e titânico do sonhador para o realismo confuso do peso e leveza ao se relacionar com o mundo real e com o amor. Algo muito forte nos futuros personagens contraditórios de Dostoiévski.

A leitura desta obra é de grande importância e relevância para quem admira o autor e seus personagens, e gosta de perceber essas transições da literatura russa, iniciada por Nikolai Gogol com O Capote e continuada tão magistralmente por Dostoiévski.
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Ricardo Rocha 08/08/2015

O misterio: qq livro com metade dessa virtude criativa alçaria o autor, fosse hoje, ao status imediato de gênio e milionário (infelizmente são hoje coisas ligadas). Mas com Fiodor as coisas não eram assim. Grandes de seus livros, incluindo este aqui, passam por curiosidades, obras menores. O escambau. Menores somos os leitores de hoje. E que paixão é aquela narrada? Que envolvimento esse o do ser amado que a torna proibida? E outra vez toques de tabu ditos de forma singela, ditos apenas, sem moral embutida. Incesto, é isso? E eles a amam e ela os ama, é isso? Não tenho ninguém, sou sozinho, diz ele. Não sou daqui. Mas tem essa galeria inacreditável de personagens que mostram que não está sozinho embora não seja realmente daqui. Talvez de alguma outra terra que tenha dado certo e onde a literatura seja vida e a vida de nosso planeta corrupto seja a ficção de lá, a ficção de lá de décima terceira categoria. No livro, a opção de abri mao da onisciência da terceira pessoa leva à plenitude de uma primeira que não existe. Coisa de genio solitário que sempre escolhe o amor impóssível para quie possa continuar mando sob o prisma de seu planeta
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Camile Carvalho 04/12/2013

A Senhoria - Blog Camilando
Publicado em 1847 após o grande sucesso de Gente Pobre, A Senhoria foi recebido com grande expectativa por parte dos críticos os quais estavam considerando o jovem escritor Dostoiévski, aos 26 anos, como uma grande promessa literária. No entanto, sua novela não agradou a todos, como podemos confirmar na observação do crítico russo Bielinski, o qual afirma que a obra foi um disparate, fruto da fantasia mirabolante do autor. Sabemos, no entanto, que tal característica fantasiosa foi valorizada apenas depois, com a entrada do século XX, no momento em que foram sendo aceitas novas correntes de estilo literário.

A Senhoria conta a história de um intelectual e solitário jovem russo, Ordinov, o qual precisa mudar de apartamento. Porém, tudo muda ao conhecer a misteriosa Katierina, uma mulher sensível e delicada, a qual passou a habitar seu imaginário diariamente. Com uma paixão ingênua, entre devaneios e realidade, o personagem mescla narrativas sem delimitar em que momento encontra-se no plano da realidade e no plano dos sonhos ou delírio. Tal estilo narrativo não foi bem absorvido pela crítica literária da época, sendo valorizado apenas posteriormente.

O livro, publicado pela Editora 34, possui 120 páginas, uma ótima diagramação e páginas amareladas, o que me agrada muito. O livro é dividido em duas partes e possui algumas notas de rodapé a fim de nos familiarizarmos com referências utilizadas na época em que foi escrito além de palavras comuns em russo. Possui também um posfácio escrito pela tradutora Fátima Bianchi. Sobre o personagem, ela afirma que: Objetivamente incapaz de resolver seu conflito com a realidade que o cerca, Ordínov encontra nos estudos uma forma de evasão. Mas quanto mais se dedica a desenvolver seu intelecto, mais impressionável se torna sua sensibilidade, mais precárias suas relações com as outras pessoas e mais irreversível a dissolução de seus vínculos com o mundo exterior.

Particularmente eu gostei do livro embora esperasse mais do final. Talvez uma releitura me faça apreender melhor os conceitos e esclarecer alguns momentos em que a narrativa, ao meu ver, se tornou obscura. É um livro que eu indicaria para amantes da literatura, principalmente para quem quer conhecer um pouco mais sobre as obras de Dostoiévski, a fim de se fazer um estudo de sua trajetória como escritor.

site: http://camilecarvalho.com/a-senhora-dostoievski/
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Israel145 28/10/2012

A Senhoria é uma novela publicada por Dostoiévski logo após a publicação de "Gente Pobre", ou seja, seria seu segundo livro. Mesmo em início de carreira, o autor desapontou a crítica especializada com a novela, já que na época era tido como uma revelação e tinha um futuro promissor, algo que só foi se concretizar alguns anos depois.
Inicialmente ainda tem um pé no romantismo russo e cultiva a figura do “herói do nosso tempo”, uma espécie de linha seguida por todos os autores russos da época e capitaneadas por Turgueniev.
Conta a história de Ordinóv, um estudante perdido na vida que acaba se apaixonando por uma jovem que vive sob uma apavorante dominação psicológica por parte de Múrin, a senhoria que aluga seus aposentos para Órdinov. Carregada de uma atmosfera mística e soturna, pode-se perceber elementos que irão compor futuramente a narrativa do autor, como os becos sujos, os problemas psicológicos do protagonista, a submersão no lado pobre e pouco glamouroso de São Petersburgo, etc.
Curiosamente, mesmo que vagamente, Ordinóv lembra Raskolnikóv em alguns aspectos, e chega até fazer com que se pense que este seria uma espécie de embrião para o protagonista de "Crime e Castigo".
A edição traduzida por Fátima Bianchi conta ainda com uma resenha deliciosa tratando aspectos inerentes à obra, à tradução e às personagens que complementam o livro. Mesmo não sendo uma obra à altura dos grandes clássicos do autor, vale a pena ser adquirida e lida até por curiosidade.
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Toni 03/10/2011

O sonhador dostoievskiano
Foi preciso uma segunda leitura para que a impressão de obra difusa, disparatada, fruto de uma “fantasia mirabolante” que caracterizou meu primeiro contato com esta novela dostoievskiana passasse a suspeita de uma construção sutil e inovadora, com possibilidades interpretativas sequer imaginadas na leitura inicial. Publicada em 1847, após o sucesso estrondoso de Gente Pobre e a recepção duvidosa de O Duplo, A senhoria trata-se da primeira tentativa do autor em caracterizar um tipo e um tema que seriam marcantes em toda sua produção subseqüente. Conta a história de Ordínov, gérmen do homem do subsolo: nobre intelectual devorado por uma paixão insaciável pela ciência e alheio ao mundo exterior, cuja vida havia passado até então tranqüila e solitariamente em um quarto alugado, introspectivo e sorumbático. Assim nos é apresentado este típico sonhador, ao lado de quem o narrador se posiciona, proporcionando um foco narrativo filtrado pelas impressões e visão de mundo de Ordínov. Esse expediente, fator de incompreensão em sua época, unido à trama que mistura realidade e sonho, fazem da novela um tecido de intricada fazenda, cujos mistérios somos impelidos a (tentar) desvendar.

A narrativa tem início com a necessidade de uma nova moradia para Ordínov, que o lança às ruas pela primeira vez em muito tempo. Forçado a uma situação que exige que se mova e enfrente o mundo para encontrar um novo lugar de pouso, por extensão um lugar no mundo, encara o universo a sua volta com surpresa e alienação. Após flanar pelos bairros petersburguenses à procura de um quarto para alugar, fica intrigado com o comportamento de um inusitado casal numa igreja paroquial e, excitado pela possibilidade de aventura, decide segui-los. Avivado pela forte impressão que o rosto da jovem lhe causara, vê-se impelido a um segundo encontro com o casal, cuja conseqüência imediata – devido à sua impressionabilidade exarcebada, seu desnudamento e desproteção de sentimentos – é fazê-lo se apaixonar pela moça e se tornar seu inquilino.

Múrin, um velho mujique, e Katierina, sua companheira, formam o contraponto social, moral e intelectual ao mundo de Ordínov, uma possibilidade deste se abrir para o universo exterior levando-o a experimentar “a profunda sensação de que toda a sua vida se partira ao meio”. No embate entre consciências tão distintas, a novela mostra a discrepância existente entre o que Ordínov parece ser e aquilo que ele realmente é. Nesse sentido, a forma como se organiza a narrativa é fundamental à representação do narrador: através da exploração de Ordínov pelos outros ele exibe sua covardia, frouxidão e impotência. Assim como no enredo de aventura que “não se baseia no que é o herói e no lugar que ele ocupa na vida, mas antes no que ele não é e que, do ponto de vista de qualquer realidade já existente, não é predeterminado nem inesperado” (p.119) – como afirma Bakhtin – o enredo desta aventura dostoievskiana está totalmente a serviço da ideia: ele “coloca o homem em situações extraordinárias que o revelam e provocam, aproxima-o e o põe em contato com outras pessoas em circunstâncias extraordinárias e inesperadas justamente com a finalidade de experimentar a ideia e o homem de ideia, ou seja, o ‘homem no homem’” (Problemas da Poética de Dostoiévski, 2010, p.120).

A modelação do homem pelo homem é um ponto básico dessa novela. “Objetivamente incapaz de resolver seu conflito com a realidade que o cerca, Ordínov encontra nos estudos uma forma de evasão. Mas quanto mais se dedica a desenvolver seu intelecto, mais impressionável se torna sua sensibilidade, mais precárias suas relações com as outras pessoas e mais irreversível a dissolução de seus vínculos com o mundo exterior.” (Fátima Bianchi, Pósfácio a A Senhoria, Ed. 34.) Dessa forma, o embate com a solidão torna-se a principal tragédia do sonhador dostoievskiano. Integrante da geração de heróis do tempo – homens cultos sem função orgânica na sociedade, cuja potencialidade frustrada os obriga a se refugiarem em fantasias e ilusões, no ceticismo ou no desespero – Ordínov é um sonhador que começa a novela sem um passado, e chega ao fim dela sem perspectiva de futuro.

A senhoria encontra-se estruturada em duas partes equivalentes, cada qual contendo três capítulos. Como ficou sugerido, sua leitura exige a constante suspeita dos liames narrativos entre realidade e sonho, uma vez que a condição de Ordínov sugere que nem tudo o que acontece na história foi de fato vivido pela personagem no plano da realidade. Fica patente a sugestão de desvario no Cap.2, Parte 2, em que a repetição de “como se”, o uso de verbos de ligação no imperfeito e todo um campo semântico que gira em torno dos vocábulos “impressão” e “sensação”, etc., fazem daquela estranha e fantasiosa conversa entre Ordínov, Múrin e Katierina produto da imaginação alienada daquele. A nulidade em que acaba Ordínov, aproximando-o do homem do subsolo, reitera a ideia de que só por meio da participação na vida viva o homem pode realizar todas as suas potencialidades.
Toni 08/09/2012minha estante
Hombre, quando li A Senhoria, li junto a outros 9 livros de Dostoievski (a maioria narrativas curtas). Curiosamente, foi um dos livros que tive de apresentar em seminário para a disciplina do mestrado (por isso a segunda leitura). Confesso que o livro é excelente, mas acho que as três estrelas foram muito mais para, na minha cabeça, localizá-lo em termos de importância/inventividade em meio a produção do autor.


Marcos Renan 18/10/2017minha estante
Meu caro, gostei bastante se sua resenha, mas acredito que os pontos positivos que você levantou da obra faria mais jus à Memórias do Subsolo, por exemplo. A Senhora até agora foi o único livro de Dostoiévski que li e não gostei: parece que o livro inicia como se a história não tivesse começado e termina como se a história não tivesse acabado.




Rick-a-book 11/11/2009

Retrato de um Dostoiévski Quando Jovem
Após o estrondoso sucesso de Gente Pobre (1846), praticamente toda a intelectualidade russa ficou a espera do próximo grande livro que Fiódor Dostoiévski estaria por entregar a seus ávidos leitores.

Em fins de 1847, Dostoiévski, que estivera trabalhando se A Senhoria por cerca de 13 meses, recebeu inúmeras críticas, a maioria ruim, inclusive daquele que fora seu maior propagandista, o crítico russo Bielínski. Este tratara a obra como "um disparate, fruto da fantasia mirabolante do autor".

É certo que as ditas inovações de Dostoiévski com relação ao foco narrativo, principalmente a ligação entre o protagonista, o intelectual Ordínov e sua amada e misteriosa senhoria, Katierina, restaram totalmente incompreendidas pelos leitores e críticos de seu tempo. Apenas com a entrada do século XX e seus leitores ansiosos por novas correntes de estilo daria à obra o seu devido valor. Afinal, à época, o autor contava com apenas 26 anos de idade e, em grande parte deste conto-novela pode-se perceber as influências que o levariam mais tarde a escrever obras-primas como "Memórias do Subsolo".

Ainda que seja um livro pequeno e que permita certa fluência na leitura, a estrutura narrativa e o foco da história são imprecisos: fica complicado seguir o relato, uma vez que ele não possui um fio condutor definido.

Vale mais como estudo sobre o autor, pois, a leitura, arrisco dizer, pouco acrescenta ao amante da boa literatura.
Ricardo Rocha 08/08/2015minha estante
eu não arriscaria, meu amigo... me acrecentou muito


Sigel 10/10/2016minha estante
Infelizmente, tenho que discordar da sua opinião. A mim,acrescentou muito. Exatamente a confusão, a excentricidade e a não-linearidade que o autor dá à sua obra é que a torna fantástica e genial. O Homem do Subsolo é assim. Complexo, sonhador, misantropo, apaixonado, louco. Dostoiévski é para corajosos e para quem não tem medo de ver seus medos diante do espelho.




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