Matei Minha Mãe

Matei Minha Mãe Anderson Felix




Resenhas - Matei Minha Mãe


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Filósofo dos Livros 02/02/2021

SEM PALAVRAS
Concluí a leitura do livro “Matei minha mãe”, obra escrita pelo autor brasileiro Anderson Félix. Não sei qual é a palavra exata para expressar o que sinto agora. Chocado, extasiado? Não sei! Só sei que o livro mexeu bastante comigo. É duro não poder expressar todos os sentimentos. Não os expressos por dois motivos. Um deles é óbvio: não existem palavras adequadas. Outro motivo é que, na tentativa de dar nomes a todos os sentimentos e explicá-los, corro o risco de dar spoilers. Nessa reflexão, acabei encontrando um terceiro motivo: ao tentar explicar, corro o risco de racionalizar. Racionalizar a experiência literária que tive com essa obra, de certa forma, seria empobrecer a leitura.
O livro de Anderson nasceu para ser sentido, embora as reflexões sejam ricas. Dessa forma, creio que o leitor deve manter o equilíbrio e encontrar quais pontos devem ser experienciados de forma emotiva e quais pontos cabem numa reflexão.
O autor conta a história de Samuel Passos, um jovem de 15 anos que viveu nos anos 90. Esse garoto escreve um diário a pedido de sua psicóloga. Tenho para mim que todo autor é um ator. Os atores comuns representam seus personagens num palco, num cenário. O autor ator representa seus personagens nas páginas de sua obra. Anderson Felix representou com maestria esse adolescente de 15 anos utilizando como cenário específico o diário.
No início da trama, esse rapaz começa a escrever de forma tímida, de maneira rasa. O texto é carregado de palavrões e experiências de masturbação. Com o decorrer da história, o jovem Samuel vai se aprofundando em seus sentimentos e passa a descrever os fatos com maior clareza. Os palavrões e as experiências de masturbação continuam de maneira intensa, mas a claridade do texto ofusca esses dois elementos. Observei que alguns resenhistas deram ênfase à masturbação e aos palavrões, porém eu diria que reduzir o livro a um compilado de experiências sexuais adolescentes e narrativas com palavras chulas é empobrecer a leitura. “Matei minha mãe” é um livro que tem muito mais a oferecer, basta entrar no corpo, na mente e no coração do personagem.
Samuel não é um personagem que se atenha a grandes explicações. A sua força como ser de um livro está na vivência de seus conflitos dentro de um panorama muito rico representado pelos anos 90. O personagem se sente triste por inúmeras causas e tem um apego sentimental pelo seu irmão mais velho que desaparece. Podemos afirmar que a pessoa mais importante da vida desse jovem o abandona, e isso faz com que ele saia em busca desse alguém que significa apoio, amor, modelo de vida etc.
Na busca do irmão, Samuel entra em contato com seus sentimentos mais íntimos e entra num processo de amadurecimento. O encontro com outros personagens enriquece sua experiência sentimental e racional. A narrativa criada por Anderson Felix sintetiza o sensorial e o abstrato.
Felix traz em seu estilo de escrita algumas semelhanças com outro autor brasileiro que ainda não é bastante conhecido. Refiro-me a Felipe Saraiça. Ele também, eu diria, se assemelha ao estilo de Lygia Bojunga. Mas apesar dessas semelhanças, o autor conseguiu criar algo inovador que se presentifica no penúltimo capítulo da obra. O ápice da leitura encontrado nesse capítulo é surreal. Não me estenderei em explicações, todavia qualifico esse aspecto inovador como magnânimo.
Até agora, estou tentando me acalmar diante da experiência avassaladora causada pelo livro. O penúltimo capítulo se apresenta tão forte que nos causa uma espécie de desestruturação, porém uma desestruturação extremamente prazerosa.
A originalidade do autor impacta. Dificilmente, outros livros repetirão essa façanha em seus leitores.

site: https://www.youtube.com/c/filosofodoslivros
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Vinicius 09/05/2021

Não foi o que esperava
O que torna nossa experiência de leitura positiva? Talvez a expectativa com que pegamos um livro, nossas leituras imediatamente anteriores, nosso momento de vida. Enfim, talvez a junção destes três fatores não tenha me oferecido uma boa experiência de leitura.

A expectativa foi em cima das ótimas [várias] revisões escritas aqui.

[editado]

* A partir daqui tem alguns spoilers sobre a trama, caso você, assim como eu, prefira saber o mínimo possível antes de ler... *

Quanto ao livro achei o plot interessante. A culpa pela morte da mãe, os vícios, alienações do jovem dos anos 90. Mas o desenvolvimento foi morno. Senti falta da quebra da linha cronológica, de realmente o jovem viciado entrar em contato com suas atitudes e ter insights. Senti falta de uma "jornada" (externa e interna) dos romances de formação.

As referências à cultura pop e o humor irônico do narrador deixam a leitura leve. Existem momentos interessantes e personagens bem construídos, mas alguns outros tantos dispensáveis, com atitudes inverossímeis. Aparece também uma crítica social tímida: personagens marginalizados e especulação imobiliária, mas tudo à uma certa distância. Os próprios conflitos com pai e mãe poderiam ser mais explorados. O livro me pareceu mais como um grande conto, rápido demais nas suas soluções.

Com isso não desencorajo a leitura, afinal essa é uma percepção muito pessoal. Espero que o autor continue escrevendo e que cada vez mais a literatura nacional ganhe espaço.

[editado]
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Grazi 17/06/2021

Adorei. A leitura flui muito bem e é capaz de nos prender do início ao fim da história. Aliás, que final! Muito impactante e reflexivo.
Recomendadíssimo!
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Bianca Viana 07/11/2020

Impactante
Matei minha mãe. Enterrei meu amigo. Sou um punheteiro de merda. Eu entendo de merda. Eu sou um merda. 
Assim, Samuel dos Passos começa seu relato que, ao longo das páginas, torna-se um retrato do que foi ser um jovem brasileiro nos anos 90. Uma geração que viu os programas sem censura da televisão, as previsões de fim do mundo, viveu o medo do desemprego e da fome. Uma juventude que cresceu perdida nas transformações pelas quais o Brasil passou. Com uma linguagem falada, que faz uso da vírgula como pausa e ignora a concordância verbal em certos momentos, dando maior realismo ao relato, temos um romance de formação que aborda o conflito familiar e a culpa no ponto de vista de um adolescente com intensos conflitos internos e com a implosão que todos os sentimentos aprisionados podem causar em um jovem.
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Lilian.Cava 03/03/2021

Aquele livro que te faz rir e chorar ao mesmo tempo
Li esse livro a convite do autor Anderson e ainda bem que ele entrou em contato comigo, senão poderia ter perdido uma das leituras, que com certeza, será uma das favoritas do ano.

O livro não vai agradar a todos, principalmente se a pessoa tiver aversão a putaria e palavrão. Mas pra mim, a forma de narrativa do protagonista, sincera, escrachada, com humor, só fez eu me aproximar mais ainda dele e da história.

Fiquei tão envolvida na narrativa e tão curiosa pelo final, que devorei o livro em dois dias. E olha que passando por uma fase que não estou lá taaao empolgada pelas leituras.

O que me deixa triste é saber que dificilmente eu entraria em contato com o livro ou escolheria ele espontaneamente, se não fosse pela parceria com o autor. Isso me faz pensar que tenho que panfletar esse livro e abrir mais espaços para autores nacionais nas minhas leituras.

Demais!!!
Anderson Felix 03/03/2021minha estante
Obrigado pela resenha. Fico feliz que tenha gostado.


Lilian.Cava 04/03/2021minha estante
Obrigada você pelo convite ???




Valéria Medeiros 17/09/2021

Intrigante 3,7 ☆☆☆☆
A leitura é fluída e causa incômodos ao longo da história! É um livro pesado também em algumas questões e reflexivas em outras! Fiquei com raiva do personagem principal muitas vezes e aquele final eu não esperava! Parabéns,Anderson!
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 11/06/2021

Anderson Felix - Matei minha mãe
Kotter Editorial - 244 Páginas - Projeto e Edição Gráfica: Cintia Belloc - Lançamento: 2020.

Anderson Felix surpreende neste típico romance de formação – na linha de Daniel Galera em "Mãos de Cavalo" ou "Barba Ensopada de Sangue" –, criando personagens carismáticos e diálogos bem construídos, só que adotando uma pegada ainda mais visceral. Matei minha mãe é narrado em primeira pessoa por Samuel dos Passos, um protagonista adolescente, morador da periferia de Florianópolis que acredita, como destacado no provocativo título, ter sido o responsável pela morte da própria mãe, direcionando toda a culpa e a raiva acumuladas em um hábito de isolamento e sessões de masturbação compulsivas.

A narrativa é feita em retrospectiva pelo protagonista e ambientada no final dos anos noventa, assumindo um tom direto e coloquial que empresta credibilidade à voz do personagem, um rapaz de apenas 15 anos frustrado com a falta de opções e cuja única referência afetiva, depois da morte da mãe e o afastamento do pai, sem tempo e atenção para ele, se concentra no irmão mais velho e no cachorro Tobias, seu melhor amigo. Os dias se arrastam solitários e parece não haver saída possível, como ele mesmo define em um bordão fatalista bem ao estilo de Kurt Vonnegut: "A vida é como é porque as coisas são como são".

"Não faz muito tempo o seu Zica tinha um boteco do lado de cá e a maioria dos bêbados morava do lado de lá. Na real, só quem mora depois da rodovia é a minha família, a da minha cunhada e o Buba. Mas como eu ia dizendo, tinha o boteco do seu Zica aqui perto, e pelo menos uma vez por mês algum bêbado ia pro vinagre tentando voltar pra casa. Na última a parada foi feia. Um senhorzinho foi atravessar pra comprar pinga e tropeçou no próprio chinelo, não tava bêbado nem nada, mas a gaiola com o passarinho caiu da mão e o coitado parou pra juntar. O primeiro carro que atropelou só pegou de leve e o senhorzinho conseguiu ficar de pé. Aí veio o segundo. Rasgou o velho e quebrou a gaiola. O passarinho voou fazendo um esperneio. O terceiro só serviu pra acabar com a malinagem. O estrago foi tão grande que o pessoal do rabecão não conseguiu juntar todas as peças, e no dia seguinte tavam os urubus comendo a carniça no canto da estrada. Acho que é por isso que o seu Zica nunca vendia fiado." (p. 14)

No entanto, o que já não está bom pode piorar ainda mais e as coisas se complicam realmente quando o irmão desaparece juntamente com a namorada, dando início à epopeia do nosso jovem herói que decide fugir de casa em busca do casal. Nesta viagem ele encontrará, em um curto espaço de tempo, pescadores, moradores de rua e a chance de finalmente perder a virgindade, sem os clichês das fitas de videocassete pornográficas.

"Eu tinha onze anos. Minha mãe me levou na psicóloga do SUS. Lembro de olhar o Senna nas capas das revistas da mesa. Foi um ano estranho de tristeza e felicidade. A psicóloga me chamou, eu entrei e sentei na poltrona. Perguntou o motivo de eu tá ali. 'Não sei', respondi, pois eu não sabia mesmo. Chamou minha mãe e aí descobri, era por eu não conversar com ninguém. Porra, eu simplesmente não falava nada porque não tinha nada pra dizer. Só isso. Minha mãe deixou a sala, a psicóloga disse mais algumas coisas que não lembro e terminou com: 'Já pensou se todos no mundo fossem iguais a você?'. / Gostei. Foi massa ela ter dito aquilo. Mas quando entrei no elevador, pensei em mim. Senpre fui viciado em punheta, comecei aos nove anos. Na época só saía aguinha de arroz. Levei a frase da psicóloga em consideração. Pronto. Imaginei todas as pessoas do mundo tocando punheta enquanto faziam coisas do cotidiano. Esquenta um presunto na chapa e toca punheta. Passa o troco com uma mão e toca uma punhetinha com a outra. Algema o bandido com a esquerda e toca uma com a direita..." (p. 31)

A autenticidade da voz narrativa já nas primeiras frases: "Matei mina mãe. Enterrei meu amigo. Sou um punheteiro de merda. Eu entendo de merda. Eu sou um merda.", vai conquistando aos poucos o leitor que não tem como evitar a torcida para que o sofrido Samuel consiga algum sucesso na sua improvável empreitada e finalmente possa liberar toda a dor acumulada durante a sua adolescência. Vale a pena conhecer o trabalho do autor, um livro difícil de interromper e com um final inesperado.

"[...] Retirei o skate da mochila e liguei o walkman, rolava Queen com Don't Stop Me Now. Não era bem o som que eu queria, mas que se foda. Vamos nessa. Centralizei o skate, subi, dei uma remada e senti o vagabundo ganhar velocidade. O vento veio forte. O shape tremia em zigue-zague. Abri os braços e consegui manter o equilíbrio. As casas ao redor surgiam borradas. Joguei o peso pra frente e agachei o máximo que pude. Ô sensação boa de liberdade. Tava chegando perto do fim da descida, então coloquei o pé de leve no chão. Foi quando um carro saiu de ré da calçada. Não tive tempo nem de pisar no tail, só rasguei pra esquerda e desviei da traseira do filho da puta, isso me fez ir reto na dianteira de outro filho da puta que cruzava a rua. Pulei do skate, voei pra parede de algum lugar e biiiiiiiimmm..." (p. 153)

Sobre o autor: Anderson Felix nasceu em Florianópolis em 1983. Leciona Português em pré-vestibular há mais de dez anos. Já escreveu cerca de 60 contos, dois romances, além de roteiros para curta-metragens. Atualmente, trabalha com pesquisa no Projeto Atlas Linguístico do Brasil.
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mari 16/01/2022

"A vida é como é porque as coisas são como são". Não foi fácil ler esse livro mas o final valeu ele todinho, recomento mt!!
"Eu não tinha nada para dizer. Nunca tenho. Sou só um personagem de mim mesmo".
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Juliana.Ramos 19/05/2021

Dá um filme
Vou tentar não dar spolier, mas confesso que não estava preparada para o impacto do final. Gostei muito do samuel, ulisses e leôncio, da forma escrita na primeira pessoa, da reviravolta. Terminei e tive que voltar pros dois ltimos capítulos pra ler de novo. Dá um roteiro de cinema, me lembrou bastante o rubem fonseca. Espero ler outros livros do autor.
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Ãnimo Total 10/08/2021

A vida é como é porque as coisa são como são.
Que grata surpresa esse livro.
Um romance de formação impactante.
Uma linguagem que me fez recordar de expressões e passagens da minha própria juventude.
Leiam.
Que livro foda.
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Rosalvo.Sandrini 22/11/2020

Um dos melhores da década
Já li muitos livros em minha vida e confesso, sou chato, mas esse é aquele romance que começa com um soco e termina com um nocaute. Li em um dia. Tive que deixar as tarefas de casa para depois, pois não conseguia para de ler. Se não for o melhor é um dos melhores livros que li nos últimos dez anos. Aquela história que te faz querer ser amigo do autor e do personagem.
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Cristina.Sens 18/09/2021

Um incômodo necessário
É sobre muita coisa, mas não vi ninguém falar da bipolaridade, que aqui é chamada de 'implosão' pelo Samuel, justamente por na época não ser uma palavra de uso geral. E isso explica totalmente a hipersexualidade dele, pois quem sofre desse transtorno também sofre com as questões sexuais.
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Paiva 08/11/2022

A escrita é bem diferente, e vi aqui muitas críticas a respeito dos erros de ortografia q à minha interpretação foram propositais para levar o leitor ao mundo do personagem (o qual repetiu a 7°série e pensava em fazer supletivo para se livrar logo da escola).
Os temas propostos são pesados: depressão, masturbação, abandono, feminicidio... então não recomendo a pessoas frágeis a tais temas.
Contudo, recomendo a leitura. Necessária p saber q existem Samueis invisíveis q cruzamos todos os dias e ignoramos suas lutas.
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Saturnotemanéis 10/12/2021

Grata surpresa
Peguei esse livro para ler só pelo acaso e que surpresa boa.
A escrita é muito fluida, você nem vê o tempo passando enquanto lê.
O personagem principal é meio estranho, mas logo a gente simpatiza e vê que ele só tá muito quebrado, eu gostei muito de tudo e já quero assistir uma adaptação, porque esse livro é muito visual, as imagens se formam na cabeça e no fim fica a vontade de ver com os próprios olhos.
LEIAM!!!
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