_lekinha_a 18/07/2021
Terror e suspense na medida certa
RESENHA
Guardião do Mundo Inverso
Ricardo S. R. Pinto
163 págs.
Alerta: o conteúdo pode ser sensível para pessoas que sofrem de aracnofobia claustrofobia
SINOPSE
De férias e, completamente entediado, o bioquímico Vitor decide iniciar uma rotina caminhadas diárias com a finalidade de melhorar seu condicionamento físico eaproveitar as belezas naturais da pacata cidade onde reside, Dom Viçoso-MG. O seu plano inicial é, todavia, substituído ao encontrar o amigo de infância Rabbit, que ao alerta-lo para os perigos de uma das trilhas, onde recentemente quase caiu em buraco que certamente o levaria a uma rede de cavernas, acaba despertando o interesse de Vitor para o local. Completamente fascinado com a informação, uma vez que as cavernas em questão ainda não haviam sido exploradas, ele resolve montar uma equipe para investigar mais a fundo o local e quem sabe, realizar uma grande descoberta. Para isso ele convida o veterinário Silvério e o próprio Rabbit. O trio parte então para sua primeira incursão sem fazer a menor ideia dos segredos e perigos que esse habitat intocado pode conter. Ao retirem de lá uma tarântula, eles selam não apenas o seu destino, mas também o do jovem Kelvin, que acaba ganhando o espécime como bichinho de estimação e passa a chama-lo carinhosamente Penny.
RESENHA
Terminei a leitura de ?Guardião Do Mundo Inverso? e, senhoras e senhores: que livro!
Primeiro de tudo, essa é uma obra de apresentação, tanto de ambientação, quanto de personagens. São eles, inclusive, que nos apresentam a bucólica cidade de Dom Viçoso-MG, local onde se desenrolarão os acontecimentos da trama, ao mesmo tempo em que suas personalidades vão sendo descritas, seja no discurso direto (fala do personagem) ou indireto (narrativa do autor).
Eu particularmente gosto dessa abordagem pois aproxima o leitor do personagem, que passa a conhece-los mais profundamente enquanto indivíduos e facilita identificação do leitor para com eles, através do despertar de sentimentos como empatia, simpatia e, porque não, antipatia. Assim quando eles agem de forma egoísta, egocêntrica, irresponsável e até cômica, você pensa: é bem a cara do fulano fazer isso. O que por sua vez vai te levar a querer dar uns tapas em uns e, salvar outros. Mérito da construção de suas personalidades, o que é feito com maestria nesse livro.
E pode não ter sido a intensão do autor mas, a trama do guardião de um portal de um mundo desconhecido, que é retirado de seu posto, ocasionando consequência que podem se mostrar nefastas, me fez refletir sobre a nossa realidade e, principalmente, sobre o quanto o ser humano pode ser invasivo e insensível e, o que é pior, irresponsável na sua relação com a natureza e outras criaturas.
Neste tocante, os personagens do livro cumprem o papel de ser o retrato fiel de uma sociedade que segue explorando e extraindo tudo da natureza, sem a menor preocupação com o impacto que isso tem sobre outras espécies (animais ou vegetais) ou, que consequências podem advir de suas impensadas ações. Isso quando não aprisiona outros seres para as finalidades mais egóicas, como por exemplo, satisfazer seus anseios por fama ou sucesso, como acontece aqui em relação a vários personagens, inclusive a própria protagonista Penny. Essa mescla de realidade e ficção é simplesmente perfeita, além de instigante.
O livro de Ricardo R. S. Pinto, se me permitem dizer, é como em um bom filme de terror e suspense, pois o autor vai criando, uma atmosfera de tensão crescente e contínua, que fará o leitor, não raras vezes prender a respiração em antecipação ao que irá acontecer nas páginas seguintes. Isso porque, a inserção gradativa de elementos de sobrenatural e mistério, fazem com que você permaneça o tempo todo de sobreaviso esperando que algo dê errado, aliás, muito errado.
É um efeito muito parecido com o que acontece quando estamos assistindo a um bom filme do gênero e, de repente, nos damos conta que saímos da posição inicialmente relaxada no sofá, para aquela em que ficamos na ponta, completamente apreensivos com o que irá, ou está a se desenrolar na tela.
A medida que a descrição da cena vai se desenrolando, o medo, a ansiedade e a angustia que a narrativa tensiona provocar, vão se tornando cada vez mais palpáveis, especialmente para aqueles que tem problemas com lugares fechados ou apertados (claustrofobia) ou, como eu, que tenho profunda aversão a aranhas (aracnofobia).
Outra coisa que me chamou atenção na história é me lembrou muito a escrita de H. P. Lovecraft. Não pela linguagem ou questões sensíveis que aquele comumente retratava, mas, por ser um mestre em transformar coisas comuns, como por exemplo a cor do conto ?A Cor Que Caiu Do Espaço?, em algo misterioso e sobrenatural, para impingir no ser humano um temor inenarrável e irracional. Sobre isso aliás, é bom deixar registrado que nesse primeiro livro da trilogia (Sim! Teremos mais dois!), não há componentes suficientes para descartar a hipótese da obra ter um pezinho no horror cósmico, principalmente por conta do desfecho. Aguardo ansiosa por mais informações que certamente virão no segundo livro.
E se Lovecraft não for uma fonte de inspiração, com certeza o mestre Stephen King é, uma vez que o livro contém algumas referências ao autor, inclusive, no nome pelo qual a protagonista é batizada.
Ah! E antes que eu me esqueça, como o autor gosta sempre de nos lembrar: ?cuidado com os olhos vermelhos que espreitam na escuridão dos cantos da sua casa.?
BÔNUS - CURIOSIDADES
- A ideia da história surgiu das caminhadas do próprio autor por áreas arborizadas de sua - cidade, assim como, da menção de alguém acerca de cavernas que existem no local.
Os personagens são inspirados em pessoas reais.