Temporada de furacões

Temporada de furacões Fernanda Melchor




Resenhas - Temporada de Furacões


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Toni 16/01/2021

Leitura 58 de 2020
Temporada de furacões [2017]
Fernanda Melchor (México,1982-)
Mundaréu, 2020, 216 p.

Comecei o romance lendo devagar e em pequenas doses, mas logo percebi que estava prejudicando a leitura. A cada retorno eu ficava meio perdido, muito devido à ausência de parágrafos e quebras no texto (vcs que reclamam do Saramago, esperem até ler isso aqui). Insatisfeito, reiniciei noutro regime de leitura, devorando cada capítulo em uma sentada—e a experiência foi infinitamente melhor. As razões são muito simples: a forma encontrada por Fernanda Melchor para esta narrativa é, em si mesma, o anúncio da temporada de furacões do título: um texto-turbilhão, centrípeto, forte, violento e deformador da paisagem humana. Demanda fôlego e entrega.

Baseada na notícia real de um crime envolvendo um bruxo num vilarejo perto do porto de Veracruz, onde a autora morava na época, a narrativa reelabora os fatos, cria personagens e aprofunda as motivações dos envolvidos num movimento que só a literatura pode fazer: aglutinar experiência-realidade-invenção na entrega de uma história cuja eloquência nos explica mais do mundo do que o próprio mundo seria capaz de dizer. Em ‘Temporada de furações’, conhecemos o vilarejo de La Matosa, lugar-símbolo de muitos lugares (inclusive brasileiros) onde resiste “uma dor pungente que se nega a se dissolver”, herança da miséria e da negligência, mas também de uma cultura violadora dos corpos, sobretudo femininos.

A violenta equação que envolve narcotraficantes, abuso de entorpecentes, homofobia, transfobia e outras toxicidades domina a narrativa, que tem início com a descoberta do corpo mutilado da Bruxa, personagem ora estimada ora vilipendiada pelos moradores de La Matosa. Melchor propõe uma “visão com” as personagens que se relacionavam de alguma forma com a Bruxa ou com os envolvidos no crime, mas nunca dá voz de fato à vítima, transformando sua figura, dessa forma, em uma quase-neblina. O livro é um triunfo de atmosfera, feita basicamente de crueldade humana, desejos reprimidos e a expectativa por novos ventos que solapem o terror cotidiano para o qual temos nos tornado cada vez mais insensíveis.

1º envio do clube @tortillalivros !
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Mari Pereira 25/04/2022

Devastador
Um livro devastador, que te engole e te arrasta para uma narrativa que te faz prender a respiração praticamente o tempo todo.
A cada página, uma camada se desvela e a trama ganha mais profundidade e complexidade. Forma e conteúdo estão tão bem articuladas que é como se não houvesse outra forma possível de contar essa história.
É um mergulho profundo na América Latina, mas daqueles tão profundos que não dá pra sair ileso, sem marcas.
Inebriante, avassalador, incrível!
Viva as escritoras latinas!
FlorCavalcanti 25/04/2022minha estante
Tu anda fazendo minha lista de leitura só crescer e crescer. God do céu?


Mari Pereira 25/04/2022minha estante
?




Debora 28/01/2021

Que furacão é esta leitura!
Faz umas horas que acabei a leitura é só agora tive coragem de vir para a resenha. Não é fácil falar sobre este livro. Os personagens são seres humanos habitantes de uma cidade pobre no México e seus arredores. Enfrentam muitas "faltas" em suas vidas. Sabe as páginas sangrentas de um jornal de 2a categoria? Pois Melchor as traz para este livro sem perder o ritmo de sua literatura. Ritmo alucinante, mas não por isso fácil ou rápido de atravessar.
A personagem em torno da qual as histórias giram não pode ser dita protagonista: dela, seus porquês e senões não sabemos nada.
Mas, a cada avanço da história, a cada capítulo, os personagens-atores vão se mostrando como humanos, com seus defeitos e qualidades.
Parafraseio Xerxenesky, no material que veio com o livro: "mesmo sendo impossível simpatizar com todas as figuras retratadas ali, ao menos reconhecemos sua humanidade e conseguimos compreender o que as tornou quem elas são". E isso não é pouca coisa!

Adendo à releitura em agosto de 2022: Ler de novo não tirou em nada a força do livro.
Aprofunda, isso sim, a falta de amor que é o motor desta história, a impossibilidade de amar.
De novo termino chorando e querendo dar um abraço no Avô que aqueles seres encontram no fim da vida - e do livro.
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Ivandro Menezes 25/01/2021

Entre fracos
Difícil achar o jeito certo de começar uma resenha sobre Temporada de Furacões. Talvez pudesse começar enfatizando a narrativa ágil, árdua, que demanda atenção a todo tempo, dada as várias perspectivas ou as tensões empreendidas pelo fluxo. Outra possibilidade seria abordar a fúria e continuo ódio nutrido pelas personagens postas em num lugar miserável, com vidas miseráveis, afundados na ambiguidade que os leva entre ser o que deve ser e o que poderiam ser. Não há espaços para dilemas, para afetos desnecessários, diante da pobreza só o pragmatismo é boa resposta.

A Bruxa, mais que uma personagem, é o epicentro de todo o livro. As mulheres desesperadas por feitiços de amarração, as putas em busca de soluções para seus abortos, os rapazes em busca de prazer e dinheiro fácil. Ela converge todos os olhares e desponta como o norte a apontar a direção de onde não se deve ir.

Contudo, nada é o que parece, e para realidades tão duras todo subterfúgio é válido: bebida, sexo, drogas, caraoquês, rezas e feitiços. Sem alguma forma de fuga, algum espaço interno e/ou externo de alienação, tudo seria demasiado insuportável.

A Bruxa assusta por sua liberdade, em constraste, com as vidas que a cercam. Um coxo, uma puta desiludida pelo amor, uma menina iludida por ele, dois jovens ardendo em fúria e desejo, uma outra vingativa por ter a própria vida desgraçada pela fidelidade a avó. Uma miríade de pessoas com cheiros, lágrimas e vidas tão parecidas com tantas que cruzamos pelas ruas.

As mazelas não são postas na chave fraco vs. fortes, mas a luta é entre fracos. O opressão se dá entre iguais e assombram como fantasmas, como vultos, febres, pesadelos. E todo resquício de esperança é logo esmagado pela violência da realidade.
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Barbara.Luiza 24/06/2021

Caça às bruxas no século XXI
Na cidade de La Matosa uma bruxa foi assassinada, é temporada de furacões e a violência move e varre a cidade. Se o centro do furacão é o espaço mais calmo, aqui ele não existe.

Com uma narrativa ágil, fluída e impetuosa como os socos e chutes desferidos contra esse corpo de mulher, Melchor nos leva aos bares e estórias mais sujas da cidade. O ir e voltar da trama é como uma conversa entre os moradores da cidade em que os fatos inicialmente desconexos vão se tecendo e formando a narrativa de um assassinato.

Tudo o que existe de mais asqueroso e, talvez por isso, mais próximo do homem em seu estado natural, floresce por ali. Nesse espaço enraizado na violência contra mulheres e LGBTs. Na complexidade do homem que deita na cama e mata quem se deitou com ele.

Temporada de furacões é talvez o livro mais violento e mais difícil de se elaborar sobre porque trata o leitor como um observador paciente que encaixa as peças em um grande tabuleiro. Oferecer uma imagem de referência seria talvez estragar a brincadeira.

O arrebatamento que o livro nos proporciona fica na boca do estômago, não nos abandona. Vai direto pra lista de melhores do ano, melhores da vida!

🌪🌪🌪
✳️Curiosidades e adendos:

1️⃣ Em 2020, foi finalista do International Booker Prize.

2️⃣ O livro foi inspirado em um assassinato de bruxa que chegou a autora pelo jornal. Na impossibilidade de escrever um relato não-ficcional sobre esse livro a autora partiu para a ficção.
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Cristiane 03/10/2021

Temporada de Furacões
O texto sem parágrafos e poucas vírgulas faz com que você devore as páginas. Um grupo de crianças encontram o corpo mutilado da Bruxa. A partir daí o leitor conhecerá a versão de cada envolvido, conhecerá suas histórias, suas frustrações, seus recalques... A polícia não está nem um pouco preocupada em desvendar o assassinato quer se apropriar do lendário tesouro da Bruxa. É chocante constatar que o único consolo é a morte.
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Rodrigo1001 23/02/2024

Furacão categoria 5 (Sem Spoilers)
Título: Temporada de Furacões
Título original: Temporada de Huracanes
Autor: Fernanda Melchor
Editora: Mundaréu
Número de páginas: 216

A escala Saffir-Simpson é usada para dar a estimativa do potencial risco de danos esperados durante a passagem de um furacão. Consiste em uma classificação que vai de 1 a 5, baseada na velocidade máxima sustentada dos ventos.

Na lata, te digo: o livro "Temporada de Furacões" está na categoria 5.

Representa, basicamente, uma devastação total.

Inflamado ao extremo e explorando as irracionalidades por trás de atos desesperados de barbárie pura, ler este livro é como estar preso em um pesadelo onde você perde a noção de tempo e de espaço enquanto ele tece um retrato cruel de um mundo comovente do qual nunca gostaríamos de fazer parte, mas que todos sabemos que existe. Você simplesmente desaparece.

Com agilidade magistral, a história voa através do tempo, das mentes e dos diálogos dos personagens. Esquisito de início, o estilo de leitura pede atenção total e irrestrita, já que não apresenta os sinais de pontuação a que estamos acostumados. O estilo de escrita e a linguagem, na verdade, são tão coléricas e difíceis quanto a história em si, descortinando uma realidade sombria onde não há, absolutamente, nenhum lugar para qualquer resquício de esperança.

Passada a estranheza inicial, o livro se desenvolve em fragmentos. E, embora tenhamos aprendido que o trágico não vem em conta-gotas, aqui tudo vem em fragmentos - não só a tragédia, mas também o entendimento, já que as peças vão se encaixando pouco a pouco.

Enfim, de alertas, fica a nota de que o livro é recheado de palavrões e sordidez em um nível raro de se ver na literatura. Tudo te transporta a uma realidade medonha e repugnante, como uma intensidade sem precedentes. É cansativo, duro em imagens e eventos, e incessantemente soturno. No entanto, tudo isso pareceu intencional e, surpreendentemente, nada gratuito. A prosa da autora é fantástica e o tradutor merece 5 estrelas (deve ter sido extremamente difícil de traduzí-lo e Antônio Xerxenesky fez um trabalho absolutamente excepcional).

Ainda assim, porém, é magistral.

E é magistral porque é importante conhecermos profundamente o mundo em que vivemos, o belo e o feio, para desenvolvermos a empatia pelo próximo.

De tanta feiura, fica a cargo do leitor extrair o belo, mesmo que mascarado por uma densa nuvem de desesperança e puro horror.

Leia com moderação e se prepare bem, pois este livro vai balançar as suas estruturas.

Leva 5 de 5 estrelas.
edu basílio 23/02/2024minha estante
suas resenhas causando terremotos em nós aqui.
algo em torno de dez graus na escala richter. ?


Rodrigo1001 24/02/2024minha estante
Esse livro me chacoalhou tanto, mas tanto, que não havia como dar menos de 5 estrelas. Fui a nocaute, Edu!




SimoneSMM 27/02/2022

Crianças encontram um cadáver boiando num rio, reconhecem a mulher que chamam "bruxa". A partir deste fato, Fernanda Melchor, vai nos guiando pela vida das pessoas do povoado, seus segredos, seus ódios e amores.
Uma narrativa intensa, impetuosa, com cenas fortes, sentimentos arrebatadores, violentos, árduos.
Num texto que quase não tem parágrafos, somos levados como num turbilhão, ou num furacão de palavras e fatos, em que não há certo ou errado, mas humanidade, ambiguidade, miserabilidade e, de vez em quando, esperança.
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Thami 26/07/2023

Livrão dolorido, mas maravilhoso! Apaixonada na escrita da autora! Tem uma crueza que somente a latina América pode nos mostrar e ela está aqui nesse livro!
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Bruno Oliveira 23/11/2021

UMA SARAIVADA À MEXICANA
Temporada de Furacões, de Fernanda Melchor é daquele tipo de livro que te instiga, ao ler sua sinopse, e que te surpreende (positivamente), conforme você o lê. Seus temas são pesados, sua linguagem também, mas é no estilo, é no modo como a autora constrói a história que o torna uma experiência literária que poucos, muito poucos, leitores apreciarão: os capítulos, as partes do livro são compostas por um único parágrafo interminável! E isso é demais!! Não só porque casa perfeitamente com o título da obra, como também faz o leitor se embrenhar nesse fluxo giratório, atordoante e cada vez mais frenético que é esse mundo cruel, horrível e degradante lá contido no livrinho, e que é contado por mais de um personagem. Aliás, sobre esses, vale dizer: não há inocentes; ninguém lá é santo, são só demônios muito humanos que vemos nessas páginas de (quase) desesperança.
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Lú Ribeiro 22/11/2022

Violência gera violência...
Um livro denso, que aborda muito a questão da violência sob vários aspectos. Possui uma narrativa inteligente, não linear. "Forçando" o nosso raciocínio.
Indico a leitura.
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Zanucoli 07/01/2023

Que porrada
Vou usar uma fala de Franz Kafka para tentar explicar a sensação de ler esse livro.

?Penso que devemos ler apenas os livros que nos ferem, que nos apunhalam. Se o livro não nos acorda com um golpe na cabeça, por que o estamos lendo, então? ... nós precisamos dos livros que nos afetam como um desastre, que nos tormenta profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como ser jogado em uma floresta isolada de todos, como um suicídio. Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós.?
Franz Kafka
Fabiana.Amorim 02/03/2023minha estante
Uau. De que livro a citação?




Diego Rodrigues 14/11/2023

Vidas despedaçadas
Publicado originalmente em 2017, "Temporada de Furacões" se tornou um fenômeno da literatura mexicana contemporânea e causou certo furor quando saiu por aqui, em 2021. Dotada de uma narrativa cortante e sem fôlego, a obra nos conta a história do vilarejo ficcional de La Matosa e seus habitantes desgraçados. A trama tem início com a descoberta de um cadáver putrefato, boiando às margens de um rio desolado. O corpo pertence à Bruxa, uma figura cercada de misticismo e que frequentemente era alvo do preconceito e da violência do povoado. "Quem teria matado a Bruxa?" Essa seria a pergunta primordial em torno da qual desenvolver o romance, certo? Seria, se essa fosse uma história policial...

Ao longo de oito capítulos vorazes, Fernanda Melchor destrincha a trajetória daqueles que, de uma forma ou de outra, estão ligados ao assassinato. Vidas despedaçadas que se entrelaçam num elo de miséria, dor, ódio e violência. Uma corrente sem fim que não parece nem um pouco disposta a deixar essa terra maldita e que é capaz de perdurar por gerações. Esse é basicamente um livro sobre violações. Violação sexual, de direito, de liberdade, de infância. Violação de tudo quanto é jeito. Violação de vida, acima de tudo.

A narrativa, próxima a um fluxo de consciência, se dá no melhor estilo Saramago - isto é, sem parágrafos. Mas isso não é mero artifício estético. É preciso dar cadência. Mas que cadência se da quando se trata de assassinato estupro vício raiva sangue dor morte preconceito abandono hipocrisia descaso? É uma história que tem urgência em ser contada e que, quando começar a ser, descamba para o desespero. É como forçar alguém a reviver um episódio traumático. A coisa sai, como se quisesse ser expulsa, simplesmente é vomitada. Sai como um furacão.

Latina, é uma obra que, apesar da distância geográfica, conversa muito com o nosso contexto. Basta ligar no noticiário ou até mesmo olhar ao redor para ver dramas parecidos com os relatados aqui. Dramas esses, aliás, inspirados em fatos, como explicado pela própria autora ao fim do livro. É uma leitura que provoca sentimentos complexos e conflituosos. Se por um lado a leitura é repleta de passagens indigestas e dolorosas, por outro é extremamente envolvente e viciante, do tipo que a gente lê uma palavra e fica completamente preso ao livro - muito por conta desse fluxo narrativo. Como pode uma coisa provocar asco (pelo tema) e fascínio (pela forma como é contada) ao mesmo tempo? Enfim, coisas da literatura...

Ah, acho que nem preciso falar dos gatilhos óbvios, que são: todos.
Leitura nem um pouco indicada para leitores mais sensíveis!

site: https://discolivro.blogspot.com/
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Thayssa.Tannuri 13/06/2023

Um livro que definitivamente não é para estômagos fracos. Sinceramente não recomendo se estiver em uma fase emocionalmente frágil e se violência (especialmente contra mulheres, abuso, misoginia e homofobia também) são gatilhos. Digerindo ainda.
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Isa 28/09/2021

Forte, indigesto e necessário
Leitura forte, com passagens agressivas e extremamente profundas. Uma leitura difícil de tão indigesta.
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