Rhuan Maciel 25/07/2022
Apesar de saber muito pouco da teoria psicanalítica e ela ser amplamente utilizada na construção do saber teórico do livro, a leitura foi muito esclarecedora e importante. Desse modo, a obra delimitou muito bem a ação do neoliberalismo como criador e gestor so sofrimento psíquico, debatendo com os conceitos de liberadade da escola de chicago e outros autores que pautam o debate atual.
Em segundo plano, vale ressaltar o grande papel da ideologia e a maneira como ela se infiltra na psique das pessoas, subjetivando conceitos neoliberais. Isso acarreta no adoecimento mental sem que se perceba que interiorizou essas ideias. Por esse motivo não é possível dissociar a economia neoliberal da psicologia neoliberal, uma vez que esta é necessária para a validação daquela, dominando os indivíduos psicologicamente, fazendo-os achar que a realidade e a verdade são as verdades neoliberais. O ser humano aqui enxerga-se como uma empresa, em que seu sucesso e sua falha dependem apenas de si mesmos, ou da maneira que a “empresa” foi gerenciada. Essa mentalidade exaure a culpa do Estado e do sistema, transpondo-a para cada pessoa individualmente.
Outro ponto importantíssimo é a discussão sobre a maneira como a psiquiatria e a psicologia moderna tratam o tema, já que não procuram ser etiológicas e acabam por fazer o que o mercado farmacológico quer. Essa questão transformou a psiquiatria em apenas uma tratadora de sintomas, uma máquina de receitar farmácos. Entretanto deve-se citar que os autores não estão atacando o uso de medicamentos, mas apenas criticando o uso de medicamentos como único fim do tratamento, o que acaba colocando o adoecimento mental como um simples mercado, em que sua propagação traz mais lucros. Dessa forma, quanto mais pessoas forem diagnosticadas com algo, mais vantajoso é para a big pharma. Isso lembra bastante o conto de Machado de Assis, O Alienista, que reflete sobre a definição de loucura e leva Simão Bacamarte a prender toda cidade na Casa Verde. Basicamente, algo muito similar acontece na realidade, em que o diagnóstico é feito com critérios condescendentes aos interesses de quem financia, assim é favorável que todos possam ser encaixados com algo.
Além disso, existe a tentativa de tornar inúmeras doenças mentais como consequência exclusivamente biológica, o que sabe-se não ser uma verdade (ou pelo menos não é provado de forma alguma), embora seja muito propício para a conjuntura do mercado neoliberal. Portanto é inexorável a volta da procura pela causa do sofrimento psíquico, buscando fugir dessa ideia de enhancement humano que assola o consciente do mundo inteiro.
Com tudo isso posto, e sabendo que não contempla tudo que foi debatido no livro, urge a necessidade de disputa nesse campo que cada vez mais se emaranhou com a perspectiva neoliberal. Por isso cresce a responsabilidade de luta contra esse sistema e essa ideologia, as quais apenas reificam o ser humano em todos os níveis possíveis, acarretando um grande sofrimento e sendo um empecílho na vida humana.