Helder 03/06/2023A procura de uma identidade.Mais um livro que engana.
Um livro curto, parece uma história e uma escrita simplista, mas quando volto atrás para pensar no que li vejo que não é bem assim.
O livro parece ser feito em cima de dúvidas. Sempre a procura de respostas. No texto e até na estrutura narrativa.
A única coisa certa é que Fatima Daas é a última filha. A mazoziya. A caçula.
Como ela nos diz, nascida por acidente e de cesariana na França Católica, mas filha de Argelinos Muçulmanos.
Já começa aí uma busca por identidade, pois não conhece a cultura Argelina, já que foi a única pessoa da família a nascer na França, mas também não se sente completamente francesa, pois seus pais insistem em viver em bairros habitados majoritariamente por imigrantes.
Também não se sente 100% muçulmana, pois seus pais não frequentavam tanto as mesquitas, mas o bairro onde escolheram viver era majoritariamente muçulmano e as vezes o pai decidia pregar a palavra usando o corão.
Mas suas maiores dúvidas dizem respeito a sua sexualidade, pois desde pequena sabe que não se interessa por meninos e ao crescer caiu no dilema: é possível ser uma lésbica muçulmana?
É triste ver o quanto ela busca ajuda na religião para deixar de ser uma pecadora, refletindo até em atitudes homofóbicas. E como contar isso para sua família?
Mas a cereja do bolo de todo este processo de autoconhecimento é a técnica narrativa encontrada pela autora. O texto poético e fluido, às vezes me lembrava um rap, outras vezes uma oração. E sempre a repetição ao início de um novo e curto capítulo, como se fosse o refrão de uma música: Eu me chamo Fatima Daas. Como se precisasse provar sua história para alguém.
Ler este livro foi como sentar em um bar com Fatima e deixar ela me contar sua vida, da maneira mais sincera possível.
Um belo livro.