J. Silva 11/03/2024
A mosca e outras histórias ?inacabadas?
A mosca e outras histórias é mais um daqueles livros que chegaram até minhas mãos por acaso. Na busca de um livro para colocar em minha pasta, para leitura entre um fórum e outro, encontrei essa pequena obra escondida numa prateleira. Foi uma feliz descoberta.
Até então eu jamais tinha ouvido falar em Katherine Mansfield, escritora neozelandesa de contos, vítima da tuberculose, aos 34 de anos de idade. Em razão de sua curta existência, muitas biografias afirmam que Mansfield ?viveu pouco, mas deixou um belo registro sobre a vida e suas sutilezas do cotidiano. ?
A mosca e outras histórias dão conta justamente desses retratos do cotidiano, narrando pequenas passagens dos personagens, que são pessoas comuns, vivendo vidas comuns e experimentando sentimentos comuns. A exemplo disso, são contos que tratam da solidão, do tédio, das pequenas felicidades e conquistas e, em sobremaneira, dos conflitos domésticos, a que todos estamos sujeitos.
Em meu ponto de vistas, os contos retratam a vida como ela é. Logo, o leitor não deve esperar grandes emoções ou reviravoltas e, tampouco, debates aprofundados sobre personagens e as situações que vivenciam. Até porque, a vida nem sempre é um encadeamento de grandes emoções, na maior parte do tempo lidamos com trivialidades, tédio e uma rotina incansável.
O ponto alto da obra foi descobrir a escrita de Mansfield, uma escrita refinada e graciosa. A autora consegue com simplicidade, tornar situações comuns em excepcionais.
A crítica fica apenas em relação a editora Lafonte, que descuidou na consideração com seu público. O título honesto para a obra deveria ser A mosca e outras histórias ?inacabadas? ou ?inconclusas?. A partir do momento que a editora omite a informação de que a grande maioria dos contos não foram concluídos, acaba, de certa forma, a conduzir o leitor a erro e confusão.
Isso sem contar que, alguns contos de tão inacabados impedem que o leitor imagine o desfecho da história. Ao invés da editora repartir os contos em três livros, deveria ter sido mais escrupulosa na seleção dos textos, permitindo que o leitor tivesse contato com a obra completa. Por isso, ouso afirmar que se alguém não gostou do livro foi por conta da editora e não pela obra em si.
Como a escrita da autora é fabulosa, irei num futuro próximo adquirir outro livro de contos, mas, dessa vez, de uma editora séria e preocupada com seu público e com o legado de seus escritores.