Annie 10/10/2011Simplesmente lindo!TE AMO , TE ODEIO, SINTO TUA FALTA
Comprei esse livro na Bienal do livro sem conhecer qualquer outro trabalho da autora. Antes havia lido alguns parágrafos do ebook, para saber se o estilo iria me interessar. Pareceu àquela época interessante, porém eu não esperava que iria ler em 4 horas, divididas num intervalo de um pequeno cochilo. A arte do livro está linda! Gostei da tradução e a revisão do livro foi bem feita, tendo pouquíssimos erros a serem reparados. Achei a letra um pouco pequena, o que incomoda para quem faz leituras noturnas como eu.
A história é contada a partir de um diário ou um caderno (que é o que parecia aos outros), escrito por Amy que tem 16 anos e está para ter alta da clínica Pinewood. Você precisa entender que Amy não é louca, nem é uma viciada...mas ela perde o controle de sua própria vida quando sua melhor amiga morre num acidente de carro depois delas saírem de uma festa. Amy se sente tão culpada pela morte de Julia, que não consegue seguir adiante.
Como uma forma de terapia, começa escrever cartas para Julia...São conversas que ela teria com a amiga, contando tudo o que tem acontecido. Exceto que Julia está morta e aquelas cartas nunca passarão de um monólogo. A alta da clínica, a volta para casa com os pais (que nunca pareceram perceber sua presença até o dia do acidente), a volta ao colégio, a necessidade de conviver com outras pessoas...tudo é descrito em detalhes por ela. Tudo tem como ponto de referência o dia do acidente. Tudo escrito falando quantos dias ela se passaram sem Julia. Todo o processo de recuperação e readaptação de Amy é acompanhado por Laurie, sua terapeuta – não por opção de Amy, como fica claro.
Eu fiquei presa na história e nas dúvidas de Amy, que não eram estúpidas ou infantis: eram genuínas. Quando lemos aquelas palavras percebemos sua dor e desespero. O desconforto causado pelo ‘repentino’ interesse dos pais é algo muito intenso durante todo o livro, e foi colocado de forma muito real nos relatos de Amy. Ela diz “Queria acreditar que mamãe e papai estavam esperando e queriam mesmo me ver. Pensava que aquela parte minha, aquela que queria que eu, minha mãe e meu pai fôssemos uma família, não o que realmente éramos, ou seja, eles de um lado, eu do outro, havia desaparecido” e você entende o que isso causa ela nela.
A escola também não foi fácil, com todos aqueles olhares curiosos, conversas sussurradas depois que ela passava pelas pessoas e o mais difícil: o antigo armário de Julia. Julia sua melhor amiga, aquela que sempre estava ali para ela, que sempre estava disposta a se divertir, que sempre tinha uma resposta inteligente e uma forma incrível de viver a vida...e que estava morta.
Em alguns momentos Amy pára de se dirigir a Julia e escreve apenas como se quisesse colocar para fora o que estava pensando. Não que isso importasse, mas ela precisava contar, nem que fosse para as folhas de papel o que ela pensava, o que ela via e o que ela sabia que todos pensavam, mas ninguém tinha coragem de falar na cara dela.
Com o passar das páginas, as sessões com Laurie se tornam mais intensas, as respostas mais amarguradas e novos questionamentos aparecem. Quem Julia realmente era para Amy? Por que Julia tinha agido de tal forma? Por que ela amava um traste mentiroso que sempre traía ela? Por que ela morreu? Por quê? O amor e o ódio criam uma tênue linha enquanto Amy escreve seu diário. Ela se revolta e se ressente, arrependida do que havia falado, não ter falado, de ter feito ou deixado de fazer algo. Ela se perde e tenta se reencontrar tantas vezes que você não consegue deixar de sentir aquele transbordar de sentimentos que ela, suplicante, deixa transparecer.
É um livro lindo e triste. Não que seja do início ao fim algo que vai lhe deprimir. Não vai. Você sentará para ler, pensará em quem você chama de melhor amigo/amiga e em tudo o que vocês já viveram juntos. E talvez você sinta uma leve tontura se perguntando o quão amigo/amiga você foi daquela pessoa, e o quanto vocês entenderam do que é realmente ter uma amizade. No fim de tudo, quando você ler o último parágrafo, o que você vai descobrir pode te surpreender. Ao menos para mim funcionou desse jeito...
"Lamento pelo que fiz, e você sabe disso, não sabe? Deve saber. Mas J, você...Você sabia, não é? Naquela noite, quando você não queria deixar Kevin na festa, sabia o que aquele garoto havia feito. Agora entendo o significado do que você disse no hospital, J. Por que não disse nada naquela noite? Por quê?"
"Eu nunca vou conseguir beber normalmente. Não quero isso para mim. Quando penso em bebida, é o alívio que estou buscando. Não preciso beber para enfrentar meu dia, para ignorar os problemas, ou porque sinto falta do álcool propriamente dito. Quero beber porque não quero ser quem eu sou. Meu problema, minha doença, sou eu mesma, e parei de beber porque Julia morreu e eu queria sentir exatamente quem eu sou. Queria lembrar o fiz."