Otávio - @vendavaldelivros 28/12/2022
“Não é que alguém imagine que a lei é justa. Todos sabem que há uma lei para o rico e uma para o pobre.”
Existe a lenda de que grandes escritores escrevem tudo bem, até bula de remédio. Claro, não é assim que funciona e grandes autoras e autores tem sempre a chance de escrever livros ou textos ruins, mesmo quando suas obras são magníficas. É nítido, porém, que a chance de um grande autor escrever textos diferentes bem é maior. George Orwell é prova disso.
Nunca havia lido ensaios ou qualquer texto de não-ficção de George Orwell, apenas os já clássicos “A Revolução dos bichos” e “1984” e me surpreendi positivamente com o que encontrei nos quatro ensaios publicados no livro Por que escrevo. Só um autor com imenso talento é capaz de fazer com que fiquemos presos na leitura de um ensaio que analisa o momento, a política e a mentalidade da Inglaterra do começo dos anos 40.
Iniciamos com o ensaio que dá nome à seleção de ensaios, em Por que escrevo, Orwell fala sobre as motivações que o levaram a ser um escritor e que, no geral, também guiam outros escritores. Apesar de curto, o ensaio é espetacular, envolvente e mostra com clareza o engajamento e as motivações políticas do autor. “toda vez que me faltou propósito político, acabei por escrever livros sem vida”.
No terceiro ensaio, Orwell analisa as relações da língua inglesa, suas mudanças e particularidades, com a política do país e confesso que foi de todos o que achei menos interessante. A seguir, o divertido e curto ensaio no qual o autor se propõe a comparar preços de livros e preços de cigarros, mostrando como era sim possível investir no conhecimento e nos prazeres dos livros em detrimento de práticas como o fumo. Ótimo para usar como desculpa para as compras de livros que fazemos hoje em dia.
Por fim, o último ensaio faz uma análise muito interessante da Inglaterra e do espírito inglês naquele momento. A Inglaterra tinha entrado de cabeça na SGM e Orwell fala aqui sobre os perigos do autoritarismo e sobre como seria possível que o país não se dobrasse ao fascismo. Curto, mas muito bom, recomendo demais a leitura para quem quer conhecer Orwell além de seus grandes romances.