Miguel.Moreira 31/12/2023
A Vida Intelectual & A Arte e a Moral
A Vida Intelectual – Antonin-Dalmace (Gilbert) Sertillanges
Sertillanges propõe uma obra para servir de guia à vida intelectual, no sentido de preparar o leitor para servir à Verdade, e pregar o Evangelho, já que o público-alvo é o leitor católico. Mas este fato não impede nenhuma pessoa sã de ler o livro, pelo contrário, há muito o que aprender com a obra de Sertillanges, que nos propõe a praticar o hábito do estudo, em especial o hábito da leitura (algo similar ao “Como ler livros” de Mortimer Adler, porém com uma abordagem totalmente diferente).
Para não me ater em resumir um livro como este, darei breves conclusões que tive ao decorrer do livro, e que podem servir de guia para quem ler esta bagatela que escrevo:
- Estudar todos os dias, nem que seja 2 horas: estudar pouco, de forma concentrada, e diariamente é mais desejável e proveitoso do que estudar muitas horas sem nenhuma concentração ou regra.
- Estabelecer horários de estudo.
- Administrar bem o tempo.
- Associar nosso aprendizado com uma descoberta da Verdade: sendo a Verdade soberana e única, devemos buscá-la através do estudo, e professá-la sempre que pudermos.
- Cuidar da saúde.
- Ter uma vida de oração.
- Pausas no estudo.
- Descansar (incluindo programar as férias de final de ano).
Com esses tópicos em prática, uma pessoa passa a ter uma virtude de organização e compromisso com a Verdade. Vale lembrar que o autor se baseou numa carta de Santo Tomás de Aquino “De Modo Studenti” (Do modo de estudar) a Frei João. Uma frase do remetente da carta que define muito bem a vida de estudos é: “deves optar pelos riachos e não por entrar imediatamente no mar, pois o difícil deve ser atingido a partir do fácil”; esta recomendação é justamente para mim, fazendo eu um exame de consciência, que muitas vezes me pego fazendo coisas demasiadamente difíceis, principalmente no estudo da Música e da Literatura. Muitas vezes eu compreendo a obra desafiadora para meu nível de conhecimento, mas às custas de muita dedicação e cansaço, e vou me vigiar para poupar tempo e deixar as coisas muito além do meu conhecimento para o tempo certo (a décima recomendação de Santo Tomás é “Não busques o que está acima de teu alcance”). Sertillanges desenvolve muito bem cada conselho e nos explica com muita clareza, praticamente como um manual.
Outra coisa que me marcou foi a nona recomendação de Santo Tomás “Não atentes a quem disse, mas ao que é dito com razão e isto, confia-o à memória”; hoje em dia as pessoas não se importam com a Verdade ou com o que é dito, mas sim por quem é dito, independente da índole. Bom, escrevo este texto mais para mim do que para os outros, meu objetivo é resumir de forma clara minha leitura e meus aprendizados (claro que muitas anotações estão no livro, e que revisitarei tais notas para pô-las em prática durante meus estudos que virão desde já).
Recomendo com todas as letras a leitura desta obra obrigatória, principalmente para pessoas que estão na mesma situação que eu (fazendo faculdade e odiando a falta de conteúdo decente, falta de moral, falta de ética, falta de amor Deus, falta com a Verdade, escassez de conhecimento por parte de muitos professores, não todos, mas muitos). Se eu depender da faculdade para aprender algo, estou lascado e atrasado por pelo menos quatro anos da minha vida, então busco na literatura formas de evoluir meu espírito e meu intelecto, para enfrentar esta jornada de conhecimentos específicos, para no final das contas conseguir um papel sujo de tinta com Universidade X ou Y. Acreditem, o conteúdo que este livro fornece é de extrema importância, o desafio será seguir à risca todas as recomendações, e manter a perseverança.
A Arte e a Moral – Antonin-Dalmace (Gilbert) Sertillanges
Neste pequeno livro com um título mais abrangente, Sertillanges se dedica, em especial, à crítica do nudismo nas artes plásticas, que em meados de 1899 (publicação desta obra), estava impregnada de imoralidade segundo Sertillanges. O autor defende que a arte deve exprimir algo além do físico, que nos faça alcançar a plenitude para nos aproximar do Criador através de uma apreciação artística.
Há uma problematização acerca da exposição do nu, que não é condenada por completo, mas que é um meio perigoso de expor a arte, pois o mundo da virada do século XIX para o XX estava ligado à devassidão. O nu em si mesmo é uma homenagem ao Criador, o homem antes da queda era um ser natural e sem nenhum pecado; o livre arbítrio e a escolha de Eva causou a queda do Homem, e a partir daquele momento, o Homem rompe com a natureza, pois adquire o conhecimento do bem e do mal. O perigo da corrupção de uma obra de arte retratando o nudismo está na inversão de valores e na intenção do artista, ainda que seja uma homenagem ao Criador, muitos espectadores se distrairiam com os detalhes do corpo e não alcançariam aquela plenitude almejada pelo criador, pois os receptores estão contaminados pelo pecado original e por uma devassidão da sociedade em que vivem (qual seria a reação de Sertillanges ao ver o mundo hoje em dia?).
O autor nos incita a buscarmos o belo, com ou sem nudismo. Um exemplo citado é a “Transfiguração” de Rafael, em que primeiro pintou Jesus nu para depois cobri-lo com as vestes brancas. A obra teria a mesma qualidade se mantivesse o nudismo, mas por uma escolha do pintor em manter primeiramente o compromisso com a mensagem e o valor cristão, Jesus foi coberto para que não haja nenhuma tentativa de distorção da obra.
Acredito que a obra deve ser lida por pessoas que apreciam a arte para pensarmos através da doutrina cristã, que hoje em dia é considerada como chacota, careta, antiquada. Concordando ou não com o autor, ele nos trás a ideia de negarmos às vontades da carne, que nos aproxima da vida animal irracional, e não de uma vida plena e de paz.
Adeus.