Monique 10/05/2022Gatuno italianoEspetaculare Meneghetti narra a história do italiano Gino Amleto Meneghetti, que desembarcou no Brasil na década de 20.
Meneghetti não viveu uma vida de luxo na Itália, o que o levou a uma vida de trapaça e furtos que já estava se transformando em um perigo para si e um transtorno para a família. Sendo assim, o rapaz conseguiu
abrigo na casa da madrinha em São Paulo. Conseguiu um emprego com suas
habilidades em carpintaria, mas sendo um anarquista que era, não tinha interesse em trabalho comum onde passaria toda uma vida de muito trabalho e pouco dinheiro, e logo cedeu novamente a suas também
conhecidas habilidades como gatuno.
Apesar de suas regras como: Só roubar dos ricos, não trabalhar com drogas, nem armas, não deixava de ser um criminoso. Gino
irritou uma grande parcela de ricaços poderosos, conseguindo entrar sem
ser notado e fugir com os bolsos carregados das casas dos ricaços da
época, ainda dando um olé em toda corporação de polícia. Na história diz
que ele foi uma espécie de Robin Hood da época, mas não mostra feitos caridosos de sua parte, pelo menos não na HQ, pois a madrinha recusa o dinheiro que diz ser sujo e também o amigo grevista que lutava para melhores direitos trabalhistas. Então, talvez no real life possa ter ajudado pessoas, mas não posso dizer com certeza, mas pelo menos não aceitava tirar dos mais pobres.
A HQ é muito bem narrada e muito bem ilustrada, mistura fatos reais dos "grandes
feitos" do ladrão e também tem uma liberdade criativa para acrescentar
trechos "fantasiosos", "licença poética" para compor o enredo, fato esse que me fez questionar o por quê de certos trechos terem sido retratados como
heroísmo e galanteamento, minimizando situações que estão longe de serem
aceitas. Como uma cena que mostra Gino
invadindo a casa de um dos burgueses importantes da época, e no meio da penumbra da noite, da de cara com a
esposa do homem, já alcoolizada e achando que o ladrão em questão era o seu marido, acaba mantendo relações sexuais com ele, e levando um susto
grande ao ascender a luz e ver um estranho no quarto. A cena tratada na
HQ como um feito de um galã, que chama o marido da mulher de Cornutto e
é elogiado pelos amigos com a frase "Além de roubar os ovos de ouro,
ainda comeu a gansa", pra mim não passa de um estupr* de vulnerável e
poderia ter sido mostrada de uma outra forma, que não engrandece o
ocorrido.
É de senso comum que em toda comunidade sofrida que a muito já não vê a policiais e políticos como heróis devido ao alto índice de corrupção(que se mantém até hoje), tende a se satisfazer em ver essa trupie de favorecidos se dar mal, mas isso não faz do criminoso um herói. O que lembra o que acontece nas comunidades dominadas pelo tráfico atualmente.
O castigo recebido aos anos na prisão prejudicaram sua saúde em larga escala, dos 40, 18 foram em uma solitária, sofreu os mais diversos tipos de tortura, o que foi uma pena grande demais para apenas um ladrão, castigo acentuado apenas por ter irritado as pessoas erradas e que tinham poder para determinar o que aconteceria com ele na prisão. Penso que se Gibi fosse um brasileiro comum, além de pobre, negro, sua pena teria sido ainda pior, em se tratando do período em que se passa a história, é algo a se pensar, infelizmente.