spoiler visualizarNico 28/01/2024
Para o adolescente gótico em mim não se sentir tão só
Para nós, adolescentes emo, góticos, introvertidos, pessimistas e ansiosos, esse livro é absurdamente fácil de se identificar. >Cuidado, identificação demais pode gerar gatilhos.
A autora escreve absurdamente bem. Ela usa palavras simples, de fácil interpretação, não escreve mais do que o necessário e mesmo assim, tem frases ou momentos durante a narrativa que eu me senti lendo uma poesia, tamanha a profundidade dos sentimentos que estavam sendo ali tratados.
Em dado momento do livro, a Eva, personagem principal, é descrita como uma pessoa que "sente demais" e a autora conseguiu passar isso na narrativa, tenho 0 queixas.
O livro trata de assuntos muito delicados. Abuso familiar, suicídio, depressão, ansiedade, mutilação, assassinato e não senti que foi irresponsável em momento algum.
É uma linguagem direta, mas respeitosa e cuidadosa. Mesmo assim, gatilhos podem surgir, como surgiram em mim, durante vários momentos em que Eva está se autodepreciando ou apenas afundando no abismo da ansiedade pessimista (to cá embaixo, amiga).
É claro que preciso falar do plot do livro e do mistério envolvido, é bom? Não é? Então vamos:
O livro é separado em três partes e mais dois contos extras -que são momentos da vida contados pela perspectiva de outros personagens da história (Guilherme e Talita).
Na primeira parte do livro, a gente está tão confuso quanto a própria Eva, descobrindo a história enquanto ela tenta reconstruir a narrativa dentro das memórias que perdeu. É, de longe, minha parte favorita, porque é nessa parte que existe o real mistério:
Até que ponto todas as mortes envolvendo a mesma pessoa deixavam de ser coincidências e quem eram as outras pessoas, além da própria Eva, que poderiam estar envolvidas nesses eventos?
Alex claramente seria um suspeito interessante. Em um livro em que a garota tem lapsos de memória , de repente, ela conhece um cara que parece ja ter conhecido antes, mas não lembra de onde. Weird.
Eu fui com essa intuição, mas ao mesmo tempo, tanta coisa passava pela minha cabeça. "Tem mais gente envolvida?" "Ela é uma vítima de alguém que quer foder com ela ou ela é um efeito colateral em algo maior?" E , principalmente "e se foi ela mesmo?"
> sigam essa lógica. A Eva dissocia, não lembra de coisas por um tempo. Tempo suficiente para ela mesma -no caso a versão da voz que fala com ela- tomar controle das ações e fazer o que achar que tem que fazer. E a pobre Eva, segurando a arma do crime, nem estaria envolvida, conscientemente. Um alterego toma conta da Eva. Seria top.
Mas eu continuei preso na ideia de que Alex que era o criminoso por tras do rolê.
Minhas intuições estavam corretas porque a partir da segunda parte do livro não tem como negar o envolvimento de Alex em coisas que ele não deveria estar envolvido. Nesse ponto eu ja tinha associado Alex a Alessandro, irmão do primeiro amor de Eva. E aí tudo faz sentido e começa a ficar um pouco bem óbvio.
Não sei se a intenção era deixar óbvio a partir da parte 2, ou se só acontceu, mas eis o plot twist no leitor: nesse ponto você ja se empolgou com primeira parte da narrativa e você não vai parar até terminar de ler.
Resumindo, o plot é um pouco óbvio? Da metade pro fim é sim, absurdamente óbvio, mas não vejo como demérito quando alguma autora consegue construir uma narrativa genuinamente interessante e que se torna menos sobre descobrir o mistério e mais sobre companhar a Eva enquanto ela fazia suas descobertas.
Tendo sido proposital ou não, foi uma proposta narrariva que me agradou e fez bem o que se propôs.
Eu adorei! Vários quotes desse livro virão para minha vida.