Claudio.Kinzel 24/07/2021
É preciso arrancar sentido das pedras, sem enlouquecer
Pondé apresenta um farto repertório literário e filosófico para justificar a tese de que vivemos na era do niilismo, que é exatamente esta redução ao nada, o mundo desprovido de sentido, seja ele de ordem metafísica, através de religiões, ou mesmo de ordem cotidiana, com os valores sociais construídos ao longo de séculos corrompidos. A hipótese de Pondé é que a modernidade é sinônimo de niilismo, tendo como pano de fundo a ideia de "progresso" que se torna um dogma à medida que a humanidade evolui em seu conhecimento científico e na sua própria transformação em virtude da revolução industrial.
Dividido em três partes, sendo a primeira uma análise de como o niilismo se manifesta nas obras de escritores russos do século XIX, como Turgueniev, Tolstoi, Tchekhov, Gogol e Dostoievski. Na segunda, uma antropologia niilista, Pondé explora o pensamento de filósofos como Kierkegaard, Adorno, Cioran, Schopenahuer e Nietzsche, sendo este último talvez o único que propõe um antídoto ao niilismo através de sua visão de amor fati e superação de si mesmo, porém seu pensamento é explorado de forma superficial. Na última parte, reflexões contemporâneas sobre educação, família e capitalismo, onde ficam evidentes as consequências daquilo que Bauman chama de relações líquidas. Ao final, uma tentativa de enfrentar o niilismo baseada na filosofia de Camus, o filósofo do absurdo, na qual alguns de seus personagens representam formas de lidar com o niilismo: o depressivo niilismo (em Meursault, de O Estrangeiro), a consciência do absurdo em O Mito de Sísifo, a revolta em O Homem Revoltado e, finalmente, a quarta forma na qual a esperança parece fazer sentido, num mundo onde é necessário "arrancar sentido das pedras, sem enlouquecer".
Trata-se de uma visão interessante sobre um tema recorrente na filosofia, que abrange a sociedade moderna como um todo em suas mais variadas esferas, porém Pondé trata do assunto com o habitual academicismo presente em suas obras, não conseguindo formular uma frase sem citar uma referência, tornando, assim, a sua obra pouco original como se esperaria, já que parece que o próprio Pondé coloca-se numa posição passiva, incapaz de exprimir pensamentos próprios sobre o tema sugerido.