jota 29/10/2014Sarah e Emily: risos e lágrimasO mais próximo que cheguei da literatura de Richard Yates antes de O Desfile de Páscoa foi em 2009 quando vi o filme Foi Apenas Um Sonho, adaptação para o cinema daquele que é seu livro mais conhecido, Revolutionary Road, exatamente por ter sido levado à tela.
A respeito de Yates, o escritor Kurt Vonnegut escreveu que "Poucos homens, desde Flaubert, mostraram tanta simpatia por mulheres cujas vidas são um inferno." Li algum Flaubert mas apenas este livro de Yates; no entanto concordo que se você se esquecer de Yates, então parece que está lendo um livro não escrito exatamente por alguém do sexo feminino, mas por alguém que entende profundamente de mulheres. Não apenas sobre como elas se comportam, também sobre suas almas.
Exatamente como Flaubert fazia. Pelo menos o Flaubert de Madame Bovary ou da novela Um Coração Simples. E importante: isso não faz com que o livro interesse apenas às mulheres (Flaubert igualmente interessa a todos), mas a qualquer leitor que busca uma boa história para passar o tempo, se emocionar; aprender alguma coisa com ela; refletir sobre o que leu; enfim, tirar algum proveito dessas páginas muito bem escritas. E sem enrolação - o livro tem pouco mais de duzentas páginas.
Lemos aqui uma história até bastante simples. Acompanhamos durante cerca de quarenta anos a vida das irmãs Grimes, Sarah e Emily, que entram na vida adulta durante a II Guerra Mundial e daí passam por alegrias, dissabores, frustrações e traumas. E como parece acontecer com a maioria das pessoas de carne e osso, aqui também as decepções acabam predominando sobre os momentos felizes.
Às vezes você ri internamente, outras vezes se emociona aqui e ali e permanece do começo até o final sempre interessado no que Yates conta. A ponto da revista Time afirmar que O Desfile de Páscoa é uma obra "Vibrante e envolvente (...) um feito literário." E assim me pareceu mesmo.
Não resisti e transcrevo um pequeno diálogo entre as irmãs quando crianças; elas conversam sobre sexo. Emily, a mais nova, pergunta a Sarah, que lhe passava diversas informações sobre todas as coisas:
"E você quer dizer que eles enfiam dentro de você?"
"Isso mesmo. Até o fim. E dói."
"E se não couber?"
"Ah, mas cabe. Eles fazem caber."
"(...) Mas você disse que dói, Sarah."
"Bom, dói, mas é gostoso também."
Lido entre 27 e 29/10/2014.