spoiler visualizarMay 14/11/2021
Considerações Sobre a sequência de um dos meus livros favoritos de todos os tempos
Estava bem feliz quando terminei por ter achado o livro e por ter acabado. Não que a obra em si, no final, seja feliz. Ela dá uma guinada tão brusca no final que o leitor fica ????. Mas pelo menos Ari e Dante acabam juntos em um remake da cena do final do primeiro. Só que em Paris porque Dante foi à Paris porque passou em uma escola lá e Ari queria que ele fosse.
Mas enfim. Minhas impressões. Gostei do fato do início ser uma continuação literal com o final do primeiro. Eles estavam no deserto e, após isso, voltaram pra casa. E a história se desenrola daí, sem um plot definido.
Por continuar literalmente do final do primeiro, continuamos acompanhando a evolução do Ari com relação a si mesmo e, principalmente, sua família. Ele passou a estar mais próximo dos pais e amá-los de forma semelhante a que Dante amava os dele. Foi ótimo porque Ari conseguiu um porto seguro em meio a sua baixa estima e self loathing. Ao ter um relacionamento físico com Dante, ele passou a nutrir um desejo que não esperava. Vi pessoas reclamando do fato que Ari passou 150 páginas querendo transar com o Dante mas essas pessoas esquecem que ele é um rapaz de 17 anos. Ele admitiu para si mesmo que, de fato, amava o Dante e gostava de beija-lo e ter contato físico. Como os pais de ambos eram presentes, seria impossível fazer algo na casa de algum deles. Ao mesmo tempo que ambos admitiam que sofreriam por assumirem o relacionamento e sentiam medo, o desejo era claro e um dos tópicos necessários para serem abordados. Eu só senti medo de que algo semelhante ao primeiro livro ocorresse aqui também, do Dante levar uma surra ou algo do tipo. Não foi o caso pelo menos.
E aqui vem uma incoerência que me chateou. Como ambos os rapazes, que sentiam atração sexual um pelo outro, não descreveram o mínimo da primeira vez deles????? Não precisava ser como semantic error, por exemplo. Mas mostrar sentimentos como estranheza, nervosismo, expectativas adicionaria muito tanto para o Dante que gostava de pesquisar essas coisas, como para o Ari que estaria íntimo com outro homem. E a questão da AIDS??? Eu me recuso a acreditar que eles fizeram sexo penetrativo e foi de boas. Algo que bato palmas para semantic error é como há essa atenção ao realismo de como tudo ocorreu para Sangwoo. Ele queria dissipar o desejo dele e acabou se abrindo para essa experiência. Mas, no começo, foi algo que o incomodou grandemente. Questões como biologia, desconforto para ambas as partes, pedido pra parar até que o ato se tornou prazeroso. É, além de realista, importante para o desenvolvimento dos personagens. E como adolescentes, questões como sexo não podem ser tratado mera filosofia o tempo todo.
Por falar em falta de realismo, inclusive, queria tocar no ponto que mais incomodou as pessoas: como lidaram com a questão de racismo, feminismo e outros ismos. Não tenho lugar de fala para comentar muitos desses assuntos. Porém, algo nesse ponto também trata sobre uma incoerência dos personagens. Ambos são "intelectuais" e "filosóficos", além de minorias. Por isso, não faz sentido justificarem certas coisas de forma rasa por não terem se importado em pesquisar sobre o tema previamente (tanto Ari e Dante gostam de adentrar em conhecimento mais profundo e os pais do Dante são da área acadêmica). Isso enfraquece a trama porque mostra uma filosofia de boteco e rasa, que mais prejudica do que atrapalha.
Outros pontos que me desagradaram:
1. Introdução do Bernardo. Não queria mesmo que a narrativa trouxesse um arco de redenção para ele. Entretanto, seu aparecimento e diálogos são rasos e sem justificativa. Por que ele matou a mulher trans? Por que ele tem raiva dentro de si? Quê? Sinceramente
2. A morte do menino que apareceu uma vez sofrendo bullying: algo super vago. Ele foi defendido pelo Ari, não apareceu mais e morreu. Não fica claro se ele era gay ou só sofria preconceito mesmo e fica esse discurso de ódio, etc. O menino tinha 14 anos gente, wtf. É tipo o vídeo do Ben e Arthur no qual os caras falam que não faz sentido o irmão do Arthur matar um garotinho com uma arma porque ele parecia gay.
3. Inexistência de bissexualidade: Ari insiste que é gay do começo ao fim do livro porque namora o Dante. Eu achava que era uma questão temporal, de simplesmente não reconhecerem a existência da bissexualidade. Mas Dante pergunta sobre isso a Ari e ele nunca mais toca no assunto. Fica por isso mesmo. Não reclamo por não ter ficado clara a sexualidade do Ari mas porque era visível pelo primeiro livro que ele nutria sentimentos românticos e até sexuais por garotas. E tocar nessa tecla só porque beijou o Dante?
4. A introdução da Cassandra: ela nutria um ódio pelo Ari muito sem noção mas foi só ele dizer que era gay que ela virou bff do cara. E a trama depois deu espaço para conjecturar um triângulo amoroso entre ela, Ari e Dante. Só que isso foi abandonado, logicamente;
5. Algumas pessoas sem função na trama aKa Gina: Cassandra é a feminista madura, Susie é a feminista nutela, Dante é Dante mas qual é a função da Gina nesse grupo de amigos?
6. Partes que poderiam ser tiradas: não prejudicou minha primeira leitura mas, caso leia o livro de novo, com certeza irei pular muita coisa. As partes da escola e dos professores, por exemplo, Ari vendo Bernardo, alguns diálogos meh e por aí vai. Mas, caso eu leia o primeiro livro de novo, com certeza lerei o segundo por sua conexão direta com o primeiro.
Outra coisa que as pessoas reclamaram foi o fato de Dante não estar preparado para o relacionamento. Mas amados? Eles tem 16/17 anos! Desde quando gente de 16/17 está preparada para qualquer relacionamento? Especialmente um no qual eles se conheceram quando tinham 14/15 e foram o primeiro amor um do outro? Achei, inclusive, um ponto positivo o livro trazer um enfoque na família e em como se abrir para o Dante abriu a mente do Ari com relação às suas amizades. Foi o que aconteceu com Tsukishima Kei em Haikyuu, na minha opinião. Ele foi um merda na primeira temporada e em parte da segunda. Durante o summer camp, porém, ele teve a oportunidade de conversar com pessoas como Bokuto e Kuroo que eram de outros times e mais maduros do que os jogadores do Karasuno. Após a derrota contra o Aoba Jousai, ele não via propósito em se esforçar no time. Mas, após o diálogo com Yamaguchi, as primeiras pessoas que ele procurou foram os dois capitães. O diálogo e o treino mudaram sua perspectiva quanto ao vôlei, de forma que não melhorou apenas seu desempenho e o do time mas também o seus relacionamentos interpessoais. Tsukishima não tratava Hinata e Kageyama como imaturos mas eles conseguiam se entrosar. E tudo se encaminhou para a amizade que compartilharam no fim do mangá.
Ari era um cara que, após a prisão do irmão, se fechou para o mundo. O pai era fechado por causa de seus traumas e a mãe só fazia repreende-lo. Conviver com Dante e nutrir essa amizade com ele o fez perceber coisas sobre si mesmo e questionar a si mesmo e seus valores. Não é porque ele admitiu seus sentimentos que todos os problemas iriam, magicamente, desaparecer. Ari continuava tendo pesadelos, se odiando e questionando o futuro com Dante. O próprio Dante questionava o futuro dele com Ari porque sabia o quão diferentes os dois eram e como eles não iriam para a mesma faculdade! Mas Ari passa a entender que precisava parar de guardar tudo para si e que havia pessoas que o amavam. Isso o fez com que se abrisse e permitisse seu crescimento pessoal.
Porém, se você perceber, o mesmo não aconteceu com o Dante. Dante, apesar de social, não tinha amigos. Ele não se conectava com as pessoas de El Paso e achava o colégio que estudava um saco. Quando foi para Chicago, as pessoas eram mais descoladas e foi quando descobriu que gostava de garotos. Mas ficou feliz em voltar por causa do Ari.
Então as pessoas falam que apenas depois do relacionamento romântico entre eles que houve essa dependência. Mas a dependência existia desde antes porque Dante não tinha amigos e era apaixonado pelo Ari. Quando voltou, ficou com o Daniel mas levou surra por causa dele. Não tinha ninguém no time de natação por não se conectarem, o que o levou a sair do time e preferir passar tempo com Ari. Só que Ari não queria que ficassem juntos o tempo todo (por medo de serem descobertos ou por vontade de ter um tempo só pra ele). Logicamente, o relacionamento começou a rachar.
Somando com o fato do Ari ter arranjado amigas, sua provável bissexualidade, momentos com a Cassandra, quase não passarem um tempo sozinhos e também por terem planos diferentes e não conversarem sobre isso fez com que Ari evoluísse como pessoa mas Dante não. Sim, ele era talentoso artisticamente mas e seus próprios amigos? E seus propina hobbies? Isso fez com que Dante pensasse que Ari não precisava dele e o fez tomar a decisão drástica de partir para Paris. O que seria aceitável também porque nutrir um relacionamento a distância com o apego que o Dante já tinha seria difícil.
Mas o Ari nos surpreende e vai para Paris conquistar o Dante de volta. O que foi incrível considerando a evolução do personagem mas deixou várias perguntas. Como eles irão sobreviver depois desse final? E a faculdade?
É isso então. Daria de 3,5 para 4 porque eu amo o primeiro livro e ver esses dois personagens que amo me deixou feliz. Mas há essas ressalvas que me deixaram meio desapontada. Mas é assim mesmo. Gostei do livro de qualquer forma.