Resenhas - Dostoiévski

Valéria 01/09/2020

Hoje terminei de ler o último fragmento da biografia de Dostoiévski, um gênio instável, amargo e extraordinário, com quem encontro inexplicável e profunda conexão desde os meus 15 anos. São quase 2 séculos e mais de 10 mil km de distância e minha mente descobre a dele com a doce estranheza do ser inconvencional - para o inferno a normalidade!
Há em Dostoiévski elegância exuberante no jogo de palavras, há sofrimento exorbitante em cada frase em cada momento, que os desavisados dizem ser ficção, e nada mais são que a translucidez da alma humana. Há plenitude na vida real, há o racionalismo de mãos dadas com a fé. Há uma força desmedida pela livre escolha de crenças e valores, há a liberdade de se escolher ser quem se é. Há ainda a culpa e o martírio pelo que poderia ter sido (alguns podem pensar que a dor é pelo que foi, raramente é).
Seus relatos, essencialmente perturbadores levam sempre consigo um atrevido e ilusório fio de esperança, aterrorizando egos.
Minha recompensa ao longo destes anos lendo Dostoiévski, foi aprender as muitas peculiaridades do que é belo através de padrões, descobrindo o prazer em mostrar não o que eu sei, mas sim, como me faz sentir a descoberta de algo novo.
Dostoiévski me vem com maior intensidade à lembrança em dias de céu cinzento oscilando gotas de chuva e vento, fazendo lembrar que a vida nao é feita só de sóis. E nem por isso é menos bela.