Luiza Helena (@balaiodebabados) 29/04/2021Originalmente postada em https://www.balaiodebabados.com.br/A primeira coisa que você tem que saber sobre A Metade Perdida é: essa uma história que vai mais além do que a separação de duas irmãs. Brit Bennett escreveu uma história sobre racismo e preconceito, assim como família e aceitação.
O livro é dividido em cinco partes e navega desde os anos 50 até o início dos anos 90. Desiree e Stella são gêmeas, residentes da pequena cidade de Mallard. Em uma noite de festa, as duas decidem fugir da cidade e é em Nova Orleans que seus caminhos se separam: enquanto Desiree se casa com um negro de pele mais escura que a sua, Stella tira vantagem do tom claro da sua pele para se passar por branca.
Geralmente lemos histórias onde o racismo é feito de brancos para negros, mas aqui foi diferente. Mallard é uma cidade de população negra, porém negros de pele clara por conta da miscigenação dos habitantes. E por isso, qualquer negro que tenha a pele mais escura que apareça por Mallard é vítima do racismo originário de sua própria raça. Essa foi minha primeira experiência com o passabilidade e colorismo e foi bem marcante.
Desiree quebra a "regra" da cidade ao se envolver com um homem de pele mais escura. Ao voltar com sua filha para Mallard, a criança sofre todo o tipo de preconceito dos habitantes. Stella decide "virar branca", casa com um homem branco e tem uma linda filha loira, mas é atormentada e vive com medo de seu segredo ser exposto. Duas mulheres, duas vidas diferentes, mas ao longo do livro você vai descobrindo quem realmente pode viver sua vida por completo.
Mesmo separadas, a presença de uma na vida da outra é bem forte. O vínculo entre as duas foi quebrado no momento que Stella deixou sua irmã pra trás, mas ainda assim é como se elas ainda estivessem ligadas. O título do livro faz muito jus à relação entre elas, já sentem que perderam sua metade quando se separaram.
Gostei muito que a história não se prendeu somente às gêmeas. Lá pela metade do livro, a história foca nas suas filhas, Jude (filha de Desiree) e Kennedy (filha de Stella). Seus caminhos se cruzam por acaso e assim mais uma vez Stella teme por seu segredo. Jude tem um pouco mais de foco e desenvolvimento que Kennedy, justamente por ser uma negra se esforçando e correndo atrás de seu futuro.
O foco em Jude nos traz a Los Angeles nos anos 70, trabalhando um pouco do cenário LGBT+ da época. Há uma ótima representatividade trans e pansexual que era algo que não esperava de jeito algum e foi maravilhosamente trabalhado.
A narrativa do livro é um tanto monótona e sem muitos acontecimentos. Ainda assim é uma história que te envolve do início ao fim e tem um bom ritmo. Além do gatilho para o racismo, aviso também que pode conter gatilhos para violência doméstica e abuso. A Metade Perdida já está em pré-venda, com previsão de lançamento para o início de maio.
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